Ele estava sentado no banco do belo piano que ele sempre quis que fosse seu, porque era um daqueles que os pianistas clássicos mantinham longe dos palcos. Ele tocava Sonata ao luar, sua preferida de Beethoven, principalmente em dias tristes, sem brilho.
A melodia melancólica ecoava por toda a casa, o som suave das teclas do instrumento enchia seus olhos de lágrimas e apagava da sua mente seus pensamentos mais intensos e obscuros.
No canto direito do cômodo, frios e cegos olhos castanhos o observavam. Ele sentia como se eles acompanhassem cada movimento seu e como se eles criticassem e desaprovassem tudo o que fazia. Como ele queria que aqueles lindos olhos brilhantes vissem como a lua estava incrível naquela noite, mas estavam vazios, para sempre admirando o infinito.
Parou de tocar e tirou seus óculos para limpar, porque sua visão estava meio embaçada. Até que viu sangue. A marca vermelha era bem parecida com a dos óculos de John Lennon depois de ter sido assassinado. Era realmente assustador. Então olhou para o piano, cujas teclas brancas como algodão estavam agora tão ensanguentadas quanto suas mãos trêmulas.
Será que o que havia feito faria alguma diferença? Será que o mundo realmente se importaria com mais uma alma desesperada no meio de tantas outras?
A resposta nunca viria. Ele nunca seria capaz de retratar a beleza de uma noite banhada pela lua para alguém que jamais poderia ver.
Vida e morte para ele não existiam mais naquela sala, cujo odor fúnebre pairava no ar. Ele viveria o seu ultimo dia onde estivesse realmente se sentindo realizado. Ele nunca abandoaria sua música. Nunca.
E voltou a tocar.
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Psicodelicamente
General FictionAVISO: A história não está completa e eu tenho demorado bastante pra fazer atualizações porque não tenho tido muito tempo para me dedicar a ela, mas eu não desisti de escrevê-la :) "A minha consciência tem milhares de vozes, E cada voz traz-me milha...