"Você precisa ir embora. A Frida logo irá acordar."
- Você a sedou? O que deu pra ela tomar?
"Alguns calmantes apenas. Ela não vai morrer(não que isso seja ruim). Agora vai rápido!"
- Já estou indo, Nik. Até algum dia no futuro. E vê se não some de novo! - eu falava enquanto subia a íngreme escada de volta para a sala das janelas gigantes.
Como Nikolai havia dito, nenhuma das outras garotas notou a minha ausência. Elas nem perceberam quando eu voltei a limpar as janelas e quase quebrei uma delas. Todas pareciam estar hipnotizadas pelo que estavam fazendo, não interagindo umas com as outras e nem com o resto do ambiente. Eu tinha passado horas com ele que, para as garotas, sequer nem existiram.
Terminei o trabalho bem na hora que o alarme do almoço tocou, então logo fui para o refeitório, que estava praticamente vazio ainda. Peguei minha comida que, como sempre, não estava com uma cara nada boa e sentei em uma mesa isolada no canto do local.
Quando eu já estava quase acabando a refeição, eu vi uns cinco homens entrando pela porta do lugar. Três pareciam ser seguranças e os outros dois eram Nikolai e um cara que eu nunca tinha visto antes. Todos estavam muito bem vestidos e tinham um ar de superioridade, exceto Nik, é claro, que ficava me encarando com uma expressão que eu não conseguia decifrar.
- Olá senhoritas! O Sr. Kollantino não pode vir aqui falar com vocês por isso me mandou em seu lugar. Sou o que podemos chamar de vice-presidente de sua próspera e maravilhosa vinícola, me chamo Chambers. Vim para avisar a todas vocês que amanhã à noite acontecerá um jantar aqui nesta casa em comemoração ao aniversário da magnífica sobrinha do Sr. Kollantino, onde vocês terão a honra de servir nossos ilustres convidados até o fim da festa que tera duração indeterminada. Todas vocês, sem exceção, terão que comparecer a está festa com os trajes que o Sr. Kollantino fez questão de comprar e que serão distribuídos pela sua superior. Agora, adeus.
O homem parecia ter chegado em seus cinqüenta anos recentemente, tinha uma barriga considerável e provavelmente estava usando uma peruca. Era o que podemos chamar de tremendo bajulador e puxa-saco de seu patrão que com certeza devia tratá-lo muito mal. Uma pena, pois parecia ser uma pessoa boa.
Meu segundo turno foi na área cinco, e desta vez, eu estava encarregada de passar pano nos móveis, um serviço até menos pior, eu pensei. Só que naquela sala tinham muitos móveis e eles eram enormes e continham muitas prateleiras e gavetas para limpar. Foi um serviço em tanto. Eu não entendia como que as coisas naquela casa acumulavam tanta poeira tão rápido. Provavelmente devia ser por causa da falta de uso. Pela primeira vez, senti pena dos empregados da minha casa que tinham que limpar tudo sem a gente nunca usar. Que droga, eu era uma péssima patroa.
Mesmo com o dia desgastante que tive, eu não me importava com trabalhar em uma festa, desde que eles nos dessem pelo menos uma noite de descanso. Mas não foi bem assim que aconteceu, porque eles fizeram a gente cozinhar o resto daquela noite e todo o dia seguinte. Os grupos de garotas foram divididos em: decoração e buffet. Eu, como tenho uma sorte imensa, fui selecionada para o buffet, mesmo sem saber cozinhar.
- Gretta! Bate está massa mais forte e mais rápido! - jamanta berrava instruções de um lado para o outro.
- April se você queimar essa torta eu te arranco as tripas!
- Ei, você! Garota que eu não sei o nome! Sua incompetente, não sabe nem enrolar docinhos!
A voz daquela mulher era tão insuportável que fazia meus neurônios explodirem e meu tímpano doer. Eu nunca tinha cozinhado na vida, e o fato de ter que aprender sob pressão me deixava ainda mais nervosa. Nós não tínhamos noção da quantidade de comida que estávamos fazendo e nem da qualidade dela, mas mesmo assim aqueles doces me faziam salivar.
Depois de horas intermináveis fazendo bolos, tortas e docinhos que nunca iríamos poder comer, foi nos dado um descanso de apenas quarenta minutos, que seriam gastos com a gente vestindo as roupas excêntricas e desconfortáveis que tinham dado pra nós usarmos. Um vestido laranja cintilante com babados na saia e lantejoulas no corpete, que era tão apertado que me deixava com uma falta de ar absurda. Os sapatos, graças a Deus, eram mais confortáveis e discretos, porque acho que eles não queriam ver nenhuma garçonete desmaiar de dor.
- Coitada da Piper, esse vestido realmente não vai caber nela! - April disse, com pena da menina mais rechonchuda de todas nós, que teria que arrumar um jeito de colocar aquele vestido horrível.
- Verdade, mas eu também não tenho nenhum corpo de boneca, então vou sofrer junto com ela. Pra você é fácil, com toda essa magreza! - eu falei para a minha colega de quarto, que era magra como um palito de dente.
- É fácil ser magra tendo que comer está comida terrível por três anos! - nós rimos.
Me olhei no pequeno espelho que tinha no quarto e ouvi April gargalhar.
- O que foi? - eu disse.
- A sua cara quando se viu com esse vestido. Estamos realmente ridiculas. Estou com medo até de me olhar no espelho. - rimos de novo.
Eu pude ouvir o barulho dos primeiros convidados chegando para o aniversário. Era uma festa de quinze anos que seria comemorada no salão principal do castelo, na área sete. Eu nunca tinha ido lá, então estava louca para saber como era, as outras garotas diziam que era lindo e enorme.
Todas nós, em fila, fomos para a cozinha da área sete, onde foram dadas bandejas para cada uma com os tipos mais variados de doces e salgados que tínhamos feito com tanto trabalho. Por mais que eu desprezasse a família Kollantino com todas as minhas forças, eu estava até bastante ansiosa para ver o rosto do meu patrão pela primeira vez.
O salão principal era o maior que o já tinha entrado em toda a minha vida. Senti até uma nostalgia ao me lembrar de meus "anos dourados" na adolescência, onde eu costumava frequentar bailes como este. Estava impecavelmente decorado, com uns cinco lustres brilhantes cravejados com pedras preciosas e com cortinas cor-de-rosa de seda. Era uma overdose de rosa, literalmente, o que fazia nosso vestido laranja destoar completamente do resto da decoração. As dezenas de mesas estavam repletas de pessoas bem arrumadas e de classe, provavelmente conversando sobre assuntos que eu jamais entenderia. Tinha também um quadro gigante com o rosto da bela aniversariante pintado em tinta a óleo e uma orquestra completa com um dos maestros mais conhecidos do país. E no piano estava Nikolai, com um belo terno e sua típica gravata borboleta. Como sempre, estava concentrado no que fazia, nunca se preocupando com o mundo ao seu redor. Eu precisava ser mais como ele, mas eu tinha uma dificuldade enorme de focar nas coisas. Como naquele momento, que quase derrubei a bandeja no chão.
Acho que fiquei boquiaberta por muito tempo, porque senti April me cutucar para começarmos a servir as primeira mesas que estavam próximas de nós. Eu nunca fui uma pessoa que tivesse muito equilíbrio, então foi quase impossível andar pelo salão sem esbarrar em alguém, ainda mais com aquele vestido desajeitado.
Quando eu estava voltando da cozinha pela terceira vez com uma bandeja com um tipo de salgado que eu não sabia qual era, um homem surgiu no enorme palco onde Nik tocava piano. Era o mesmo homem que tinha nos avisado sobre a festa, mas agora com uma aparência bem melhor e com roupas muito caras.
As luzes se apagaram no salão, exceto no palco, e todos os convidados e garçonetes, inclusive eu, pararam para ver o que ele iria falar. A aniversariante, sentada em um majestoso trono bem no meio do palco, sorria como se não houvesse amanhã. Seu vestido rosa era brilhoso e bufante, parecia um bolo de casamento. Mas eu não via o Nik e nem o Sr. Kollantino. Aonde será que eles estavam?
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Psicodelicamente
General FictionAVISO: A história não está completa e eu tenho demorado bastante pra fazer atualizações porque não tenho tido muito tempo para me dedicar a ela, mas eu não desisti de escrevê-la :) "A minha consciência tem milhares de vozes, E cada voz traz-me milha...