Capítulo Treze

123 15 8
                                    

Aquela simples frase me doeu como uma facada nas costas. Essa era, com certeza, a pior hipótese que, na minha limitada imaginação, eu poderia levantar. Sei que pode parecer exagero toda essa aversão à Klaus Kollantino, mas nada do que eu já havia escutado sobre esse homem era, digamos assim, "positivo" do ponto de vista humano. Só elogios devido à sua inteligência e à suas estratégias econômicas. Tudo que diziam sobre ele era que tratava as pessoas muito mal, não tinha a menor intenção de produzir herdeiros legítimos e era conhecido por trapacear e subornar sempre se saindo impune. Sem falar nos sumiços misteriosos de suas empregadas e na maneira nada convencional que fazia negócios.

Mas nada dessas coisas me pareceu o Will que eu havia conhecido naquela semana. Por mais que tivéssemos passado pouco tempo juntos, só pelo modo que ele falava e escrevia, eu já podia perceber que era uma pessoa sensível e poética. Pareço uma boba falando, mas eu realmente tinha gostado do sujeito, me identificando com cada parte de sua alma que pude conhecer. Nunca havia sentido esse tipo de conexão antes, mesmo com a minha facilidade em me apegar às pessoas rapidamente. Tudo que tinham me dito sobre Klaus Kollantino e tudo que eu havia 'conhecido' sobre ele me fez, por um momento, acreditar que ele é Will eram indivíduos completamente distintos que nunca haviam se encontrado. Isso me deixava confusa, mas ao mesmo tempo furiosa, sentimento que não era tão incomum para a minha pessoa principalmente em situações como essa.

Logo depois desse fatídico momento, onde Klaus disse aquela pequena frase de efeito, voltamos para a carruagem, que nos esperava em frente ao belo teatro. A minha vontade era de socar aquele lindo rosto dele, xingá-lo até a quinta geração e depois dizer para ele que nunca mais queria vê-lo, uma cena típica de peças românticas. Mas eu simplesmente fiz uma cara de donzela desolada e não disse uma palavra. Acho que causou muito mais efeito.

Sentada no banco macio do mais sofisticado meio de transporte que o Sr. Kollantino podia pagar, ao invés de me desfazer em lágrimas, minha vontade predominante naquele momento, apenas o ignorei toda a viagem de volta para o castelo. Eu me sentia traída, usada e enganada. Tinha sido feita de boba pelo manipulador mais charmoso do país enquanto acreditava na idiotice de ele realmente gostar de mim. Eu nunca acreditaria que podia ser tola a esse ponto, sempre fui uma garota forte. A minha maior decepção naquela hora não era com Klaus, era comigo mesma.

Quando finalmente chegamos à gigante construção de pedra, senti que as lágrimas já haviam escorrido sem eu perceber. Entrei pela porta dos fundos sem olhar para Klaus. E pensar que já tínhamos quase nos beijado há alguns minutos atrás. Eu devia ser muito ingênua mesmo. Quis voltar para o meu quarto, onde April provavelmente me aguardava acordada, como uma mãe esperando que seu filho volte do trabalho em segurança. Mas, antes disso, eu precisava confrontar Nik. "Como ele me deixou sair com aquele homem sabendo que era Klaus Kollantino!? Que tipo de amigo ele era?" - pensei. O motivo da minha raiva tinha passado de Will para Nikolai em uma fração de segundo.

Fui até um dos quartos e entrei pela antiga passagem secreta que levava aos aposentos dele, a única de que eu me lembrava. Mas o quarto estava vazio, não se via Nik em canto algum. Sei que isso parece bastante errado, mas, me aproveitando da situação, resolvi bisbilhotar. Eu sentia que havia alguma coisa estranha naquele castelo, principalmente no quarto de Nikolai. O problema era que eu não sabia o que procurar, pilhas de livros e de partituras inacabadas preenchiam o lugar, tornando tudo um grande emaranhado de folhas bagunçadas, o que fazia minha busca não específica ser ainda mais difícil.

Tentando encontrar algo útil, fui entrando cada vez mais fundo no quarto, que era com certeza maior do que eu pensava. Quanto mais eu andava, mais forte eu escutava o barulho do líquido viscoso correndo em algum lugar no subterrâneo do castelo. Eu estava morrendo de curiosidade, mas ao mesmo tempo estava com muito medo do que poderia encontrar.Até que eu senti dedos ossudos puxarem meu braço.

- Nikolai, você me deu um susto! - eu pensei que pudesse ser a Frida. Ele começou a puxar meu braço bem forte.

- Calma, Nik! Você está me machucando! - eu disse, enquanto ele me puxava até o núcleo principal do quarto dele. - Posso andar com as minhas próprias pernas!

Ele me colocou sentada em cima de sua cama, e se sentou ao meu lado. Ele era bem mais forte do que parecia. Tirou um de seus papéis do bolso e um lápis também. Sua expressão estava severa, ele não parecia nem um pouco feliz. Eu fiquei me perguntando o que poderia ter acontecido.

"Pra quê veio aqui?" - a caligrafia dele tinha melhorado muito, agora dava pra entender perfeitamente tudo que ele escrevia. Mas eu estava brava demais para elogiá-lo.

- Vim tirar satisfações! Você sabia que o "Will" era Klaus Kollantino esse tempo todo! Por que não me disse!? Eu confiei em você, Nikolai. Esse homem é sujo!

"O que eu podia fazer? Você parecia estar toda apaixonada por ele. E ele havia me pedido para não contar nada. Aquele homem é meu chefe, devo obediência à ele."

- Mas nós somos amigos! Você poderia ter pelo menos tentado me dizer indiretamente! Ele me magoou! - Nik parecia estar com um pouco de ciúme, mas fazia de tudo para disfarçar.

"Me desculpe, Gretta. Mas não teve jeito." - Nik me dirigiu um olhar frio. O Fantasma nunca havia me olhado daquela maneira. Ele estava diferente.

- Eu devia ter desconfiado de você desde o início! Não é nada além de um lacaio do Klaus! Fui boba em pensar que poderíamos ter sido amigos! Adeus, Nikolai.

Nessa hora, eu levantei da cama muito irritada e voltei ao meu quarto, tentando fazer o mínimo barulho possível. Agora eu me sentia ainda mais traída. Aquele tempo todo confiando nele era só uma maneira podre de Klaus me vigiar. Eu não conseguia me decidir qual dos dois era pior.

Enquanto passava pelos corredores do castelo, novamente esbarrei com aquele homem estranhamente familiar. Mais uma vez ele murmurou algo que nao entendi e saiu de perto de mim a passos apressados. A primeira vez que eu o tinha visto, ja fazia mais de uma semana, ele não devia ser só um convidado, devia morar no castelo. Fiquei curiosa a respeito dele e fui dormir pensando em tudo que tinha acontecido naquela noite. Decepção demais pra engolir.

Quando fui tomar café no dia seguinte, notei que todas as criadas estavam me encarando de um jeito pior do que nas minhas primeiras semanas no castelo. Observavam cada passo que eu dava, cada palavra que eu falava com as únicas delas que pareciam ter se tornado minhas colegas. Imagino que elas tenham descoberto que eu estava saindo com o "Sr. Kollantino". É esquisito ter que pensar nele dessa forma. Eu tentei ignorar os olhares curiosos das meninas e prestar atenção na conversa das pessoas na minha mesa.

- Souberam da Piper? - Gina, a ruiva, se referia à menina mais tímida de todas nós.

- Não, o que houve? - perguntou Victoria.

- Ela foi pega tentando fugir. - Gina continuou.

- E com o jardineiro. - falou Daria.

- Jardineiro? Pra mim o único homem que trabalhava aqui era Nikolai, digo, o fantasma. - eu respondi.

- Existem outros homens aqui, riquinha, mas parece que você só conhece o Sr. Kollantino. E muito bem... - Joyce surgiu do nada e sentou ao meu lado na mesa. Eu e April trocamos olhares nervosos. Eu não havia dito pra ela que eu tinha descoberto a verdade, mas ela sempre sabia de tudo.

- A vida pessoal de Gretta não nos interessa... E voltando à Piper, ela fugiu porque estava grávida dele! - Daria disse. Ao mesmo tempo que eu estava me sentindo aliviada por terem mudado de assunto, fiquei apreensiva e curiosa para saber o que acontecia com as grávidas. April não abria a boca.

- Nossa! E o que houve com ela? - perguntei.

- Não se sabe... Só dizem que quem tenta fugir, principalmente nessas circunstâncias, nunca mais vai embora daqui.

PsicodelicamenteOnde histórias criam vida. Descubra agora