Acordei com uma dor absurda nas pernas, provavelmente por causa do trecho que eu tive que andar na madrugada anterior. Demorei um pouco para recapitular o que tinha acontecido na noite passada e como eu havia chegado no quarto de Nik, mas logo lembrei de tudo quando vi seu rosto confuso me encarando. Era engraçado o quanto tínhamos nos tornado próximos em tão pouco tempo.
Quando ele finalmente percebeu que eu tinha acordado, sentou-se em sua escrivaninha e fingiu que estava ocupado com algo. Ele realmente não devia estar acostumado com pessoas, principalmente em seu quarto. Parecia ser um homem muito solitário e triste, ainda mais com a dificuldade que tinha de se comunicar com os outros. Acredito que tivesse em torno de trinta anos, mas com aparência de vinte e poucos. Eu estava muito intrigada sobre diversos aspectos de sua vida, como sua família e seu passado, mas ele não parecia o tipo de homem que gosta de falar sobre si mesmo, então eu nunca perguntei.
Levantei de sua cama e lhe dei um bom dia bem alegre, o qual ele respondeu com um sorriso tímido. Por mim, eu ficaria naquele quarto o resto do dia, sem ter que me preocupar com nada além da letra feia de Nik. Mas eu sabia que isso não seria possível.
Em cima da escrivaninha dele tinha um aparelho que eu não via há muito tempo, um velho relógio. Isso pode parecer bobo, mas eu sentia uma imensa falta de saber as horas e do seu tick-tock. Ainda era de madrugada, quatro da manhã, e eu poderia voltar para o meu quarto em segurança, mas provavelmente não dormiria de novo. Pelo menos Frida finalmente tinha parado de pegar no meu pé e nem perceberia se eu estivesse um pouco mais cansada para trabalhar durante o resto do dia. Eu vi Nik escrever no seu bloco de notas.
"Você pareceu abalada ontem à noite, o que aconteceu?"
- Eu tive alguns problemas com as outras meninas. Uma longa história que você não vai querer saber.
"Na verdade, quero sim. Eu não converso muito com ninguém e minha vida é bastante tediosa. Mas se tu não quiser contar eu te entendo..."
- Tudo bem, eu te conto. Mas primeiro, o que você fez para o café da manhã hoje? Estou morrendo de fome! - ele apontou para uma mesa num canto do cômodo. Tinha pão, um pouco de café e bolo de chocolate.
Me sentei e comi muito bem, era a melhor refeição que eu tinha feito em algum tempo, então tinha aproveitá-la ao máximo.
- Você realmente é um cozinheiro de mão cheia! - eu disse e ele sorriu.
Enquanto eu comia, vi Nik escrevendo algo em uma folha em branco que não fazia parte de seu bloco. Como em tudo o que fazia, estava muito concentrado, nada podia lhe desviar a atenção. Eu gostava de observá-lo, ele era fascinante, pois fazia tudo com paixão e vontade.
- O que está fazendo aí? - perguntei, cutucando seu ombro. Ele logo escondeu o papel e balançou a cabeça.
- Qual é, deixa eu ver! - eu disse. Balançou a cabeça de novo, com mais força. - Tá bom então! Eu só queria saber o que você estava fazendo... Não fique chateado! Tenho que voltar para o meu quarto agora, depois a gente se vê.
Sem fazer nenhum ruído, voltei para as minhas acomodações, esperando não acordar uma April de ressaca. Mas, assim que entrei pela porta, ela estava sentada no beliche me aguardando.
- Está mal de mais para me dar uma bronca? - perguntei, debochando. A garota estava com uma cara péssima.
- Você é maluca?! Voltar para cá sozinha na chuva e no escuro?! - parecia realmente furiosa.
- Eu não aguentava ficar mais lá com aquelas meninas e aqueles bêbados!
- Mas você podia simplesmente ter falado comigo!
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Psicodelicamente
General FictionAVISO: A história não está completa e eu tenho demorado bastante pra fazer atualizações porque não tenho tido muito tempo para me dedicar a ela, mas eu não desisti de escrevê-la :) "A minha consciência tem milhares de vozes, E cada voz traz-me milha...