Fazia um tempo que não nevava naquela cidade. Mesmo sendo inverno, o qual costumava ser rigoroso com o lugar, já era possível ver algumas das folhas das árvores menores e até um pouco de grama brotando na terra.
Eu nunca fui uma pessoa que gosta muito de natureza e muito menos de frio. A minha irmã mais nova que costumava todos os dias ficar olhando a floresta que cercava nossa casa pela janela. A garota esperava ansiosa pelo sol, uma das suas coisas preferidas depois da sua coleção de discos e bonecas.
- Gretta! Acorde! - ela gritou, jogando almofadas em mim.
- Precisa ser agora? - eu disse, com um dos meus travesseiros na cabeça.
- Sim! Venha ver o sol!
- Dane-se o sol. Eu quero dormir, Liz!
- Você é muito sem graça mesmo! Anda, levanta! Papai está chamando lá em baixo. - essa era a desculpa que ela costumava dar quando queria me ver acordada.
- Eu não caí nessa, mas vou descer, de qualquer maneira. Estou com uma fome de matar.
Amarrei meus cabelos castanhos-escuro em um coque, e coloquei o primeiro vestido que vi no armário. Eu estava me sentindo horrorosa! Minha pele sempre fora pálida como a de um defunto. Então passei uma quantidade um pouco mais do que exagerada de maquiagem e fui para o andar de baixo. A minha casa era toda em um estilo vitoriano, que era a moda na época, e tinha um numero incontável de quartos. Eu nunca entendi o por quê de ter que dividir um com a Liz. Chegando no primeiro andar, onde eram feitas as refeições, topei com um homem que, pelo que eu me lembrava, nunca tinha visto na minha vida.
Logo quando me viu na escada, o rapaz se levantou e ficou me esperando com uma expressão digna de risadas. Na verdade, tudo nele era digno de boas gargalhadas, porque vestia um terno azul-marinho brilhoso, arrumado demais para a ocasião e um cabelo emplastado de gel, que com certeza era de má qualidade. Sem contar a cara do sujeito, que parecia uma tartaruga com herpes.
- Gretta, esse é o Senhor Greene. Não seja mal educada, venha cumprimentá-lo. - minha mãe disse, com um olhar que indicava: "esse é rico". Nunca soube o motivo de meus pais quererem sempre me casar com homens ricos, sendo nós uma das famílias mais prósperas da cidade, com todas as donzelas inúteis e burras atrás dos meus irmãos. A propósito, eu tenho três: Plínio, Terence e Derek. Ao contrário de mim, todos eram morenos e fortes, tinham puxado o meu pai. Eram realmente bonitos, quase tanto quanto eu. No momento, eles estavam na universidade, que era bem longe de onde nós morávamos. Meu sonho, estudar e ficar o mais longe possível daqui.
- Nossa, a filha de vocês é mais bela do que eu esperava! - a tartaruga com herpes disse.
- E é uma dama muito bem educada. - meu pai respondeu, com um falso orgulho.
Ignorando a presença indesejada do senhor Greene, me sentei à mesa com meus pais, que provavelmente haviam despachado a Liz para não atrapalhar o passatempo preferido deles: me empurrar para um desconhecido vindo de uma família com posses, e comecei a comer como um lenhador da floresta, o qual minha mãe julgava ser desprezível. Deliciei-me com a refeição preparada pela cozinheira da minha casa, a melhor da cidade, enquanto dava boas risadas com a reação do sujeito, que ficou horrorizado com os meus modos de " dama".- Nossa! Isso está tão gostoso! - eu disse alto e ainda mastigando um pedaço de bolo de chocolate.
O homem não disse uma palavra e começou a brincar com um guardanapo só para não ter que ficar me olhando.
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Psicodelicamente
General FictionAVISO: A história não está completa e eu tenho demorado bastante pra fazer atualizações porque não tenho tido muito tempo para me dedicar a ela, mas eu não desisti de escrevê-la :) "A minha consciência tem milhares de vozes, E cada voz traz-me milha...