"Amar. Todos dizem que é o que nos move, todos dizem que a vida só é perfeita e completa quando se ama alguém, quando se tem um companheiro. Mas eu nego. Pois ainda não estou pronta para amar, não estou pronta para conhecer essa parte tão doce e amarga da vida. Conhecer o mundo é só o começo."
Qual a melhor coisa a se fazer numa sexta-feira a noite? Creio que meu conjunto de cama, pijamas, café e um livro que beira a "Autoajuda" não seja a opção convencional para alguém de 21 anos. Bom, era assim que eu vivia a vida de universitária durante os finais de semana: absolutamente sozinha. Coincidentemente igual a como me sentia.
Eram 19 horas e um livro chamado "Conhecer O Mundo É Só O Começo" descansava no meu colo depois de longas horas sendo devorado. Ainda não tinha minha opinião formada sobre ele, apenas que eu me identificava, e muito. A verdade é que eu não tinha uma opinião formada nem de mim mesma. Tomei algum tempo reparando em como a frase "Ainda não estou pronta para amar" se encaixava na minha vida, eu passava tanto tempo sozinha, e não me incomodava com isso: a minha própria companhia nunca deixara de ser o suficiente. Eu sentia como se houvesse ainda tanta coisa a aprender, tanta coisa para conhecer antes de se prender a um amor, que chegava a estranhar quando uma amiga dizia querer se apaixonar novamente. Afinal, que graça tem em se apaixonar? Chorar por alguém que aparentemente não te percebe, ter crises de arritmia ao vê-la, sentir-se ansiosa a todo o momento e não conseguir se desprender de um único pensamento não me parece uma boa experiência, ainda mais contando com a dor de uma possível perda ou traição.
Definitivamente, com esses pensamentos, eu não estava pronta para amar, e provavelmente nunca estaria. Quem sabe depois? Depois de viver, depois de conhecer o mundo, ou de até de me conhecer. Eu tenho tanta coisa na cabeça, que um fardo tão emocionalmente grande como o amor me destruiria. Bom, se eu tiver a minha "alma gêmea" em algum lugar por ai, é bom que ela me espere.
A única coisa que queria naquele momento era que a minha vida continuasse exatamente daquela forma: Com os meus amigos, meus estudos, meu apartamento pequeno e meus pensamentos. Que eram por vezes alegres e por vezes deprimidos. E era melhor que eu parasse de pensar em amor antes que eles se deprimissem completamente.
Fechei o pobre livro com alguma agressividade, cansada de tantos pensamentos daqueles. Terminei o café e abri meu notebook, tornando a minha noite muito menos educativa. Alertei-me ao ver uma mensagem de um amigo meu.
"Hoje, as 21 vou me encontrar com uns amigos, queria que você viesse também! Naquele mesmo bar que sempre te digo! (por favor, vá desta vez)"
Fitei a janela semiaberta, que por ela passava um vento frio de fim de tarde. Se eu estava disposta a abandonar a minha cama, minhas roupas confortáveis e meu café quente para sair na rua gélida e socializar com pessoas que mal conhecia, num ambiente cheio e barulhento?
Sim. Eu não tinha absolutamente nada de mais útil para fazer.
Levantei-me já lamentando, imaginando quantos seriam os novos –e temporários- amigos do tão popular Diego, que mesmo depois de tudo continuou com a nossa amizade. Eu nem queria ver como seria aquela noite.
.............
Meia noite e meia. Nunca fiquei tão aliviada ao ver a minha cama. Não que a noite tivesse sido ruim, foi até que considerável.
Anda lá... Foi muito divertida.
Cheguei no local marcado e ainda eram 20:55 , o vento que entrava pelas mangas da minha blusa de couro me fez me arrepender da decisão de ir. Comecei a pensar na possibilidade de voltar imediatamente para casa quando alguém chegou atrás de mim.
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Samantha
RomanceSamantha não acredita em paixões incondicionais, amor a primeira vista ou almas gêmeas. Desde que foi obrigada a enfrentar velhos sentimentos e viver novas experiências sozinha, a última coisa que a machucava era a solidão. Seu foco e suas certezas...