Capítulo 13- Fugas Alcoólicas nº 2

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Olhei a volta. Estavam todos a se divertir tanto e conversar entre si que nem notavam ou imaginavam o que estava acontecendo. Saltei para fora da piscina e fui até onde ele estava, numa área alta e íngreme do gramado, sem tirar os olhos da mata a nossa frente. Ignorei o fato de que o sol ardia em minha pele e segui, receosa.

-Está tudo bem?- Coloquei a mão em seu ombro, seu corpo ainda estava molhado.

Ele segurava uma lata de cerveja e dava um gole de vez em quando, eu não fazia ideia de onde ele a tinha tirado. Ele parecia calmo.

-É só uma besteira, não há com o que se preocupar.

-Eu sou sua amiga, estou aqui, é claro que vou me preocupar. – Sentei na grama, ao seu lado, forçando meu lado mais compreensivo.

Ele olhou-me e sorriu de canto. Sorriso adorável a que fui apresentada aquele dia no bar mas que não demorou a sumir.

-Não adianta vir com esse sorrisinho fofo achando que assim vai se livrar de mim!– Falei tentando descontrair a situação, mas ainda mais apreensiva que nunca. Ele soltou uma risada sincera e meio nervosa, e passou a olhar diretamente para mim. –É alguma coisa comigo, Samuel? Eu falei algo que não devia?

-Não é nada contigo, Samantha, é sério. São sentimentos do passado, a sensação de culpa por fazer e sentir certas coisas, sendo que não faz sentido nenhum sentir isso. Mas logo passa, eu já disse.

-Isso aqui está incrível, estamos nos divertindo tanto, não é? Não há motivos para pensar em qualquer coisa ruim que seja.

Recebi como primeira resposta um suspiro impaciente e instantes de silêncio.

-Acontece que você me remete tais coisas. Os momentos em que mais nos divertimos me remetem tais coisas. Como posso não pensar nisso quando há algo bem a minha frente me fazendo lembrar de coisas que eu quero esquecer? – Ele declarou sem hesitar, num tom não agressivo, mas nervoso . Permaneci em silêncio, tentei entender, mas não consegui.

-Eu não sei.- Murmurei. -Me desculpe.

Os braços e pernas do Samuel expressavam uma ansiedade que eu nunca tinha visto. Ele apoiou o cotovelo em sua perna direita e levou a mão até a altura de sua boca. Enquanto encarava a grama, esfregava o polegar no canto de seu lábio inferior repetidamente.

-Não há o que se desculpar porque não é sua culpa. Não é culpa de ninguém que eu ainda carregue as merdas do meu passado.

-Posso ficar longe se quiser.

-Não quero isso, nem nada disso. Só esqueça, ok? Não convém falar destas coisas aqui então esqueça, por favor.

Foi a minha vez de ficar impaciente e um tanto nervosa, mas sabia que não era certo insistir. Observei por alguns instantes seu cabelo cacheado voltar a sua forma natural à medida que secava sob o sol, e aquilo me fez sorrir um pouco.

Levantei-me e estendi as mãos para que ele fizesse o mesmo, resolvi abraçá-lo e repetir mais uma vez que estaria ali sempre. O medo de perder mais uma pessoa importante encheu minha cabeça novamente.

Passei pelo Diego sem mal conseguir raciocinar, a ponto que só o vi e notei que ele falava comigo quando já estava metros a frente.

-Vai me ignorar mesmo, Samantha?- Ouvi de longe e virei-me para ver o que estava havendo.

Ele respirou fundo não satisfeito com o meu aparente mau humor, e continuou falando de forma sarcástica:

–A sua educação já foi melhor.

-Eu definitivamente não tenho paciência para ouvir a sua voz agora.- Esbravejei dando-lhe as costas de novo, e pude sentir os olhares de um ou outro que tomaram as dores dele.

SamanthaWhere stories live. Discover now