Capítulo 7- Memórias Não Laváveis

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Certo tempo após estar quase me afogando em tantas coisas que nem deveria pensar, fui obrigada a voltar a realidade. Os meus dias podiam estar desastrosos, mas quis tentar não estragar o de mais alguém, aproveitei que aquele dia tinha começado bem e tentei dar-lhe uma chance de assim permanecer. E mesmo depois de um longo dia com a faculdade me consumindo, pessoas perguntando sobre as enormes bolsas sob meus olhos e outras elogiando meu trabalho -que, aliás, fez-me agradecer mentalmente ao Samuel pela ajuda, diversas vezes no dia- e de ligações ignoradas do Diego, o que já não era incomum, consegui chegar a casa a noite e cumprimentar o Paulo com um sorriso no rosto.

-Você deve estar tendo uma ótima noite, não?- Pensei alto vendo que Clarissa não estava em casa, e em todos os cômodos via-se roupas e maquiagem espalhadas. Senti saudades da minha amiga, já que boa parte dos dias ficávamos ocupadas demais para conversar.


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Rumo ao mesmo lugar, mesmo horário e objetivo dos últimos anos, porém dessa vez com uma contagem de horas de sono bem maior e um humor não tão mal, sai de casa em plena segunda feira de sol. Ter passado o final de semana em casa fez um enorme bem para mim, ficar sozinha era o que recuperava minhas baterias.

A saudade dele já me devorava de dentro para fora, já eram quase três semanas sem vê-lo e eu pensava ser tempo o suficiente para aquela angústia passar, mas não resultou. A vontade de tê-lo por perto só aumentava, e a cada dia que passava eu sentia que estávamos nos afastando e isso era desesperador.

O Semestre estava acabando, e junto com isso a decisão de que alunos da universidade ocupariam as poucas vagas para a transferência. Por meses, tentava ser o suficiente mas parecia que ninguém me enxergava naquele lugar. Passei a tarde tentando ser o mais dedicada a aula possível, esperando receber o convite que todos ali falavam e eu, secretamente, tanto almejava.

-Sam? – Uma voz ecoou no meu ouvido. –Samantha!

Tirei os fones de ouvido rapidamente e vi que era só a Clarissa me chamando como se o prédio estivesse pegando fogo, eu estava tão concentrada na leitura que não vi nada ao meu redor.

-Desculpa... Aconteceu algo?- Perguntei enquanto memorizava a página do livro que estava lendo e o fechei.

-Eu quem pergunto!- Ela disse incrédula. –Você está fora da terra há dias!

-Ah, não é nada. – Resmunguei. –Eu só estou meio afastada para não enlouquecer.

Olhei para o meu celular pela centésima vez naquele dia, o Diego não tinha ligado ou mandado mensagens ainda, só não sabia se isso era bom ou ruim. Talvez fosse melhor que ele tivesse desistido logo de mim, mesmo que Pensar nessa possibilidade me fez querer chorar ali mesmo.

-Então, vamos embora? Já esta tarde e eu tenho fome.- Clarissa disse irritada, parecia que eu não era a única a ter um mal dia, tive de ser egoísta em pensar que não tinha condições para lidar com outros problemas.

-É, claro... Vamos.- Murmurei.

Passando pelo portão de saída, vi na rua um carro conhecido, e ao lado, uma pessoa com cabelos ondulados, num tipo de topete despenteado e uma blusa preta que eu conhecia muito bem. Apoiado no capô, com as mãos no bolso e o rosto sério, lá estava quem eu menos esperava encontrar ali.

-Clarissa, vem aqui agora!- A puxei para perto de mim, tentando me esconder de alguma forma que fosse.

Eu já não conseguia respirar normalmente, meu coração parecia estar logo na minha garganta. Ela olhou para trás e entendeu minha reação.

SamanthaWhere stories live. Discover now