Capítulo 16- Inflamáveis

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Desci as escadas e passei pela cozinha sentindo o cheiro de comida que fez com que eu salivasse. Do lado de fora a grande maioria se divertia próxima a churrasqueira desligada ou dentro da piscina, me aproximei de uma espreguiçadeira mais afastada e encontrei o Samuel deitado, dormindo disfarçadamente pos trás dos óculos escuros. Enterrei os dedos em seus cachos bem definidos num tipo de cafuné que o fez acordar, assustado.

-Com sono, Samuel?- Perguntei de forma sarcástica, rindo. -Não dormiu bem a noite?

-Só estou descansando os olhos.- Ele tirou os óculos revelando as olheiras.

Ele deu espaço para que eu sentasse ao seu lado e tomei a liberdade de deitar a cabeça em seu ombro, sentindo os olhos pesarem também.

-Me lembre de nunca mais sair no meio da madrugada.

-Pode apostar que eu lembrarei.- Ele disse. -O Diego está bem?

-Está ótimo.- Falei rapidamente.

-Você está bem?- Dessa vez a pergunta se referia ao meu tom de voz usado na frase anterior.

Vi o dono do assunto andando próximo de nós e desviei o olhar, me aproximei mais e acomodei-me melhor em seu ombro. Ele sorriu. Vi pelo canto dos olhos o Diego nos encarar e revirar os olhos. Sorri.

-Sim.

Fechei os olhos sentindo o perfume da camiseta do Samuel misturado ao cheiro do cloro da piscina, e a forma como aquilo me agradava. Eu não temia me viciar naquele aroma, nem tinha medo de me tornar dependente da calma que ele me trazia. Estar ao seu lado não despertava nenhum sentimento corrosivo, talvez apenas algumas ideias bagunçadas, porém inofensivas. Eu começava a achar que nunca o entenderia por completo, mas era a dúvida e o desejo de o descobrir mais que não me deixavam me afastar.

Aquele dia se passou mais rápido do que qualquer outro, e assim que me dei conta já era noite e eu tinha passado a tarde cochilando pelos cantos e conversando com o Samuel, rindo com a forma que aquilo incomodava o Diego. Depois de jantarmos qualquer coisa, surgiu a ideia de se fazer uma fogueira no quintal, mas de forma que não queimasse a grama, o que parecia ser impossível. Minutos depois, encontrei no meio de uma roda de almofadas no chão, uma churrasqueira de ferro sem as pernas, com folhas secas, carvão e vodka sendo usados para criar a chama alta e digna de uma fogueira real. Sentei em uma das almofadas, sem estar perto de alguém específico, e apreciei a música que o Augusto dedilhava em seu violão e cantava para si.

Alguém que já não estava mais sóbrio inventou um jogo para divertir a noite, brincadeira que me lembrava os tempos de escola. Cada um de nós receberia um número, e num sorteio, a pessoa que pegasse o número da outra teria que fazer a ela uma pergunta relacionada a amizade entre ambos. Se a resposta fosse errada, a penalidade seria um beijo em algum lugar do rosto do amigo. Pensei em sair da roda e me excluir da brincadeira, mas lembrei que haviam mais homens do que mulheres entre nós e isso tornaria a coisa engraçada. Eu não participaria de fato.

-Mas tem que ser necessariamente no rosto?- A Ana, incrédula com as regras do jogo tentou contestar.

-Ninguém estará te impedindo de beijar alguém na boca!- Outro respondeu, me fazendo rir antes mesmo do jogo começar.

Mesmo com as minhas recusas e argumentos para não entrar no jogo, entregaram-me um papel com um número em caneta preta. O escondi entre as mãos e torci para que o jogo acabasse antes de chegar a mim. Durante alguns minutos gargalhei com perguntas e respostas entre os amigos, que já nem temiam ter de trocar beijinhos, de tanto que tinham bebido naquela noite. A pequena caixa de madeira finalmente chegou em minhas mãos sem que o meu número fosse citado, e passei os dedos pelos pequenos papéis dobrados com receio de quem seria, e pensando em como eu queria que, de alguma forma, não fosse ninguém.

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⏰ Last updated: Mar 31, 2017 ⏰

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SamanthaWhere stories live. Discover now