Capítulo 8- 17:17

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-Eu não acredito que vocês fizeram isso!- Gargalhei alto junto a Samuel, que mal conseguia contar a história de tanto rir.

-Sim, nós fizemos!- Ele disse quando finalmente conseguiu respirar. Eu já estava tão acostumada a vê-lo por aquela câmera que começava a ser difícil lembrar como ele era pessoalmente. –Mas conta o que mais que te aconteceu de vergonhoso, eu já falei demais!

Pensei em milhares de acontecimentos com o Diego, e tentei evitar ao máximo tais lembranças.

-Foram tantas coisas...-Comentei rindo- Acho que fui a rainha do desastre nos últimos anos de escola! Qual foi a coisa mais estúpida que você fez no colegial?

-Para ser sincero? Me envolver com uma pessoa que só trouxe coisas ruins e me fez transformar em alguém que eu não sou. Nunca mais faço a idiotice de acreditar em alguém assim.

-Acreditar em alguém foi a idiotice?

-Acreditar nela. - Ele corrigiu. Fiquei constrangida pelo tom de voz firme usado, que eu quase não via no Samuel.

-Já é tarde...- Murmurei, pensando no lado melancólico que começava a conhecer nele. –Acho que amanhã sai o resultado do intercâmbio, eu estou com medo.

-Você vai passar, tenho certeza! – Ele sorriu com aquela positividade contagiante e certeza na voz. –Mas só se me trouxer alguma coisa de lá. Quero um chaveiro, bem caro!

-É claro que eu trago, Samuel!- Ri, cheia de esperanças.

Tentei expor a mesma positividade na voz mesmo que ele, mas meu coração palpitava ansioso e o medo atrapalhava meus pensamentos.

-Ei, eu te mandei algo no facebook, dê uma olhada e me diz o que acha.- Samuel disse.

Abri rapidamente a página pulsando em curiosidade, e me deparei com um grupo fechado, onde havia apenas amigos nossos, e alguns outros que eu não conhecia. Se tratava de uma mini férias entre nós numa casa de verão. Perguntei se ele iria, e tive uma resposta positiva, porém indiferente.

-Pra dizer a verdade, eu não quero ir.- Declarei rindo. Ele voltou o olhar para a tela, sério.

-Ah...tudo bem, se não quiser...

-Não é isso.- O interrompi. –Se eu passar, haverão encontros com os selecionados, e um deles será durante os dias da viagem. Então, espero que eu não vá! Desculpe.

-Ah, claro!- Ele riu, aliviado e ao mesmo tempo desanimado. –Espero que... você não vá.

Jurei sentir alguma hesitação em sua fala, mas não consegui preocupar-me. A bagunça era tanta que pelo resto da noite tive medo dos meus próprios sonhos.

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Avaliei diversas vezes a possibilidade de ir andando para a universidade naquela manhã. Segui a opção perigosa e durante 10 minutos segurei o volante do carro com as mãos trêmulas e um nó na garganta que jamais havia sentido. Passei pelos portões altos e fraquejei, se não fosse aquele dia, não seria mais, e o que fosse dito ali dentro definiria meu futuro, pelo menos o mais próximo. Ninguém sabia o quanto eu queria aquilo, pois eu tinha certeza que era difícil entender, nem eu entendia.

Evitei durante horas qualquer tipo de pensamento alheio às aulas. Fantasiar todas as hipóteses e cenas que podiam ocorrer ali esgotaria com a minha pouca sanidade, que, por sinal, não durou muito tempo. Pouco antes do fim da aula, a Sra. Carmem entrou na sala, com um olhar impaciente e apenas um envelope branco em suas mãos, vidrei os olhos no infeliz até que ela começasse a falar. Meu coração palpitava, e eu podia sentir os olhos preocupados da Clarissa em mim.

SamanthaWhere stories live. Discover now