Capítulo 15- Redemoinho

6 1 0
                                    

Sentei a mesa esfregando os olhos vermelhos de cansaço, a princípio sem perceber que o Diego estava ao meu lado, muito menos que ele me encarava. Chequei o relógio e descobri que eram 10 da manhã, e num cálculo rápido, admiti as 3 míseras horas de sono. O Samuel, do outro lado da mesa, escondeu o riso ao me ver naquele estado, mesmo que estivesse quase pior que eu.

"Eu não sei por que você continua agindo dessa forma, Samantha. Há um universo inteiro que eu gostaria de te oferecer e o seu único foco é escapar de tudo e voltar para dentro da bolha em que você sempre esteve. A sua forma de andar entrega que nada disso parece servir para você."

Apertei os olhos lembrando do sonho que havia tido naquela curta noite, que voltou na minha cabeça quando vi o protagonista do mesmo. Tudo que eu me lembrava era da voz do Samuel dizendo coisas que, já acordada, me atingiram feito um soco no estômago e que me deixaram sem ar logo ali, em meio a todos. Evitei olhar para outro lado da mesa. As lembranças daquela madrugada misturadas ao sonho fizeram com que eu sentisse um estranho nó na garganta.

Fui a primeira a sair da mesa e ir para fora, e assim como no dia anterior, sentei a beira da piscina e encarei os meus pés na água morna até que a Ana viesse a minha procura.

-Disseram que há uma cachoeira não muito longe daqui, uma trilha logo depois da cerca da casa leva até lá. Chame os garotos e vamos já! Isso não é um convite, é uma afirmação de que você vai. – Ela falou da forma mais animada possível e logo saiu para ir chamar outros. Me levantei e encarei o grupo que deveria ir intimar também. Diego, Samuel, Pedro e Henrique, -ambos colegas que eu não tinha lá muita intimidade- e Augusto. Entrei na roda, estrategicamente, entre o Samuel e o Diego, sendo o último o que abriu um sorriso tímido porém visível ao me ver bem ao seu lado. Ignorei-o completamente e, rindo, roubei os óculos escuros do rosto do outro a minha direita.

-Apenas repassando a mensagem. –Falei colocando os óculos redondos em meu rosto. O dono dele me repreendeu com uma careta e acabou me fazendo rir. –Parece que há uma cachoeira logo aqui perto e a Ana faz questão que todos vão. É tudo o que eu sei.

-Ah, sim! Vou pegar a minha câmera!- O Samuel pareceu se animar com a proposta e passou por mim rapidamente em direção a casa. Foi a minha vez de me surpreender: eu nem sabia que ele fotografava.

O Augusto concordou de imediato e bagunçou meu cabelo antes de ir pegar qualquer coisa, os outros dois também pareceram gostar da ideia.

O Diego deu de ombros como se não tivesse outra opção.

Sorri satisfeita e fui em direção ao fundo do quintal, onde um pequeno portão de madeira nos separava da grama alta e árvores de um verde admirável. A Ana se mostrou contente ao me ver e, depois de esperar por todos, fomos lado a lado pela trilha, que mesmo rochosa, era agradável de se estar. Diminui o ritmo quando ouvi cliques de foto logo atrás de mim, e não precisei olhar para saber quem era.

-Desde quando você brinca de fotógrafo?- Perguntei ao menino focado na tela de sua Canon simples e nos comandos e botões que ela tinha.

-Na verdade eu comecei por causa da faculdade. Era obrigação saber mas acabou virando gosto há uns dias. A luz aqui é forte demais. –Ele sussurrou para si as últimas palavras, frustrado com o fato de que as fotos saiam brancas. –Aqui, Sam, deixe eu testar em você. –Vi a lente apontada para mim e acabei rindo com a forma desajeitada que ele segurava a câmera.

Continuamos nosso trajeto em silêncio já que o outro estava preocupado em captar cada centímetro da mata a nossa volta.

-Você estava estranha de manhã. –O Samuel soltou de repente.

-Era o sono. – Respondi tão rápido que mal ouvi minhas próprias palavras, ele não pareceu se convencer com a resposta, mas eu esperava que fosse o suficiente para o momento. Tentei esquivar-me ao máximo de seus olhares e ouvi novamente os cliques da câmera voltados para mim.

SamanthaWhere stories live. Discover now