Lancei minha mala sobre a parte de cima de um beliche, o meu casulo nos próximos dias. Era um quarto não muito grande com várias camas e uma janela ampla com vista para a natureza, ao estilo de acampamento de verão que todos íamos quando crianças. Era assim que eu me sentia. Como era de se esperar, não haviam quartos individuais para todos, então - depois de muitas reclamações- dividimos em dois cômodos para os homens e ,igualmente, dois para as mulheres. Concordamos que ninguém estava ali com outras intenções, portanto a separação não seria problema a ninguém. Mesmo que eu tenha visto um ou outro não muito felizes com a decisão.
Enquanto todos se acomodavam em seus devidos quartos, decidi sair para explorar a casa melhor. Desci as escadas finas e notei que todos os ambientes eram grandes, arejados e de cores claras. A sala principal contava com três sofás compridos e uma televisão simples, afinal era o que menos importava. A cozinha, que mais parecia um bar, separava-se do resto apenas por uma bancada de granito escuro e alguns bancos altos, e logo ao seu lado, uma enorme porta de vidro que levava a parte externa da casa. Abri-a, eufórica, ansiosa para andar pela grama baixa, ignorando o caminho de pedras que servia justamente para evitar o que eu mais almejava. Me encantei ao perceber que o lugar era maior do que eu imaginava. Entre as cercas que nos separavam da mata, metros incontáveis de uma grama adorável se estendiam, sendo preenchidos por uma piscina, churrasqueira e tudo mais que os garotos fizeram questão que nossa casa de férias tivesse. Já eu moraria naquele lugar sem problema algum.
Com os sapatos pendurados na mão, apreciando a brisa da noite que se aproximava, ouvi passos atrás de mim.
-Aqui é muito bonito. O pessoal não poupou esforços para achar um lugar perfeito.
E mesmo sabendo a quem pertencia a voz, sentei-me no chão, calma, sentindo meus pés mais baixos que o resto do meu corpo, concluindo que aquela área tinha uma leve inclinação. Logo, ele estava sentado ao meu lado também.
-Eu sabia que você ia gostar daqui, só estou surpreso por ter vindo.
Ri baixo, sem tirar os olhos da paisagem.
-Pensou que eu não viria por causa de você? Ideia um tanto equivocada.
–Sinceramente sim, você estava com tanta raiva de mim que eu pensei que nunca mais a veria.
Respirei fundo e olhei em seus olhos pela primeira vez aquela noite. Seu jeito estava diferente, mas a alma ainda era a mesma. Esperei a palpitação, o suor, a tremedeira. Nada veio.
-Eu não sinto raiva, Diego, só quis me afastar. É uma pena que não tenha entendido e respeitado isso.
-Não entendi e ainda não entendo o motivo de ter se afastado por um motivo tão idiota.- O Diego riu, esperando que eu fizesse o mesmo.
-É, é uma pena mesmo. – Levantei-me e voltei para dentro da casa. Senti-me culpada por tratá-lo daquela forma, senti-me culpada por aquela conversa ser tão desprezível, senti-me culpada por não ter sentido nada a sua presença.
Senti-me culpada por sentir-me culpada de tudo aquilo.
-Onde vocês vão?- Perguntei aos cinco que saiam pela porta da frente rindo e conversando.
-A janta é por nossa conta, Sam! Vamos a uma pizzaria próxima daqui!- Um deles gritou de volta antes de chamar o último amigo que estava voltando para dentro. O agradeci mentalmente por tê-lo tirado de perto de mim.
-O que houve? Onde estão todos?- Dessa vez o Samuel e seu amigo, Augusto desceram as escadas rapidamente ao ouvir o som de um dos carros dando partida. Ele parou próximo a mim como sempre fazia.
Antes que eu respondesse o Diego voltou a entrar, e correndo, pegou sua carteira preta e branca na bancada. Pude ver seu olhar amedrontador e enciumado sobre nós, com a proximidade que eu e o meu amigo já tínhamos por costume, enquanto o observamos passar, em silêncio.
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Samantha
RomanceSamantha não acredita em paixões incondicionais, amor a primeira vista ou almas gêmeas. Desde que foi obrigada a enfrentar velhos sentimentos e viver novas experiências sozinha, a última coisa que a machucava era a solidão. Seu foco e suas certezas...