Atravessei os portões da faculdade anestesiada pela energia boa e melancólica que o lugar tinha. No pátio principal, um grupo de formandos de medicina tirava suas últimas fotos juntos, enquanto, de uma forma engraçada, adolescentes passavam por eles ansiosos para matricularem-se no mesmo curso. Era interessante e irônico de certa forma ver tantos ciclos começando e acabando simultaneamente, e as pessoas que lá estavam nem sequer se davam conta disso. Para mim, aquilo era apenas um "Até breve", já que minha jornada naquela universidade só estava pela metade.
Cumprimentei uma pessoa ou outra, dei um abraço forte no Renné, que prometeu me arrastar para uma festa qualquer durante as nossas férias. Voltei para casa desejando que o dia não demorasse a passar, o nervosismo da viagem enchia a minha cabeça e a tarde seria longa demais se eu a passasse imaginando que naquele momentos várias pessoas que eu não conhecia estavam planejando a realização de um sonho que era meu. O sentimento de fracasso voltou a se manifestar em algum lugar dentro de mim, mas não me permiti sentir um ser miserável naquele dia. Tentei lembrar dos detalhes daquela viagem para me distrair de alguma forma. A casa onde eu passaria aqueles dias ficava próxima ao litoral, a cerca de duas horas de Lisboa. Por ser um tanto longe, e para evitar que nos perdêssemos no caminho, separamo-nos em apenas 3 carros. Cada um dos 3 "motoristas" do grupo teria de levar os amigos que morassem mais perto , e por ironia calhei no carro do Samuel, junto com outras 3 pessoas que não conhecia.
-É sério que você vai, Samantha?- Clarissa voltou a perguntar enquanto eu terminava de empurrar algumas roupas para dentro da minha mochila. Aquele velho truque para me fazer sentir pena dela já não funcionava mais.
-Vou!- Declarei rindo. –E o Bicho Papão não vai vir aqui para puxar o seu pé a noite!
-Então trarei a Thalita para ficar comigo, e ela vai dormir na sua cama!- Ela disse numa outra tentativa boba de me provocar, se referindo a amiga dela que eu mais detestava.
-Bom para ela!- Soltei dando-lhe as costas, e indo em direção a sala
-Certo, sua grossa! Me troque por esses seus novos amigos, mas depois não reclame quando eu passar as noites fora de casa.
Resmunguei alto e me escondi na varanda da sala, a música jazz que tocava em algum bar da vizinhança me fez querer dançar. Recebi uma ligação do Samuel e respirei fundo antes de atender.
-O que foi? Quero dizer, oi.
-Hããn, tudo bem? Se quiser ligo outra hora.
-Não! Está tudo ótimo, me desculpe, pode falar.
-Só ia perguntar se você já não quer vir a minha casa. Ainda é um pouco cedo mas tenho coisas para arrumar e seria mais fácil com alguém aqui!
Querendo me livrar logo daquela ansiedade e da Drama Queen no quarto ao lado, corri para juntar minhas coisas e sair o quanto antes. Já com a mochila das costas, fui ao quarto onde minha amiga estava, a frente do computador e com uma musica tão altas nos fones que eu podia ouvir de longe. Aproximei-me e lhe dei um beijo no rosto.
-Estou indo. Eu te amo muito, Sasá.
Sai pelas ruas sem saber que horas eram ou onde ficava ao certo o lugar onde o Samuel morava, teria que confiar na minha memória fotográfica da noite em que dividimos aquele táxi. Conclui que naquele mesmo dia teria que ver e conviver com o Diego e isso me dava arrepios. Tentei manter as minhas esperanças de um ambiente bom e amigável, mas no fundo eu sabia algo iria dar errado, senão, isso não se trataria da minha vida.
Em alguns minutos e cerca de 3 quadras depois, já estava na porta do prédio do qual eu curiosamente lembrava bem. Minha ansiedade disparou quando ele me recebeu com um sorriso no rosto, parecendo estar tão empolgado quanto eu. Observei atentamente seu apartamento, encantada. Os móveis eram simples, e as paredes brancas em sua maioria, mas haviam quadros coloridos, pôsteres e decorações mais criativas e engraçadas que outras, um ambiente que eu não imaginava ser o dele. Uma caixa grande de cerveja na mesa da cozinha fez com que eu imaginasse como seriam aqueles dias.
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Samantha
RomanceSamantha não acredita em paixões incondicionais, amor a primeira vista ou almas gêmeas. Desde que foi obrigada a enfrentar velhos sentimentos e viver novas experiências sozinha, a última coisa que a machucava era a solidão. Seu foco e suas certezas...