Capítulo 14- Noites de Euforia Rasa

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Despertei com os meus próprios sonhos em meio a madrugada, a casa estava, estranhamente, em total silêncio e eu ouvia apenas um recital de grilos e galhos de árvores que contorciam-se ao vento. Depois de quase meia hora e muitas tentativas frustradas de voltar a dormir, levantei-me do beliche e sai do quarto sem ruído algum. Eram 2:30 da manhã.

Andei pelo corredor escuro, descalça, vestindo apenas meus pijamas de bolinhas e com algum receio de cair, e vi pelas escadas a silhueta de alguém na cozinha. Era reconfortante saber que não era a única a estar sem sono. Apertei minha blusa contra o corpo ao sentir o vento frio que vinha lá de baixo e me arrependi de ter saído de baixo dos cobertores.

-Não consegue dormir? Eu também não. – Ele disse logo que me aproximei. – Aceita suco?

-É, acho que não sou a única a sofrer com insônia às vezes. –Me sentei no banco a sua frente e peguei o copo gelado com o conteúdo verde claro. –O que tem causado a sua?

-A minha insônia tem um nome bonito, um endereço que não lembro bem e um sorriso que tento esquecer já faz muito tempo. E a sua?

Ri com a brincadeira e imaginei quem seria a dona dos seus pensamentos.

-A minha tem vários nomes e endereços. E acho que seria bem inconveniente cita-los aqui. Só digo que o principal eu gostaria de esmurrar a cara.

Dessa vez ele quem riu baixo enquanto guardava a jarra de limonada na geladeira, fazendo o menor barulho possível.

-Eu sinceramente já não aguento ficar aqui dentro. –O Samuel comentou com um sorriso de canto. –Mas parece que é o suficiente para todos ficarem derretendo na piscina e enchendo a cara de Vodka e cerveja o dia todo.

Concordei ao admitir que no dia anterior todos fizeram exatamente aquilo, Inclusive eu e ele.

-Ouvi dizer que nesta madrugada está havendo uma chuva de meteoros visível em Portugal. – Falei com indiferença na voz, mas com o rosto de quem está a pensar nas melhores ideias. Ele ergueu as sobrancelhas e foi até a porta tentar ver algo no céu. –Dizem também que a vista é melhor na praia.

Ele olhou-me com a mesma expressão que eu já tinha, e em alguns minutos a porta da frente já se fechava silenciosamente antes de corrermos para o carro e fugirmos dali.

Eram 3 da manhã quando ele dirigia pela costa, sob o céu aberto e com a promessa de que voltaríamos antes do sol nascer. Quanto mais nos afastávamos da estrada, mais eu ouvia o som do mar agitado e o meu coração aquecia, mesmo com o corpo frio pelo vento forte que entrava das janelas. Andamos pela areia e nos deitamos não muito longe do mar, ele usando a mochila como travesseiro, e eu, em outro ângulo, usando da sua barriga para apoiar a cabeça. Observei o céu, a lua estava escondida. mas as estrelas eram incontáveis, inclusive as que desfilavam a frente dos nossos olhos e desapareciam em instantes.

-Tem escrito sobre o que ultimamente?- Perguntei ao dono da respiração calma que hora ou outra se sincronizava com as ondas do mar.

Eu gostava da forma como ele virava arte naquele lugar.

-Sobre você. - Ele confessou naturalmente. –Mas acho que você já sabe disso.

Lembrei da tarde em seu apartamento e do meu nome entre as linhas. Um arrepio subiu-me pela nuca.

-Não, não sei. O que escreve sobre mim?

-Coisas bem confusas, na verdade. Um pouco da sua história, a sua personalidade, o seu jeito em geral. Costumo separar algumas páginas para as pessoas que eu convivo, mas graças a sua complexidade já estou a usar mais folhas do que o normal.

SamanthaWhere stories live. Discover now