Capítulo 10- Direito De Ir e Vir, Desejo De Ficar

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Ouvi o som do meu celular tocar em meu bolso, já esperando a Clarissa a dizer que estava em casa e que eu teria de voltar a pé, como sempre. Eu não me importava, gostava de caminhar por aquelas ruas. Peguei o aparelho impaciente, e pasmem, era o Samuel. Ele devia estar a ligar por engano, já que nunca tinha o feito.

-Sam! Tudo bem?- Ouvi sua voz não tão alegre quanto o de costume, mas normal.

-Oi Samuel... tudo ótimo e contigo?

-Estou bem.- Ele respondeu rapidamente. –Hã... Para ser sincero eu estava a andar por aqui e acho que passei a frente do seu prédio, lembrei de você, e quis saber se estava em casa!- Ele falou risonho.

-Bom, eu estou a ir pra casa agora, sai do trabalho há pouco.

-Ah... – Ele parou de falar por alguns segundos, fazendo-me ouvir apenas sua respiração ofegante. –E onde fica o teu trabalho?

-Sabes aquele hospital cinza perto de casa? Logo ao lado.

-Sim, claro, já fui muito lá.- Ele riu. –Estou bem perto dele, não saia daí.

-Está vindo para cá?- Perguntei tentando não transparecer o nervosismo.

-Estou. Sam, eu não tinha aula hoje e estava completamente entediado em casa, isto é tipo um pedido de socorro.

Ri e continuei andando em silêncio, e ele, o mesmo. Ia em direção de um banco vazio na calçada, um lugar com uma vista interessante para as pessoas que andavam apressadamente por ali. 

-Você tá andando? Eu consigo ouvir a sua respiração, disse para não sair daí!- o Samuel falou como se estivesse incrédulo. Tampei o nariz e continuei andando até um banco próximo, tentando não fazer barulho, inclusive com a minha risada. –Agora não ouço nada, por favor, respire. Só não precisa andar mesmo.

Sorri involuntariamente e sentei, sem desligar a chamada. Pensei em quanto tempo fazia desde a última vez que o vi, e não era pouco, nossa amizade se baseava em Skype e a ideia de vê-lo pessoalmente me apavorava, contando que da última vez eu tinha desabado em seu ombro e aquilo era deplorável. Tentei esquecer o cansaço e até mesmo todas as minhas obrigações para aquele final de tarde, que provavelmente se transformaria em qualquer coisa que eu não fazia ideia.

-Ok, já estou vendo o hospital. Onde você está? – Ele falou de repente, me fazendo despertar. Olhei a volta e não o vi.

-Humm, vamos ver.- Tentei buscar uma boa referência, e avistei algo um pouco longe de mim, mas que serviria. –Estou a frente de uma padaria vermelha.- Menti.

Poucos segundos depois ele apareceu à frente do lugar que eu havia dito, com uma camisa de mangas curtas azul e óculos escuros, como se o sol estivesse alto em pleno meio dia, mas eram 6 da tarde. Ele olhou para os lados com uma feição engraçada e depois sorriu, sua voz fez-se ouvir no meu ouvido.

-Ok, agora já pode falar onde você realmente está.- Ele falou com um sorriso de canto. Não contive a risada, e em pouco tempo fui encontrada. Senti enfim, aquele terrível nervosismo sem nexo, numa situação tão simples que minha cabeça transformava numa tempestade.

-OK, ok, muito engraçado, fui pego.- Ele disse, aplaudindo duas ou três vezes minha brincadeira, rindo.

Pela primeira vez, eu quem abracei-o, com o peito cheio de saudades e algum medo por estar lá. E ele não faltou com um beijo em meu rosto, tentei não hesitar pela segunda vez. Eu tinha de me acostumar com aquilo.

-Que tal eu ir te encontrar na próxima vez?- Sugeri sentando novamente no banco onde estava, ele fez o mesmo.

-Então tenha cuidado, já estou com a minha vingança em mente!- Respondeu. Eu disse que não havia sido grande coisa, mas aparentemente era grande o suficiente para ter um retorno.

SamanthaWhere stories live. Discover now