Casa?

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With every small disaster
I'll let the waters still
Take me away to some place real
'Cause they say home is where your heart is set in stone
Is where you go when you're alone
Is where you go to rest your bones
It's not just where you lay your head
It's not just where you make your bed
Home - Gabriele Aplin.

Passei as duas semanas que se seguiram trancada no quarto, apenas olhando pela janela, olhando para o mundo ao qual eu supostamente pertencia. Eu não queria comer, não queria fazer nada, absolutamente nada.
Em uma de suas frequentes visitas, Melissa acabou deixando propositalmente um caderno de desenhos e um lápis em cima da mesinha que ficava em frente à lareira, eles permaneceram intocados, até agora...
Era madrugada e eu seguia minha rotina: olhar pela janela. Lancei um olhar vazio ao caderno e me sentei em frente a lareira para desenhar. Não me atentei ao que as linhas e traços formavam, apenas deixei a mão livre para que tivesse vontade própria. Quando terminei, ergui o desenho e torci o nariz ao perceber que havia desenhado com perfeição o belo rosto de Sebastian.
Atirei o desenho ao fogo e me levantei para tomar um copo de água e aproveitar para esticar as pernas, aquele havia sido o único caminho que eu havia decorado em meio a tantos outro.
Ao chegar na cozinha, tudo estava mergulhado na penumbra da noite, fui direto ao jarro de água que ficava em cima da mesa. Quando me virei para voltar ao meu quarto, dei de cara com Sebastian que estava logo atrás de mim, por causa do susto derrubei o copo de água e levei a mão ao peito.
O susto foi tão grande que meus joelhos cederam e foi preciso que Sebastian me sustentasse. Ele me ergueu em seus braços e me levou de volta ao quarto, quando viu que a cama estava perfeitamente arrumada, ele me colocou sentada em uma poltrona perto da lareira e começou a arrumar a cama para que eu dormisse. Enquanto ele se movimentava pelo quarto, eu reparava em sua aparência, ele estava descalço, usando uma camisa rasgada e calças folgadas, seus cabelos eram um emaranhado dourado no topo de sua cabeça.
- Você está horrível. - ele parou o que estava fazendo e veio em minha direção, se ajoelhando à minha frente.
- Desde que você saiu correndo de mim, desde que você estilhaçou em milhões de pedaços as janelas dessa casa, eu não tive vontade de mais nada... E... Você também não está muito melhor... - desviei meu olhar, não queria admitir que estava na Bad por causa dele.
- Saia do meu quarto. - pedi com a voz fria.
- O que? - ele me olhava surpreso.
- Saia do meu quarto - repeti - Saia da minha vida, me deixe em paz! Você já destruiu meu irmão, isso não te basta? É realmente destruir a mim também? - ele estava sem palavras e as lágrimas voltaram a escorrer por meu rosto - Você é um monstro Sebastian!
Ele me olhou surpreso por algum tempo e então finalmente saiu, deixando-me sozinha no escuro. Abracei meus joelhos e depois que as lágrimas secaram, prometi a mim mesma que não faria mais o papel da garotinha frágil, quebrada e destruída.

♛ ♜ ♚

No dia seguinte, Alma, Margot e Meredith entraram em meu quarto dispostas a me fazer sair da cama e se surpreenderam ao me encontrar em frente ao espelho penteando meus longos cabelos brancos. Meredith trazia em seus braços um vestido verde esmeralda, ele tinha mangas compridas, um corpete bordado e uma quantia moderada de anáguas.
Quando terminaram de me vestir, Margot e Meredith foram arrumar minha cama enquanto Alma fazia um coque alto em meu cabelo e o enfeitava com pérolas da mesma cor do vestido.
Ao terminar, Alma me acompanhou pelos corredores até a sala de jantar onde um farto café da manhã fora servido. Alec e Melissa estavam sentados à mesa desfrutando da refeição, bem, na verdade Alec estava desfrutando da bela refeição enquanto Melissa torcia o nariz perante aquele monte de frutas.
Ela fez questão de que eu me sentasse ao seu lado e encheu meu prato com frutas, fazendo com que eu também torcesse o nariz. Eu não sabia se era capaz de fazer aquilo, mas resolvi tentar, fechei meus olhos e me concentrei, ao abri-los novamente as frutas no meu prato e no de Melissa haviam sumido completamente, dando lugar à ovos mexidos com bacon, torradas com geléia de pêssego e duas canecas enormes de chá gelado bem doce com gotas de limão, o café da manhã que papai sempre preparava para nós.
- Parece que alguém finalmente resolveu sair do quarto... - comentou Alec para Andrômeda, que estava na outra extremidade da longa mesa.
- Agora só falta Sebastian sair do quarto - completou ela dando uma bela mordida em uma maçã.
Durante o café, Alec e Andrômeda ficaram me encarando, o que só me fazia me sentir cada vez mais desconfortável. Assim que terminei de comer, me levantei e saí andando pelos corredores da mansão e meio que sem querer fui parar na cozinha onde Alma preparava uma bandeja com um café da manhã farto.
- É para Sebastian? - perguntei ao me aproximar, o que acabou lhe assustando um pouco.
- É sim. - respondeu conferindo tudo que havia na bandeja e logo fez uma expressão de quem se lembra de algo, indo buscar o que havia esquecido.
- Diga-me Alma, Sebastian está mesmo trancado no quarto?
- Está sim, desde o dia que a senhorita estourou as janelas. - ela pegou a bandeja e deu um sorriso triste - Acho que o menino está finalmente aprendendo a amar.
- Deixe que eu leve isso para ele - falei de repente, Alma me estudou com os olhos preocupados e eu sorri - Acho que conheço uma forma de fazer com que Sebastian saia do quarto.
Ela me estudou por mais algum tempo, até que finalmente me entregou a bandeja e me guiou pelos corredores. O quarto de Sebastian ficava na ala oeste, que era enfeitada com várias armaduras e pinturas de batalha, Alma parou em frente a uma porta branca e a abriu para mim, entrei no quarto e me deparei com uma enorme bagunça.
Haviam quadros rasgados, cadeiras quebradas, vidros estilhaçados e um corpo inerte jazia sobre a cama. Deixei a bandeja na única cadeira que estava inteira e me aproximei da cama.
Sebastian dormia profundamente, sua expressão era serena e sua respiração calma, parecia até um anjo, mas um anjo nunca mataria uma criança inocente, um anjo não sequestraria uma garota para matá-la. Em meio a todos os meus pensamentos, as palavras de Sebastian voltaram à tona "Eu quero ser ajudado Davina, mas a questão aqui é: você quer me ajudar?" é claro que eu queria ajudá-lo, mas por trás do homem habitava a fera, fera essa que eu tinha certeza absoluta que me destruiria caso eu falhasse, mas todos merecem uma segunda chance...
De repente Sebastian começou a ficar inquieto e a mormurar coisas sem sentido, agarrei suas mãos e fui puxada para seu pesadelo.
Uma mulher de cabelos loiros corria pela floresta escura, ela estava desesperada e me puxava pelo pulso, chegamos à uma campina e ela me entregou um bebê rosado e de cabelos loiros, uma garotinha com os cabelos iguais aos da mulher à frente se agarrou a mim tremendo de medo.
- Sebastian vá! - disse a mulher olhando em meus olhos - Leve seus irmãos para longe, mantenha-os em segurança! Vá!
Fiz que sim e saí segurando firme o bebê e arrastando a garotinha atrás de mim, levei eles até um esconderijo e entreguei o bebê para a garotinha:
- Proteja Alec, eu vou ajudar nossa mãe. - era meio estranho não ter controle sobre meu corpo, mas pensando melhor, o corpo não era de fato meu.
Sai correndo pela floresta até encontrar novamente a mulher de cabelos loiros e olhos azuis, ela me lançou um olhar assustado e disse:
- Sebastian, o que você está fazendo aqui? Onde estão seus irmãos? - não tive tempo de responder, uma dor horrenda tomou conta de meu peito, parecia que alguma fera rasgava meu peito por dentro querendo sair, aos poucos meus grifos se transformaram em uivos e eu estava no corpo de um enorme lobo negro - Então você herdou a maldição... - disse a mulher em tom incrédulo, seu olhar misturava medo, angústia, aflição e o amor de uma mãe dedicada.
A fera que se apossara de meu corpo deu um passo à frente e rosnou furiosamente, estava claro que sua intenção era atacar. A mulher se atirou de joelhos e começou a rezar, a fera se preparou e saltou sobre ela com os caninos apontados para seu pescoço.
Soltei a mão de Sebastian e as imagens sumiram de minha cabeça, ele ainda estava mergulhado em seu pesadelo e suava frio, seria cruel demais deixá-lo nesse pesadelo, então agarrei seus ombros e sacudi seu corpo com força.
Finalmente Sebastian acordou, ele me encarou com seus belos olhos negros assustados por algum tempo e então me puxou para seu peito em um forte abraço. Sua respiração era pesada e desregular, sinais bem claros de que ele estava em estado de choque.
Aos poucos consegui me afastar, peguei a bandeja e a coloquei em cima da cama, devagar Sebastian começou a se servir das frutas e eu apenas o observei, ficamos em silêncio por um longo tempo até que ele finalmente disse:

Castle (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora