Sentimentos Puros

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A pure feeling
I'm invisible and magical
If only for a moment
A pure feeling
I'm scared to control it
Pure Feeling — Florence & The Machine

 

Quando voltei à mansão, Meredith me aguardava no grande salão, ela apenas me observava e percebendo a gravidade da situação Belfiti saiu correndo pelos corredores da enorme casa.
  — Por favor, não conte a Sebastian! — Meredith contraiu os lábios e me encarou em silêncio, dei um passo à frente e disse em tom suplicante — Meredith, por favor, você sabe como Sebastian é, sabe que ele vai me trancar nessa mansão! Por favor Meredith!
  Meredith olhou para além de mim e uma voz que fez meu sangue gelar soou atrás de mim:
  — Deixe-nos à sós Meredith.
  Ela sumiu nos corredores e permaneci sem mover um músculo. Ouvi passos ecoando pelo grande salão até que ele estivesse à minha frente me encarando com seus olhos de escuridão e uma expressão séria, seus braços estavam cruzados atrás das costas e ele soltou um longo suspiro ao dizer:
  — Porque você não consegue simplesmente me obedecer?
  — Talvez seja porque você não manda em mim! — respondi ríspida.
  — Davina, — ele passou as mãos pelos cabelos, obviamente tentando conter as emoções — Eu te pedi uma coisa pequena, pedi apenas para você não ir à floresta até que eu voltasse e nem isso você consegue fazer!
  Seu tom de voz foi aumentando gradativamente, fazendo com que eu me encolhesse e recuasse, pela primeira vez na vida tive medo de Sebastian.
  — Só me responda por quê você tem esse desejo tão gigantesco pela morte! — suas palavras fizeram meu sangue ferver e minha magia se erguer, e me surpreendi respondendo sua pergunta com gritos:
  — Talvez seja porque minha tia é uma psicopata louca que me quer morta e por isso me amaldiçoou com magia negra! — nem esperei que Sebastian respondesse, apenas lhe dei as costas e saí em direção à meu quarto.
  Sebastian vinha atrás de mim, o que me fez correr e trancar rapidamente as portas do quarto. Batidas fortes faziam as portas chacoalharem e recuei com medo.
  — Davina! — Sebastian continuava a bater na porta — Davina, por favor me deixe entrar! — fiquei em silêncio, ele parou de bater, pude ouvi-lo batendo a testa com um baque surdo na porta — Davina, se eu te deixei com medo, peço perdão, a última coisa que quero na vida é você com medo de mim. Por favor Davina, me deixe entrar.
  Depois de respirar fundo umas três ou quatro vezes, deixei que as portas se destrancassem, Sebastian entrou no quarto e veio direto para mim, fazendo com que eu recuasse.
  — Não toque em mim! — falei quando ele esticou a mão para acariciar meu rosto.
  — Davina... — ele olhava em meus olhos, as esferas negras em seu rosto engoliam toda a luz existente nas esferas violetas que eram meus olhos — Eu... Me desculpe... — ele estendeu para mim um buquê de flores brancas belíssimas — Como eu havia lhe prometido, as flores mais bonitas do mundo. Henry Bucher uma vez disse "As flores são as coisas mais doces que Deus já fez e se esqueceu de colocar alma dentro" e quando Ele fez você Davina, Ele se lembrou de colocar uma alma, a alma mais linda e pura de toda a Sua criação. — Sebastian me olhava nervoso, queria captar algo em meu olhar mas minha expressão continuou a mesma — O nome dessa flor é Flor de Kadupul, assim que as vi me lembrei de você, ambas são lindas e se pode ficar admirando sem nunca cansar.
  Peguei o buquê de suas mãos com certo receio e ele permaneceu calado. Mais uma vez Sebastian tentou acariciar meu rosto mas deixou a mão pender no ar, logo depois saiu.
  Deitei em minha cama agora vazia (Melissa provavelmente estava matando as saudades de Alec) e adormeci pensando em Drian e Salém.

♚ ♜ ♛

  Uma luz forte invadiu o quarto, abri meus olhos e me deparei com Gayna abrindo as pesadas cortinas, Armena estava preparando meu banho e Alma ajeitava um vestido lilás em uma das poltronas. Me sentei na cama e olhei para a mesinha de cabeceira onde as flores de Kadupul que Sebastian havia me dado estavam em um belo vaso de porcelana.
  — É de se admirar que ainda não tenham morrido. — disse Gayna se sentando em minha cama.
   — Por que? — perguntei franzindo o cenho.
   — Flores de Kadupul não tem uma vida longa. Elas florescem por volta da meia noite e morrem algumas horas depois, dizem que apenas o amor de um homem muito apaixonado pode mantê-las vivas...
   — Se você vai dizer que Sebastian me ama, eu agradeceria se parasse de falar! — disparei e imediatamente me arrependi — Desculpe Gayna, mas Sebastian é a ultima coisa que quero pensar hoje.
  Gayna sorriu gentilmente e então me conduziu para o banheiro, onde tomei um banho relaxante. Enquanto Gayna, Armena e Alma penteavam meus cabelos e escolhiam jóias que combinavam com meu vestido, elas cantarolavam muitas músicas com vozes tão melodiosas que me perguntei se elas eram patentes das fadas.
  Na sala de jantar Sebastian estava sentado à cabeceira da mesa, Alec estava a sua esquerda e o lugar à direita de Sebastian estava vazio, e foi onde me sentei. Andrômeda estava ao meu lado e como de costume Melissa estava ao lado de Alec, em seu pescoço estava um colar tão bonito que poderia cegar alguém, ele era cravejado com muitas e muitas pedras cegantes, Darian estava ao lado de Andrômeda e me deu um sorriso amplamente aberto assim que me sentei.
  Um silêncio mortal reinava e ninguém além de Darian tocava na comida, eu podia sentir os olhos de todos em mim enquanto me servia do café da manhã farto.
  — E então, — resolvi tentar deixar as coisas minimamente normais — Como foi o casamento?
  — Não houve casamento — respondeu Alec indiferente enquanto eu lhe lançava um olhar intrigado — A noiva se matou, se atirou de um penhasco.
  Assim como todos voltei a ficar calada, Sebastian permanecia imóvel e não desgrudava os olhos de mim por um instante. Terminei de comer e me apressei para ir a qualquer lugar onde não me olhassem daquela maneira, ao andar pelos corredores percebi que dois homens me seguiam, lancei a eles um olhar interrogativo e um deles disse:
  — O senhor Sebastian ordenou que nunca perdêssemos a senhorita de vista.
  Uma raiva incontrolável e crescente se apoderou de mim e no jardim algo começou a queimar em chamas negras. Corri pelos corredores com aqueles dois jagunços atrás de mim, e quando cheguei ao jardim encontrei um piano negro e lustroso ardendo em chamas escuras como a noite.
  "Magia Negra..." pensei, havia meses que minha magia não se agitava ou manifestava por causa de meu temperamento, mas pensando por outro lado eu havia me habituado à magia branca, magia negra era algo completamente desconhecido para mim... Os dois jagunços mantinham-se a uma distância segura e apenas observavam enquanto eu, inutilmente, tentava controlar as chamas.
  Uma hora depois eu finalmente havia conseguido parar o fogo, me sentei em frente ao piano e arrisquei algumas notas de minha canção favorita, apesar de tudo ele parecia perfeitamente afinado. Depois de algum tempo senti a floresta se agitar e inexplicavelmente eu sabia que era Drian.
  Névoa de sonho foi o primeiro feitiço que aprendi a executar perfeitamente, pude sentir a névoa envolvendo os jagunços e se mantendo erguida para qualquer um que quisesse se aproximar caísse no sono.
  — É um bonito piano, — disse Drian saindo de trás das árvores e caminhando até mim, dessa vez ele usava uma capa preta surrada sobre as roupas simples de camponês e torceu o nariz ao ver o estado do piano — Está um pouco queimado, não acha?
  — O que quer aqui? — perguntei olhando nervosa para a mansão.
  — Vim pedir desculpas pela forma rude como a tratei... — Drian parecia realmente sincero e lancei mais um olhar preocupado à mansão — Fique tranquila, cachorros são bichos meio estúpidos, nenhum deles vai saber que estou aqui.
  — Veio apenas para pedir desculpas? — cruzei os braços sobre o peito.
   — Uma bruxa me disse há muito tempo atrás que uma garota viria ao mundo destinada a reinar, ela disse que eu estava destinado a protegê-la e disse também que essa garota possuiria meu coração. Por muito tempo pensei que essa garota fosse Aiane, mas ontem quando você quebrou a maldição de Salém com apenas um toque, tive a certeza imediata de que você é essa garota.
  — Hã... Drian... — tentei falar alguma coisa, aquela conversa estava tomando um rumo muito estranho.
  — Fique calma Davina, — ele sorriu — Não vim me declarar ou entregar a você algo que não é mais meu. O coração que antes pertencia a mim, entreguei a Aiane muito tempo atrás e ele sempre pertencerá a ela. Vim até aqui para lhe jurar lealdade, sempre que precisar de um belo tigre negro é só me chamar.
 

Castle (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora