Castle (Em Pausa)

A Verdade sobre Sebastian

  And everyday
I'm learning about you
The things that no one else sees
And the end comes to soon
Like dreaming of angels
And leaving without them
The XX — Angels

  Quando acordei na manhã seguinte, Sebastian já não estava mais lá, alguns minutos depois Alma entrou no quarto com um sorriso enorme no rosto, ela estava acompanhada por duas criadas, uma delas segurava uma bandeja com um café da manhã que parecia delicioso e a outra segurava com todo cuidado um vestido de brocados cor de rosa, torci o nariz ao perceber que ele estava sendo trazido para mim.
  — A senhorita vai ficar belíssima nele. — disse Alma abrindo as pesadas cortinas. 
  — Não é que eu queira ser grosseira, — falei em tom cauteloso — Mas não tinha de outra cor? Detesto rosa.
  — Seus cabelos são cor de rosa — disse Alma com as mãos nos quadris.
  — Isso é algo completamente diferente — falei sorrindo perante sua atitude.
  — Bem, isto não vem ao caso — ela agora puxava as cobertas quentinhas que me cobriam — O menino Sebastian escolheu pessoalmente este vestido e disse que queria a senhorita o usando hoje.
  Depois que eu havia tomado um delicioso café da manhã e um banho relaxante, Alma e as duas criadas (que descobri que se chamavam Margot e Meredith, elas eram irmãs e achavam uma honra enorme trabalhar para o poderoso Sebastian) ajudaram-me a colocar o vestido.
  — Como assim poderoso Sebastian? — perguntei enquanto elas apertavam as fitas do corpete. 
  — O menino Sebastian irá lhe contar tudo. — disse Alma forçando um sorriso.
  Depois que eu estava pronta, Meredith me guiou pelos corredores até o quarto de Melissa. Assim que me viu, minha irmãzinha pulou da cadeira em que estava sentada e se atirou em meus braços, ela usava um vestido azul safira que ressaltava seus belos cabelos ruivos e possuía quase tantas anáguas quanto o meu. Alec, que estava sentado em uma poltrona ao lado de Melissa, me lançou um olhar frio e eu o devolvi com a mesma intensidade.
  Fiquei um longo tempo explicando à Melissa o que eu era, deixando bem claro que não tinha a mínima noção do que eu era capaz de fazer e que estava apavorada com as recentes descobertas. Eu estava sentada em sua cama, ela andava de um lado para o outro e assim que terminei de falar Melissa se ajoelhou à minha frente e disse com a voz embargada:
   — Não me importo que você seja o monstro do lago Ness, você vai ser sempre a pessoa que eu mais amo neste mundo, logo depois de mamãe e papai, é claro — sorriu e aquele sorriso iluminou minha mente confusa.
   Com lágrimas nos olhos, puxei Melissa para um abraço, apesar de todas as nossas brigas eu sempre amei aquela pestinha.
   — Eu te amo Davye — disse me apertando ainda mais.
 

— Também te amo Cookie...
  Houveram batidas na porta e Alec foi ver quem era, Sebastian estava parado no corredor vestido como um perfeito cavalheiro da era vitoriana, assim como Alec, dei um beijo na testa de Melissa e caminhei com Sebastian pelos corredores da mansão.
  Sebastian me levou para um jardim belíssimo que me fez perder o fôlego, nos sentamos em um banco de pedra e ele disse:
  — Você está magnífica.
  Sorri com o elogio ao me levantar e girar para que ele examinasse melhor o trabalho de Alma, Margot e Meredith, elas haviam me vestido e me obrigado a usar sapatos de salto alto, elas também haviam trançado meus longos cabelos e o enfeitaram com pequenas e delicadas flores brancas que contrastavam com meus cabelos cor de rosa.
  Assim que me sentei novamente Sebastian tocou as delicadas flores brancas e uma ideia iluminou minha mente, fechei meus olhos e me concentrei; ao abri-los novamente, as pequenas flores estava rosa e meus cabelos mais brancos que a neve, Sebastian sorriu e disse:
  — Vossa Alteza. — ele me deu um aceno de cabeça que me fez sorrir — Bem, eu prometi lhe contar a verdade então... — ele apertou os lábios em uma linha rígida e finalmente começou — Eu e meus irmãos somos o que as pessoas chamam de lobisomem, mas nós nos diferenciamos dos demais, não somos escravos da lua, fizemos um pacto com ela...
  — Um pacto com a lua? — perguntei franzindo o cenho.
  — Sim, — ele respirou fundo e passou a mão pelos cabelos — Meu pai era lobisomem e minha mãe humana, a humanidade dela não impediu que seus filhos herdassem a genética ruim de seu marido... — ele deu um sorriso fraco e sem humor e então prosseguiu — Cansados de levar dor e sofrimento às pessoas, meus irmãos e eu procuramos uma cura para nossa maldição e depois de uma busca que pareceu infinita, finalmente encontramos uma solução.
  "Fizemos um pacto com a lua e ela própria veio ao nosso encontro, disse que por eu ser o primogênito, carregaria a cura para a maldição de meus irmãos, que só poderia ser quebrada quando eu finalmente aprendesse a amar. Ela também disse que deveríamos proteger a família real, pois dela um dia nasceria uma criança destinada a reinar com sabedoria e justiça, levando nosso povo à completa paz... Isso foi à trezentos anos.
  Sebastian olhava em meus olhos, provavelmente esperando que eu saísse correndo e gritando, mas depois de terem jogado na minha cara que sou uma bruxa, nada mais me assusta.
  — Alec, seu pai o Rei Midas e eu caçavamos pela floresta em uma tarde de verão — prosseguiu — De repente um grupo de ladrões saltou das árvores e arbustos e nos cercaram, sua mãe era a líder deles, e quando paramos para observar melhor vimos que era um grupo de ladras.
  "Desde a primeira vez que se viram, seus pais se apaixonaram perdidamente. Eles tiveram que batalhar muito para ficar juntos mas no final conseguiram. Na festa de casamento, a bruxa Salém apareceu e declarou atrocidades contra os reis e os nobres, e antes de ir embora disse que quando a rainha desse a luz ao seu herdeiro, o rei estaria chorando e não sorrindo.
  "Aquilo não foi uma maldição mas seu pai interpretou como uma. Ele ordenou que meus irmãos e eu tomassemos à frente em uma comitiva de extermínio às bruxas, e foi o que fizemos.
  "Um pouco antes de você nascer, seu pai descobriu que sua mãe era bruxa e a trancou na mais alta torre. Todos pensam que naquela noite a rainha deu à luz a apenas um bebê, mas a verdade é que um casal de gêmeos veio ao mundo, uma menininha de cabelos brancos e pele alva e um menininho de cabelos negros como carvão e olhos tão azuis quanto dois cristais de clinoclase. As criadas conseguiram te esconder mas quando iriam esconder o príncipe, o rei entrou como um furacão no quarto e ordenou que eu matasse a criança... — ele olhou em meus olhos completamente chocados e disse — E eu obedeci, sua mãe morreu algum tempo depois, ela estava exausta e perdeu muito sangue no parto.
  O choque que percorreu meu corpo, não me deixou perceber que há muito estava chorando. Sebastian me olhava com os olhos desesperados e eu não fiz nada pois estava paralisada com o que ele havia acabado de me contar, para mim era inconcebível que um pai mandasse matar seu próprio filho e mais inconcebível ainda era que alguém fosse cruel e sem escrúpulos o bastante para obedecer.
  — Davina, eu não espero que você compreenda, mas eu não tive escolha. Se não fizesse, morreria...
  — Pois que morresse! — finalmente consegui dizer algo — Pelo menos assim morreria como alguém honrado! Eu no seu lugar preferiria mil vezes a morte a matar um bebê inocente! — a raiva fervia meu sangue e eu podia sentir a magia se agitando dentro de mim — Só falta agora você dizer que me trouxe aqui para terminar o trabalho que começou naquela torre.
  — A princípio sim... — respondeu como olhar colado ao chão.
  Aquilo foi a gota d'água, ergui as saias do vestido e corri para o interior da mansão, por algum milagre consegui fazer o caminho correto de volta ao quarto por entre aqueles corredores que mais pareciam um labirinto.
  Tranquei a porta atrás de mim e cai de joelhos no tapete felpudo que ficava no centro do aposento, àquela altura eu já chorara rios de lágrimas e libertei minha magia acompanhada de um grito profundo de agonia, fazendo com que todas as janelas da mansão estourassem em milhões de estilhaços.
  Depois me encolhi em uma bolinha cor de rosa e chorei por saudades de meus pais, meu Percy, meus amigos e chorei principalmente por ser burra o bastante por deixar que um monstro como Sebastian se aproximasse tão rapidamente de meu coração.