A Fera

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A caça e a Fera

"A Bela vê a Fera
E vira caça.
Vê como quem não espera
Alguma ameaça.

Bela, oh Bela
Por que insiste tanto
Numa fera que lhe ataca enquanto dorme?
Tola, ingênua...

Mas se não fizeste, não seria tão bela,
Como aquela
Que espero todas as noites
Como fera..."
Polímnia

 

  Fiquei em frente ao espelho enquanto Andrômeda apertava as amarras do corpete, meus pensamentos divagavam até Drian que havia partido à algumas semanas e ainda não enviara nenhum sinal de vida. Levei a mão ao pescoço procurando pelo presente de Alma e de todos os criados da mansão mas como acontecia nos últimos dias minha mão encontrava apenas a pele nua e macia de meu pescoço.
  — Eu disse que ficaria lindo em você! — disse Andrômeda sorrindo satisfeita enquanto pela primeira vez eu reparava em minha imagem refletida.
  Foquei minha atenção no vestido incrível e imponente que estava usando, ele era bem estruturado ao meu corpo e me deixava com certo ar de rainha, a sua saia era longa e possuía muitas e muitas anáguas, o tecido era de um tom champanhe coberto por um tule fino o qual continha flores bordadas na barra da saia, as flores, completamente negras, subiam até o meio da saia deixando o tecido de baixo aparecer mas logo depois voltaram a aparecer e iam até a parte de cima. As flores pareciam nuvens negras que se juntavam no céu em um dia tempestuoso, toda a peça emanava um ar de mistério e falei ao alisar as saias:
  — Devo admitir, Alma fez um excelente trabalho...
  — As fadas ajudaram. — disse Andrômeda indicando para que eu me sentasse em frente à penteadeira — Não estou tirando os créditos de Alma, nunca faria isso, mas quando ela e as fadas se juntam para costurar o resultado é tão maravilhoso que nunca conseguirá ser repetido. 
  — Eu só gostaria que esse vestido fosse feito para ser usado em um local ao qual eu realmente queira ir... — pensei em voz alta enquanto Andrômeda prendia meus cabelos em um perfeito penteado meio frouxo adornado por várias pedras em um lindo tom de branco que sumiam no meio de meus cabelos.
  Quando ela terminou usei minha magia para me esconder atrás do rosto de Bella e imediatamente as pedras se destacaram contra meus cabelos negros, os olhos azuis e a boca vermelha se destacavam contra a pele alva, o retrato da "perfeição" feminina me encarava de volta através do espelho e eu não gostava nem um pouco disso.
  Andrômeda contraiu os lábios e estava prestes a dizer algo quando batidas suaves na porta a interromperam, Sebastian colocou a cabeça para  dentro do quarto e sorriu quando me desfiz do feitiço para que ele pudesse me ver como realmente estava.
  — Só terão olhos para você esta noite — disse ele depositando um beijo em minha mão como um perfeito cavalheiro.
  Sorri para ele e então saímos de braços dados pela mansão. Alec, Melissa e William nos aguardavam no grande hall de entrada, Andrômeda vinha logo atrás de nós e William sorriu amplamente ao vê-la. Melissa parecia um raio de sol dentro de seu vestido amarelo bordado com fios de ouro, ramos dourados se espalhavam por toda sua saia e brilhavam juntamente com algumas pedras pequeninas que estavam espalhadas pelo tule dourado que envolvia seus braços em mangas compridas.
  Estendi minha magia para ela e num piscar de olhos os cabelos de Melissa se tornaram negros como os de Bella, seus olhos deixaram de ser verdes para se tornarem cinzentos, sua boca ficou rosada e sua pele tornou-se pálida.
  — Prefiro seu rosto verdadeiro. — mormurou Alec correndo os olhos pelos novos traços no rosto de Melissa.
  — Alguns sacrifícios são necessários para termos as mulheres que amamos. — disse Sebastian colocando a mão no ombro do irmão.
  — Acho que já estamos todos aqui. — disse Andrômeda — Já podemos ir.
  — Não, não podem. — disse uma voz que vinha do alto das escadarias, ao olhar se via Aurora em um vestido de cetim vermelho com muitas anáguas, apesar de o vestido não possuir nenhuma pedraria ou bordado, era lindo por si só e contrastava com a pele extremamente pálida de Aurora — Vocês não iriam ao baile sem me levar, iriam?
  — Não, nós não iríamos, — respondeu Melissa em um tom seco — Nós vamos ao baile, e vamos deixar você aqui!
  — Escute aqui menininha... — Aurora deu um passo em direção à Melissa e eu me coloquei entre as duas ao dizer:
  — Escute aqui você! — usei minha magia para desaparecer com a voz de Aurora e prossegui em tom frio — Não se meta com a minha irmã ou eu juro que mato você! Você vai ficar aqui como a perfeita criada muda, não quero saber o que você vai fazer, quero apenas que suma da minha frente e então quem sabe, quando eu estiver me sentindo piedosa eu devolva sua voz. Agora vá para o raio que a parta e não apareça tão cedo na minha frente!
  Aurora me fuzilou com o olhar antes de se virar e subir novamente as escadarias, ao meu lado Melissa apertou minha mão e sorriu. Horloge, vestido como um perfeito lacaio real, entrou no hall e disse com uma postura impecável:
  — As carruagens os aguardam.
  — Vamos? — Sebastian me ofereceu o braço sorrindo como se soubesse de algo que eu não sabia.
  — Esperem! — gritou Armena antes que eu pudesse abrir minha boca para responder, ela segurava em seus braços uma capa preta felpuda que aparentava ser bem quentinha e ao seu lado vinha Meredith carregando uma capa exatamente igual na cor branca — Não vou deixar que minhas meninas saiam nesse frio sem algo para aquecê-las!
  — Armena, acho que não é uma boa ideia... — disse Sebastian ao lançar um olhar estranho à capa enquanto Armena a colocava em meus ombros.
  — É só não contar! — disse ela colocando o capuz sobre minha cabeça e então sorriu como uma mãe satisfeita — Agora que minhas belas meninas estão bem agasalhadas, podem ir.
  Dito isso ela beijou minha bochecha e então se retirou, me voltei para Sebastian e lhe lancei um olhar inquisidor:
  — O que Armena quis dizer com "É só não contar!" ?
  — É melhor irmos. — disse ele me oferecendo o braço, com certa relutância acabei aceitando que me guiasse para o lado de fora.
  Meus sapatos afundaram na neve e um vento gelado entrou por dentro da capa assim que coloquei os pés para fora da mansão.
  — Talvez a ideia de Armena não tenha sido tão ruim... — mormurou Sebastian me puxando para mais perto de si a fim de me aquecer enquanto íamos em direção às três carruagens que nos aguardavam.

Castle (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora