Laços de Sangue

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I feel the way you want me
I see that you are lonely
If you couldn’t know, you’d leave with me
It’s more than curiosity
And I never long for winter
Your presence makes me shiver
I said that you’d be better if you’d only come with me
One Night — Christina Perri

    Cinco meses desde que Melissa e eu fomos sequestradas, cinco meses se passaram sem que eu visse meus pais ao menos uma última vez, cinco meses se passaram desde que eu havia visto Percy e Sky pela última vez... mas isso estava prestes a mudar.
  Aquele era o dia de meu aniversário de dezoito anos e Sebastian achou que era um bom presente me levar para reencontrar minha família e amigos. Andrômeda havia dito que conversara com minha mãe e com muito custo convencera a senhora Lavínia Tull a contar a todos que Melissa e eu estávamos na casa de uma tia em outro país, tudo isso em troca da promessa de sangue que Andrômeda nos protegeria com sua própria vida.
  Nesses cinco meses aprendi a controlar minha magia com alguns livros que Andrômeda roubava para mim, mas não era o bastante, eu ainda estourava as janelas quando Alec me deixava irritada, coisa que ele achava extremamente divertido. Para a surpresa de todos e a minha também, Andrômeda e eu nos tornamos grandes amigas, e Alma adorava ressaltar que aquela era uma amizade inusitada: a bruxa jurada de morte e a loba designada para matá-la...
  Aos poucos Sebastian estava revelando cada vez mais o homem por trás da fera e isso me deixava feliz, mas eu sabia que ainda havia muito trabalho a ser feito, havia noites em que eu ainda acordava com seus gritos ecoando pela mansão e então eu passava a noite em seu quarto a pedido dele, alegando que minha presença afastava os pesadelos.
  Mas agora caminhando pelas ruas de Manhattan a única coisa em que eu conseguia pensar era rever as pessoas que eu mais amava nesse mundo. Finalmente chegamos à minha casa e eu nem pensei em tocar a campainha, simplesmente fui entrando como fiz a minha vida inteira.
  Minha mãe e meu pai estavam calados na cozinha se preparando para encarar mais um dia que se estendia a sua frente.
  — Papai! — gritei assim que coloquei meu olhos nele e me atirei em seus braços, ao nosso lado Melissa se atirava nos braços de minha mãe. Após um longo tempo nos braços de meu pai, fui para os braços de minha mãe que estavam estendidos para mim como quando eu era criança.
  Sebastian, Alec e Andrômeda apenas nos observavam calados e quando minha mãe viu a garota loira de olhos negros em sua casa ela apenas disse comigo ainda em seus braços:
  — Obrigado...
  — Não há o que agradecer — respondeu Andrômeda — Eu jurei pela alma dele e vou comprir meu juramento por ele e por suas filhas.
  Achei a conversa delas meio estranha mas a falta de alguém naquela cena me chamou a atenção:
  — Onde está papai? — perguntei a minha mãe e ela sorriu ao dizer:
  — Foi buscar algo. — assim que ela terminou de falar meu pai entrou em casa acompanhado por Derrick, Sky e ...
  — Percy! — gritei me atirando em seus braços, ele me apertou forte contra seu peito, parecia que não acreditava que eu estava mesmo ali. A sensação se estar em seus braços era mil vezes melhor do que eu me lembrava e falamos ao mesmo tempo algo que nossas almas gritavam:
  — Eu te amo! — sorrimos ao ouvir nossas vozes se misturarem naquelas três palavras e nos beijamos como nunca havíamos nos beijado.
  — Agora eu sei porque Melissa detesta ficar perto desses dois! — bufou Sky.
  — Você fica uma gracinha com ciúmes, Sky. — provoquei abraçando ela, Derrick passou seus braços ao redor de nós duas e Percy fez o mesmo, transformando o abraço de amigas em um abraço grupal.
  — O que acham de um piquenique no Central Park? — sugeriu papai — Não podemos quebrar a tradição dos Tull.
    Em pouco tempo, Melissa, mamãe e eu preparamos a cesta de piqueniques e a entregamos a meu pai que a guardou no porta malas do volvo. O carro de meu pai era pequeno demais para todos nós, então nos dividimos entre o Volvo xc60 de meu pai e o Toyota Camry de Percy.
  Percy dirigia em silêncio enquanto eu ouvia música em meu celular (que encontrei em cima da minha cama perfeitamente arrumada) e no banco de trás, Sebastian, Andrômeda e Alec permaneciam calados, apenas olhando pela janela. Eu estava tão distraída com Manhattan do outro lado da janela que só fui perceber um sinal de vida dentro do carro quando suavemente Percy retirou um dos fones de meu ouvido:
  — Distraída como sempre... — ele sorria de uma forma tão bonita que acabei me apaixonando novamente.
  — Desculpe — dei um beijo em sua bochecha e sorri — O que você disse?
  — Eu perguntei se vamos seguir a tradição este ano.
  — Mas é claro! — falei em tom firme e ele sorriu — São meus dezoito anos e quero comemorar como sempre comemoramos! — até porque, talvez essa seja minha última chance de te ver e ser a Davina de sempre... acrescentei mentalmente.
  — Tradição? — perguntou Andrômeda me avaliando com um olhar curioso.
  — Sim, — respondi — todos os anos no dia do meu aniversário o tio de Percy faz um baile digno dos anos 50 e já virou tradição nossa comemorar meu aniversário assim. Vocês estão convidados, eu gostaria mesmo que fossem.
  — Mas é claro que nós vamos! — Andrômeda sorria de uma forma meio afetada — Não vamos Sebastian?
  — Sim — respondeu ele com um sorriso fraco — Nós vamos.
  O piquenique foi maravilhoso, meus pais estavam felizes e sorriam ao ver Alec e Melissa juntos mas ainda havia uma sombra de preocupação por causa da verdadeira natureza de Alec, Andrômeda atraía os olhares de todos os rapazes no parque e alguns mais descarados sorriam para mim mesmo vendo que eu estava com meu namorado. Sky e Derrick se sentaram ao meu lado e de Percy e conversamos como nos velhos tempos, antes de toda essa maluquice de filha de um rei maluco, órfã de uma mãe e rainha amorosa, criada pela parceira de roubos de minha mãe biológica...
  Ocasionalmente eu sentia um par de olhos grudados em mim e não precisava olhar para saber que pertenciam a Sebastian.
  Já estava escurecendo quando meus pais decidiram que já era hora de voltar para casa, então começamos a guardar tudo de volta no carro.
  — Mãe, — falei — nós vamos para casa da vovó, tudo bem?
  — Nós quem? — ela me olhava com as sobrancelhas erguidas.
  — Percy, Andrômeda, Sebastian, Alec... — olhei para minha irmã — Você vem Melissa?  — ela sorriu e eu sorri indicando o pequeno grupo a minha mãe — Nós!
  — Se despeça antes de ir embora. — ela me deu um beijo na testa e prometi que antes de partir eu me despediria dela e de meu pai.
  No carro, Melissa viajava no colo de Andrômeda e conversava animadamente com Percy, ela estava tão feliz por estar de volta que até se esquecera das usuais grosserias para com Percy que dirigia segurando minha mão, acho que para ter certeza de que eu estava mesmo lá.
  Ao chegarmos na casa de minha avó, Melissa entrou na frente feito um furacão, eu sorri e entrei de mãos dadas com Percy, Sebastian, Alec e Andrômeda vinham logo atrás.
  Meus avós sorriram ao me ver e me deram um abraço apertado, como presente de aniversário meu avô me deu um par de sapatos pretos de saltos enormes e uma faixa preta com detalhes dourados no tornozelo. Meu avô sorriu e disse:
  — Quando eu os vi na loja achei que eram perfeitos para você, que combinavam com seus cabelos. — meu avô sempre gostou dos meus cabelos coloridos, ele sempre dizia que combinavam com meu espírito livre.
  — Obrigado — falei dando-lhe um beijo na bochecha, depois lhe dei um abraço e fui para o quarto de minha avó seguida por Andrômeda e Melissa.
  Ao abrir a porta dei de cara com dois belos vestidos em cima da cama e minha avó mexendo em seu porta jóias, assim que nos viu vovó sorriu e nos apertou em um grande abraço, e quando ela reparou em Andrômeda, a abraçou da mesma maneira, alegando que coração de avó é igualzinho ao de mãe, portanto sempre cabe mais um. 
  — Vovó, a senhora teria outro vestido? Andrômeda também vai conosco... — falei.
  — Algo que tenho algo... — vovó abriu o guarda roupas e tirou de lá uma caixa branca com um laço rosa na tampa, ela abriu a caixa e tirou dela um vestido igualzinho ao famoso vestido esvoaçante que Marilyn Monroe usou no filme "O Pecado Mora ao Lado" — Gosta desse querida?
  Não precisava perguntar, só a expressão de Andrômeda já havia deixado bem claro que ela amara o vestido, seus olhos estavam brilhando e minha avó sorriu satisfeita por ver a reação dela.
  Ao ver meu vestido fiquei maravilhada, a parte de cima dele era preta com decote V um pouco cavado e deixava os ombros quase à mostra, sua saia branca era rodada e tinha muitas anáguas (algo com a qual eu já havia me acostumado) o comprimento da saia ia até os tornozelos, o que deixaria os sapatos que meu avô havia me dado completamente à mostra.
  O vestido de Melissa era branco de bolinhas vermelhas, o vestido possuía um decote canoa e não tinha mangas, na cintura havia um laço delicado vermelho e sua saia, também rodada e com anáguas, ia até a altura dos joelhos, o que deixava Melissa um pouco mais alta visualmente.
  Quando coloquei meu vestido me senti uma verdadeira dama dos anos 50, quando sai de trás do biombo Melissa e Andrômeda me olharam admiradas e vovó lutou contra as lágrimas.
  — Eu usei este vestido na noite em que seu avô me pediu em namoro — disse ela finalizando o belo coque indescritível que ela havia feito em meu cabelo colocando em minha cabeça uma fita branca com uma delicada fivela de pedraria que servia como tiara.
  Assim que me levantei da cadeira, Melissa saiu de trás do biombo e a próxima a entrar atrás dele foi Andrômeda. Vovó havia deixado o cabelo ruivo de Melissa solto, fazendo apenas um topete com sua franja e amarrando uma fita vermelha idêntica a da cintura em sua cabeça. Com o vestido, o penteado, o batom vermelho, as bochechas rosadas e os olhos delineados em estilo gatinho, Melissa se parecia (e muito!) com uma bonequinha de porcelana que as meninas da década de 30 e 40 tinham.
  Quando Andrômeda saiu de trás do biombo, nós três a olhamos admiradas, devo dizer que aquele vestido ficou melhor nela do que na Merlin Monroe. Melissa, vovó e eu ficamos completamente sem ação e pela primeira vez desde que a conheci, Andrômeda parecia sem jeito perante aos três pares de olhos que a contemplavam admirados. Vovó foi a primeira a sair do estado de tranze ao dizer:
  — Venha querida, vamos arrumar esse cabelo.
  Enquanto vovó prendia os cabelos de Andrômeda em um belo rabo de cavalo digno dos anos 50, Melissa e eu caçavamos os sapatos. O presente de meu avô ficou perfeito em mim e como o vestido ia somente até a altura dos tornozelos, os belos sapatos ficavam totalmente à mostra.
   Não resisti ao impulso de girar em frente ao espelho e pude ouvir o riso de minha avó, minha irmã e o de Andrômeda. Ao olhar meu reflexo, os cabelos cor de rosa se destacavam e pela primeira vez na vida desejei que eles tivessem uma cor "normal", e foi exatamente o que minha magia fez, meus cabelos assumiram um belo tom de castanho.
   — Eu acho que Percy vai estranhar que sua namorada naturalmente " loira" apareça morena de uma hora para outra. — disse minha avó suavemente.
 

Castle (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora