Drian!

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Someone told me stay away from things that aren't yours
But was he yours if he wanted me so bad?
Pacify Her - Melanie Martinez


— Davina! — só tive tempo de ouvir a exclamação de minha mãe antes que a mesma me envolvesse em um abraço de urso, logo em seguida foi a vez de meu pai me envolver em seus braços protetores.
   — Davye... — Melissa olhou para mim com os olhos marejados e puxei minha irmã para meus braços enquanto ela irrompia em lágrimas — Tive tanto medo de que você não acordasse mais...

  — Shhh... — acariciei seus cabelos e depositei um beijo no topo de sua cabeça — Eu estou aqui, e é isso o que realmente importa.
  Quando Melissa me soltou, olhei para Percy que me olhava com o olhar transbordando de alívio, sem dizer uma palavra me atirei em seus braços e me senti confortada quando ele me abraçou de volta. Gayna, Armena e Alma foram as próximas a me abraçar e Margot e Meredith encerraram a cessão de abraços.
  — Acho que a menina Davina precisa andar um pouco — disse Alma —, afinal, ela ficou cinco meses inteiros sem mover nenhum músculo.
  — Alma tem razão! — disse minha mãe me puxando para que eu levantasse da cama — Seus músculos podem acabar atrofiando e magia nenhuma vai conseguir reverter isso.
  Com certa dificuldade me levantei da cama e vagarosamente andei pelos corredores da mansão com mamãe e papai me apoiando. Estávamos no meio do corredor quando uma das grandes portas duplas se abriu e Aurora saiu de dentro de seu quarto, ela me lançou um olhar surpreso ao qual retribui com um sorriso enorme:
  — Olá Aurora!
  Aurora me encarava como se tivesse visto um fantasma, ela estava muda, abrindo e fechando a boca sem saber o que dizer. Sua falta de assunto acabou assim que viu Melissa, ela lançou uma expressão de falsa apreensão para minha irmã e disse:
  — Alec já deu notícias?
  — Notícias de meu noivo não lhe dizem respeito! — respondeu Melissa em tom ríspido.
  Aurora sorriu satisfeita e então se foi, lancei a minha irmã um olhar de "o que ela quis dizer com isso?" e Melissa apenas mormurou algo sobre conversamos mais tarde, o que me deixou ainda mais curiosa.
  — Mãe, — olhei para minha mãe fazendo cara de cachorrinho que caiu do caminhão da mudança — Podemos ir ao jardim?
  — Não precisa fazer essa carinha de menininha carente — disse minha mãe acariciando meus cabelos — Vamos fazer qualquer coisa que você quiser.
  — Qualquer coisa? — perguntei sentindo meus olhos brilharem.
  — Desde que não seja algo perigoso. — acrescentou meu pai.
  — A única coisa que quero é me sentar no jardim e ter uma longa conversa com minha querida irmã. — falei lançando a Melissa um sorriso ao qual ela conhecia muito bem o significado.
   Mamãe e papai nos acompanharam até o jardim e meu pai teve um grande trabalho para convencer minha mãe a deixar Melissa e eu à sós. Assim que eles se afastaram me voltei para minha irmã e fui direto ao ponto:
 

O quê diabos está acontecendo?
  — Eu deveria estrangular aquela Aurora,  — mormurou Melissa — Sempre falando mais do que a porcaria da boca perfeita...
  — Melissa! — interrompi seu monólogo de ódio e a fiz olhar para mim — O que está acontecendo?
  Soltei cada palavra pausadamente sem nunca desgrudar meus olhos dos belos olhos azuis de  Melissa, ela me olhou por mais algum tempo e soltou um pesado suspiro ao dizer:
  — Alec e eu passamos a tarde no jardim, algum tempo depois Horloge veio avisar a Alec que Sebastian queria conversar imediadamente. Duas horas atrás Alec veio me procurar, disse que Sebastian conseguiu descobrir o que estava na floresta e que iriam imediatamente parar a criatura, Sebastian também acha que o que quer que esteja naquela floresta pode estar envolvido com o que aconteceu a você mas...
  Num súbito surto de adrenalina saí correndo em direção à floresta sem olhar para trás. Era incrível como a cada vez que eu entrava naquela floresta ela parecia um lugar diferente, dessa vez ela não estava silenciosa como na noite em que fui amaldiçoada por Salém, mas também não havia a linda melodias das harpas e das vozes das fadas; naquela noite, enquanto eu corria pela floresta, eu podia ouvir o mormurar preocupado das fadas e pelo canto do olho vi que algumas delas me acompanhavam.
  Depois de tanto correr encontrei um riacho onde Drian se encontrava todo sujo de lama e sangue, ele estava de bruços e sustentava o peso de seu tronco nos cotovelos, Alec e Andrômeda apenas observavam de braços cruzados enquanto Sebastian se preparava para dar um forte chute na cabeça de Drian.
  — Sebastian, pare! — gritei me dando conta de que a intenção de Sebastian era causar o máximo de dor possível antes de "misericordiosamente" conceder a paz da morte a Drian.
  Os três lobisomens me olharam surpresos enquanto eu corria para Drian, que a essa altura já havia desfalecido nas águas geladas do riacho.
  — Drian — chamei pegando seu rosto ensanguentado entre minhas mãos, Drian estava gelado e mal respirava, o desespero tomou conta de mim, sacudi seu corpo musculoso na esperança de fazê-lo acordar mas nada aconteceu, desesperada me voltei para Sebastian e gritei — O que você fez?
  — Davina, como...? — Andrômeda me olhava sem acreditar que eu estivesse mesmo ali enquanto meu desespero aumentava ainda mais pois Drian não acordava.
  — Drian, por favor acorde, você não pode me deixar, não pode me deixar sozinha...
  — Davina... — Sebastian colocou a mão em meu ombro e me esquivei, minha única preocupação agora era Drian.
  Uma das fadas assumiu o tamanho de um ser humano e se ajoelhou ao meu lado, tomou o rosto de Drian entre as mãos e imediatamente sua respiração se tornou regular.
  — Posso ajudá-lo, — disse ela — mas não aqui. Há um chalé abandonado não muito longe, acha que consegue carregá-lo até lá?
  — Não sozinha.
  — Você nunca está sozinha. — ao me virar dei de cara com Percy, ele se ajoelhou ao lado da fada e passou o braço de Drian ao redor dos próprios ombros, logo em seguida fiz o mesmo e então o levantamos.
  — Davina eu... — Sebastian tentou se explicar e eu simplesmente o cortei:
  — Você já fez o bastante por hoje, não acha?
  Sebastian ficou calado e deixou que Percy e eu seguissemos a fada pela floresta. De fato, não muito longe havia um chalé abandonado, a fada entrou nele seguida por Percy e por mim, carregamos Drian até um quarto onde ela indicou que deveríamos deixa-lo sobre a cama.
  — Podem nos deixar à sós? — olhei para Drian meio relutante em deixá-lo, a fada colocou a mão em meu ombro e sorriu — Ele ficará bem, mas para isso precisa me deixar trabalhar.
  — Davina, vamos. — Percy me conduziu para fora do quarto enquanto a fada ia em direção a Drian e começava o processo de cura.
  Percy me levou para a varanda e do lado de fora do chalé estavam Sebastian, Alec, Andrômeda, Melissa e Aurora. Assim que Sebastian me viu veio até mim e sem dizer uma palavra me envolveu  um abraço apertado, apesar da raiva deixei que ele me abraçasse, no fundo eu queria aquele abraço...
  Sebastian se afastou um pouco e acariciou meu rosto, seus olhos negros não desgrudavam dos meus nem por um único segundo, ele foi chegando mais perto e quando estava prestes a me beijar Aurora me puxou pelo braço, me separando de Sebastian.
  — Sua mãe nunca lhe ensinou a ficar longe do que não é seu? — rosnou por entre os dentes.
  — Não acho que Sebastian seja seu. — respondi me segurando para não esbofetea-la — Afinal, como ele pode ser seu se o que ele mais deseja é a mim?
  Vermelha de raiva Aurora avançou contra mim e ergueu a mão para me bater, com apenas uma mão bloqueei seu tapa e disse em tom firme:
  — Minha mãe nunca gostou que eu brigasse, mas ela sempre me disse que se fosse para entrar numa briga que seja para ganhar e acredite princesinha, ao contrário de você eu não fui criada num palácio, você pode até vir com um quente, mas vai voltar com dois fervendo! — dito isso soltei Aurora e me afastei pisando duro.
  — Um quente e dois fervendo? — perguntou Sebastian vindo atrás de mim.
  — É um provérbio português. — respondi.
  — Sabe, você tem razão — olhei para ele sem ter a menor ideia do que ele estava falando e Sebastian sorriu — Você de fato é o que eu mais desejo.
  — Bem, você já deixou isso bastante claro diversas vezes... — respondi me sentando ao pé de uma árvore e Sebastian se sentou ao meu lado — Mas se não quiser que eu repita novamente eu...
  — Mas eu quero que você repita. — interrompeu-me ele — Eu quero que você diga porque é a verdade, Aurora pode pensar que sou dela, mas quem eu realmente desejo é você Davina...
  — Me desejar não mudará o que fez a Drian. — falei me lembrando de Drian caído, derrotado, coberto por lama e sangue.
  — Davina, eu apenas quis te proteger...
  — Proteger como?! Matando?!
  — Ele iria te matar! — Sebastian ergueu a voz atraindo a atenção de todos para nós, ele baixou o tom e tomou minhas mãos nas suas — Fiz isso porque pensei que ele estivesse envolvido com a maldição do sono, esses foram os piores cinco meses da minha vida e só de pensar na possibilidade de te perder fico apavorado...
  — Não se pode perder algo que não lhe pertence. — falei, Sebastian me olhava como se eu houvesse lhe dado um tapa no rosto e por mais que eu desejasse dizer o contrário, algo dentro de mim me obrigou a dizer — Você pode até me  desejar, mas me responda: já parou para se perguntar se o sentimento é recíproco?
  — Davina... — ele me olhava como se não me conhecesse e mais uma vez despejei as palavras sem querer dizer nada daquilo:
  — Eu não o amo, nem nunca vou amar!
  Sebastian me olhou surpreso por mais algum tempo e então se afastou, depois de horas Alec e Melissa vieram até mim e minha irmã disse:
  — Vamos voltar à mansão, já está tarde, você deveria vir conosco...
  — Não saio daqui até saber que Drian está bem. — afirmei.
  Melissa contraiu os lábios e então foi embora, Alec se abaixou à minha frente e colocou a mão em meu ombro.
  — Davina, mil perdões pelo que causamos a Drian, Sebastian só queria protegê-la e ás vezes ele não encontra outra saída que não seja a violencia... — Alec não sabia bem o que dizer, olhei em seus olhos e forcei um sorriso, e ele me surpreendeu totalmente ao me puxar em um abraço — Sebastian não fez por mal Davina, ele só queria te proteger.
  Alec depositou um beijo no topo de minha cabeça e então se foi, Andrômeda veio se sentar ao meu lado e passamos um longo tempo caladas até que a fada saiu de dentro do chalé e veio até nós:
  — Ele quer vê-la.
  Não precisei ouvir mais nada, imediatamente me levantei e corri para o quarto onde Drian estava. Hesitei um pouco quando cheguei ao corredor, fiquei alguns minutos com a mão na maçaneta sem me mexer até que respirei fundo e entrei, Drian estava deitado sobre a cama, seus cabelos ainda estavam sujos e molhados, seu rosto estava inchado, mal dava para ver seus olhos.
  Pé ante pé, fui me aproximando da cama, Drian ergueu um pouco a cabeça e sussurrou com a voz fraca:
  — Davina?
  — Estou aqui. — falei colocando minha mão na sua,  ele a apertou levemente e esboçou um sorriso — Como se sente?
  — Já passei por coisas piores — respondeu — O que realmente me preocupa é você...
  — Não vou matar nenhum dos três, se é isso que o preocupa.
  — Isso é bom. — ele sorriu amplamente — Seu coração é puro e é assim que deve permanecer!
  — Drian... — comecei mas fui interrompida por sua voz suave:
  — Eu não vou a lugar nenhum Davina, não vou deixá-la sozinha, eu prometo. — assim que ele disse isso senti como se um enorme peso tivesse sido tirado de meus ombros — Davina, pode cantar para mim?
  — O que? — perguntei sendo inundada pelas lembranças compartilhadas com Percy que adorava me ouvir cantar e eu ficava feliz em cantar só para ele e apenas para ele.
  — Quando os lobos viajaram pude me aproximar mais da mansão,  numa dessas aproximações ouvi você cantar para Melissa, sua voz é linda e eu adoraria ouvi-la cantar novamente...
  Sorri para e então cantei uma das músicas que Melissa mais gostava de ouvir, enquanto eu cantava pude ver um brilho branco encantador irradiar de minhas mãos e ao tocar a face de Drian curei todos os seus ferimentos. Lentamente Drian abriu os olhos e sorriu para mim:
  — Uma bruxa com rosto de anjo e voz de sereia... — seu sorriso se abriu ainda mais e foi impossível não retribuir — Acho que você ficou em duvida sobre o que queria ser...
  — Não consegui me decidir entre os três. — respondi sorrindo ao passar a mão pelos seus cabelos.
  — Davina, como acordou? — perguntou ele.
  — Percy, o meu... meu ex namorado. O que eu não entendo é como Percy conseguiu quebrar a maldição.
  — Com amor verdadeiro — ao me virar dei de cara com a fada, lancei a ela um olhar intrigado e a criatura feérica se aproximou de nós — Maldições do sono só podem ser quebradas pelo amor.
  — Mas antes de Percy quebrar a maldição, Sebastian me beijou, se a maldição do sono só pode ser quebrada com amor verdadeiro como o beijo de Sebastian, que já confessou tantas vezes que me ama, não quebrou a maldição?
  — E como Aurora acordou sem o beijo de amor verdadeiro?  — completou Drian.
  — Para quebrar uma maldição do sono o amor tem que ser confessado por ambas as partes, as duas pessoas devem assumir uma para a outra que se amam, quanto ao caso de Aurora ter acordado sem um beijo foi por que a maldição só pode atingir uma única pessoa, quando Davina tocou o fuso assumiu a maldição para si e libertou Aurora de seu sono eterno.
  — Como o titã Atlas sustentando o peso dos céus... — sussurrei.
  — O que? — Drian me olhava sem entender do que eu estava falando.
  — Atlas, na mitologia grega, é um titã que foi condenado por Zeus a sustentar os céus para sempre, ele só poderia escapar se outra pessoa assumisse seu fardo e só uma pessoa que o amasse muito teria coragem para assumir o castigo em seu lugar mas Atlas era um monstro, e quem em sã consciência seria capaz de amar um monstro? — soltei as ultimas palavras em um sussurro, imagens de Sebastian passavam por minha mente e me peguei pensando em minhas palavras "E quem em sã consciência seria capaz de amar um monstro?"...
  — Davina, monstros podem amar e ser amados, não somos desprovidos de sentimentos... — Drian estava prestes a fazer um enorme discurso sobre monstros também amarem e eu o cortei dizendo:
  — Drian, eu não estava falando de você, eu estava falando de...
  — Falando de Sebastian. — interrompeu-me ele.
  — Sim e... não. — respondi me sentindo exausta.
  — Davina, você pode não admitir mas todos sabem que você ama Sebastian, e o sentimento é recíproco.
  — Podemos por favor mudar de assunto? — falei, não queria mais discutir sobre sentimentos que nem eu mesma entendia.
  — Tudo bem então... — Drian rapidamente levou a conversa para outros caminhos até que ouvi a verdadeira história de amor do tigre e da bela rainha,  e no final das contas a lenda contada por Sebastian não era tão diferente assim do que realmente aconteceu.
  — Drian, — falei assim que ele terminou de falar, havia algo martelando em minha cabeça e não consegui me conter — Você tem onde morar?
  — Davina, sei me virar...
  — Sim ou não Drian!
  — Não, eu não tenho onde morar — respondeu ele derrotado.
  — Pois então você vem comigo para a mansão! — falei em tom decidido, Drian me olhou como se eu tivesse enlouquecido e prossegui — Não adianta fazer essa cara, aquela casa também é minha e você será meu hóspede.
  — Davina, você consegue me imaginar sob o mesmo teto que três lobisomens? — perguntou ele em tom cético.
  — Vocês terão que aprender a conviver! — Drian abriu a boca para protestar e eu o cortei dizendo — Drian, você é a única pessoa nesse reino ao qual não fui obrigada a conviver, você não mede as palavras perto de mim por medo de perder o emprego ou mesmo de me irritar a ponto que eu perca o controle sobre minha magia e acabe te matando. Você é meu melhor amigo Drian, e eu quero fazer tudo que estiver ao meu alcance para te ajudar.
  — Você não vai desistir não é?  — perguntou ele dando um suspiro derrotado.
  — Pode apostar que não!
  — Muito bem então, acho que os lobos vão ter que me engolir.

Castle (Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora