Capítulo 34 - Voltando

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O vento que entrava livremente pela janela aberta do carro brincava com meus cabelos, fazendo-os dançar em volta do meu rosto. A música alta que soava pelos alto falantes do carro, servia de distração para minha mente.

Volta e meia meus olhos recaiam sobre a carta, cuja borda era visível por uma fresta da bolsa entre aberta, largada displicentemente no banco ao lado.

Diminui a marcha e enfiei a mão na bolsa pegando-a para reler mais uma vez.

" Leah,

Passou-se muito tempo desde que nos vimos pela última vez. Em sua carta de despedida você afirmou que me amava e que desejava me ver feliz, se isso é mesmo verdade, me sinto no direito de pedir-lhe algo em nome desse sentimento.

Gostaria que você viesse para a celebração do meu casamento..."

Fiquei impossibilitada de continuar a ler por conta das lágrimas que inundavam meus olhos.

As lembranças da época em que vivi em La Pusch viram-se livres para desfilar por minha mente. Havia se passado tanto tempo desde que fui embora... Cinco longos, duros e difíceis anos me separavam de tudo aquilo.

Nenhum um dia se quer consegui me afastar realmente, todos os dias eu ligava para minha mãe, conforme lhe havia prometido. E o simples fato de ouvir sua voz doce, era o suficiente para ressuscitar as lembranças que eu lutava fervorosamente para manter longe.

Após me estabelecer em Houston, no Texas, ela veio me visitar algumas vezes, o que era um grande conforto para meu coração partido e solitário. Tínhamos um acordo tácito, nunca falávamos de La Pusch, ela tão somente me falava do seu trabalho e de Seth. Os dias que antecediam sua chegada eram uma verdadeira tortura para mim. Ela era o único elo que me mantinha ligada aquele lugar, fora meu irmão. Com ele os contatos restringiam-se as ligações e aos cartões de aniversário e festas de fim de ano.

Ele provou ser tão fiel a mim quanto a minha mãe. A primeira vez que falei com ele, logo após minha saída, ele mostrou-se bravo, confuso e profundamente magoado por deixá-los. Sua amizade com Paul tinha sido abalada quando ele se negou a dizer onde eu estava, e ele me culpava por isso. Eu entendia como ele se sentia, mas fui firme ao rogar mais uma vez que ele não dissesse nada a ele.

Ele tinha vindo me visitar uma única vez, dois anos atrás, eu chorei quando o vi surgir no saguão do aeroporto, o menino travesso e desligado, tinha ido embora, deixando em seu lugar um jovem lindo, de sorriso cativante e olhos amorosos. Sorri ao lembrar que ele tinha me pedido para soltá-lo, afim de que pudesse respirar, depois de eu tê-lo mantido preso em meus braços por longos minutos.

Eu o tinha levado para meu apartamento, localizado sobre a clínica onde eu trabalhava como enfermeira durante o dia, e o mantive falando por horas.

Assim que cheguei à cidade, fui direto as agencias de emprego, eu não podia me dar ao luxo de torrar todas as minhas economias, por isso procurei logo por uma ocupação, e fui muito feliz logo em minha primeira entrevista.

A Doutora Susan Whitbach, era uma mulher de meia idade, que tinha uma Clínica Pediátrica na área central de Houston, ela buscava alguém que pudesse trabalhar como recepcionista; assim que nos apresentamos senti que nos daríamos bem. De algum modo ela me lembrava minha mãe, talvez por seu jeito meigo e doce, ou por ser possuidora de olhos sábios, do tipo que já haviam visto muita coisa nessa vida. Seja como for, após uma longa conversa, ficamos acertadas que eu começaria no dia seguinte, quando ela me perguntou onde eu morava, fui sincera, dizendo que estava vivendo em um hotel, até que pudesse receber meu primeiro salário para poder alugar algo para mim.

She WolfOnde histórias criam vida. Descubra agora