Hoje era o dia do funeral do meu pai. Fui acordada pelo choro e gritos sufocados da minha mãe, e das vozes abafadas dos meus tios a concederem consolo emocional. A única coisa em que pensava era em que o tempo passasse rápido e puder finalmente me ver livre dele. Olhei para o relógio que pousava em cima da cabeceira e indicava 5h00 da manhã.
O funeral era por volta das 14h00 e eu sabia que nao iria. Não porque não aguento ver o meu pai morto, mas sim porque sempre desejei que isso acontecesse e não sentia qualquer tipo de tristeza, mas sim alivio. O monstro que me atormentou durante anos a mim e a minha mãe nunca mais iria aparecer á minha frente e uma onda de felicidade atingiu-me.
Decidi levantar-me e tomar um duche, lavei-me com o champoo de coco e com o gel de banho de pêssego. A sensação era incrível, de um reconforto. Lavei os dentes e vesti um par de calças de ganga com uma camisola laranja para demonstrar que não estava de luto. Calcei os meus ténis pretos das adidas e prendi o meu cabelo num coque bagunçado. Coloquei 3 mudas de roupa numa mochila cinzenta e vesti o casaco mais quente que tinha. Não só porque estava frio, mas porque eu sei que iria precisar nos próximos tempos, visto que ia sair de casa.
Uma parte de mim está destroçada, pois vou deixar a minha mãe, mas a morte do meu pai fez-me perceber tudo o que a minha mãe fez por ele, mesmo depois de ele nos tratar tão mal ao longo dos anos e ver pelos seus proprios olhos o meu sofrimento e ela nunca fez nada. Ele não me transmitiu uma relação de amor entre duas pessoas, apesar de sempre demonstrar que estava tudo bem, até o vizinho percebia que não estava.
Desci as escadas em direçao á sala formando-se um silencio e uns olhares confusos a perguntarem onde eu iria. O olhar da minha mãe era bastante revelado, demonstrava que ela estava a espera que isto acontecesse e ela sabia que não havia nada que ela pudesse fazer para que eu mudasse de ideias.
-"Eu vou sair, não sei quando volto" disse quando me virei.
-" Ah... e os meus sentimentos"- as palavras tinham um sabor amargo, como se eu não acreditasse que alguém estaria a sofrer por uma pessoa como ele.
Virei costas e dirigi-me á porta fechando-a com força. O ar fresco da manhã atingiu-me e eu não fazia ideia para onde iria.
Depois de andar por volta de 10 minutos, decidi apanhar o underground não pagando bilhete pois tinha de poupar os 100 euros que levava comigo. Assim que entrei dentro do carrinho subterraneo, fechei os olhos e deixei-me levar pelo som dos ferros que batiam contra o piso e sonhei com uma rapariga de cabelos castanhos a chorar sozinha no quarto ás 2h00 da manhã.
Sou acordada por um abanão de um rapaz com os olhos mais bonitos que vi, eram de um azul marinho e o seu cabelo loiro era iluminado pelo sol que batia contra a janela .
-"Desculpa, mas estamos a chegar á última paragem e achei que era bom te avisar, caso não queiras voltar ao ponto de onde partiste"- notei logo pelo seu sotaque que não era inglês, mas sim irlandês. Consegui perceber pelo facto do meu ex-namorado ser da irlanda.
-" Não faz mal, e obrigada... se bem que não me importo onde irei parar"
-"Ah és daquelas raparigas rebeldes que gostam de estar em todo o lado e descobrir coisas novas até irem parar á esquadra da policia no final do dia"- disse ele, com uma gargalhada no fim para completar a sua frase. O riso dele era contagiante e fez-me sorrir também.
-" Sou o Niall, muito prazer."
-"Olá, sou a Katherine, mas podes chamar-me de Kate. E já agora não sou uma dessas raparigas, na verdade nem sei o que me deu na cabeça para enfiar-me no metro, sem bilhete, e deixar-me levar até ser presa"
-"Bom, ainda bem que fui eu que te acordei"- disse ele com um sorriso nos lábios.
-"Não devias ir para casa? Os teus pais já devem estar á espera para almoçares"
-"Mãe"- disse eu corrigindo " Não te preocupes, ela sabe que não estarei de volta em breve"
-"Desculpa, não sabia... lamento imenso"- ele disse com um olhar destroçado.
-"Não lamentes porque eu também não... ele nunca me foi nada de qualquer das maneiras"- revirei os olhos.
-" E que tal irmos almoçar? Eu pago e podemos falar se quiseres"
-" Eu não sei se.."
-"Nada melhor que um estranho para desabafar" disse ele, interrompendo-me, com um sorriso tímido que me fez sentir borboletas na barriga.
-"Está bem, aceito"- sorri.
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My Anchor ➸ n.h
Fanfiction❝ Por mais forte que seja a dor dele eu estarei sempre lá para curá-la como ele curou a minha. Nós seremos sempre a âncora um do outro ❞ ®All rights reserved®