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Lentamente começo a ter noção de que uma luz enorme me está a ser refletida. Os meus olhos encontram-se fechados e por mais força que eu faça para os abrir não adianta. O meu corpo parece estar coberto por sacos de areia pesados não permitindo que nenhum músculo meu se mecha. A frustração irradia em mim até que percebo que consigo ouvir quando o som que me parece ser de uma máquina de batimentos cardíacos preenche a minha audição.

Momentos se passaram até eu ouvir uma porta a abrir e fechar. O desespero de me querer mexer e gritar para que saibam que eu estou aqui aumenta a cada segundo que passa. A pessoa que entrou parece se aproximar mais de mim quando sinto a sua respiração no meu rosto demasiado perto da minha. O nariz roça com o meu assustando-me. O alívio percorre o meu corpo quando um beijo é depositado na minha testa e não nos meus lábios.

-Desculpa...- a única palavra que ouvi desde que acordei mentalmente. A voz parecia-me familiar, grossa e masculina mas mesmo assim não consegui identificar.

A porta volta a abrir muito mais rápido e a fechar como se outra pessoa entrasse mas desta vez de rompante.

-Harry... eu já te disse que ela não irá gostar de acordar e te ver aqui.- Gemma. Tudo na minha cabeça parece se estar a reconstruir como um puzzle. Começo a lembrar-me do que aconteceu. Lembro-me de estar a dormir e de um telefone tocar. Depois, por alguma razão fui ao hospital e encontrei o Harry magoado. Lembro-me de lhe bater porque... porque. Dou voltas e voltas e não percebo o porquê de estar aqui.

-Eu sei. Mas eu precisava de vê-la.

-Pronto já viste agora sai.

-Como é que está o Niall?- o Niall. A minha mente alerta todos os meus sentidos. O meu menino. Ele fez mal ao meu menino. Uma dor perfura o meu peito quando me começo a lembrar das suas palavras : "Ele está em coma".  

-Ele está na mesma. Os médicos estão agora a operá-lo. Ele partiu algumas costelas mas se tudo correr bem ele vai ficar bem.

-Merda, merda, merda. Eu nunca deveria de ter feito aquela chamada. Eu coloquei a vida de duas pessoas em risco em troca de o cabrão ficar calado.

-Tens razão. Nunca deverias de ter sido tão egoísta. Mas foste-o e agora já não há nada a fazer. Destruís-te a vida de uma rapariga de 19 anos. Ela provavelmente teve um passado, bom ou mau, mas agora o seu futuro que poderia ser para remediar as coisas más ou para serem exercidos erros foi por água abaixo. - oiço-o a chorar baixinho ao meu lado. Tento com todas as minhas forças alcanças a sua mão apesar de não saber onde está. Relaxo de imediato quando sinto a sua mão na minha enquanto ele faz pequenos círculos com o seu polegar.

-Espero que não te tenhas esquecido do que aconteceu com a Rose.- A mão do Harry congela. Sei que o nome daquela rapariga causou impacto nele fazendo-me querer explorar mais sobre isso e continuar a ouvir mas sou puxada pela escuridão que decide me invadir.


O meu corpo estremece devido ao frio que tenho. Sei que não me irei conseguir mexer mas mesmo assim tento abrir os olhos. Por um milagre as minhas pálpebras colaboram com a ordem do meu cérebro e piscam. A luz irradia a minha visão fazendo-me fechá-los de novo. Movo a minha cabeça para o lado oposto da claridade e tento novamente. 

Encontro-me num quarto de um hospital pelo que avalio o que se encontra á minha volta. Juntamente com isso, as minhas memórias parecem voltar. Tento mais uma vez virar-me para o lado da luz para conseguir ver onde estou por completo.

O Harry está ao meu lado, numa cadeira a dormir. Os seus braços estão cruzados no seu peito enquanto a cabeça apoiada no seu ombro. Os seus lábios rosados e inchados estão ligeiramente abertos dando-lhe um ar adorável. Mas eu sei o que ele fez. E dói. Doía profundamente como se uma faca cortasse o meu coração ao meio e alguém o coseu. Não era a mesma coisa. O pior é que iria ficar assim para sempre.

Passo a minha mão que se encontra com uma agulha pelos seus cabelos encaracolados. Eu sei que não iria esquecer mas neste momento queria paz e a maneira de obtê-la foi acariciar alguém que sofreu como eu. Eu quero lhe dar um pouco do carinho que eu nunca tive.

My Anchor ➸ n.hOnde histórias criam vida. Descubra agora