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Flashback Kate

Corri o máximo que consegui. Não quero acreditar que o papá estava com outra mulher naquele maldito bar. Era todos os dias a mesma coisa quando eu voltava da escolinha, lá estava ele. Na segunda cadeira do balcão com um copo de água na mão mas o que tinha lá dentro era castanho e de cada vez que o levava à boca fazia caretas. O que o papá não sabe é que eu o observava...

Hoje não aguentei... queria fugir dali e estar sozinha num lugar onde não me lembrasse de tudo e foi isso que fiz.

Os meus pés arrastam-se pela relva e afastavam as folhas da mesma cor do sumo que o pai bebia.

A minha visão está desfocada mas consigo perceber que já estou perto dos balouços.

Agarro as cordas e faço força para me sentar pois são muito altos. Quando finalmente me consegui pôr nele começo a mexer os pés para ele começar a voar.

-Queres ajuda?- viro a minha cabeça quando me assusto com quem estava a a falar. Vejo uma menina igual a mim ao meu lado com um vestido cor-de-rosa e o cabelo em dois totós.

-Sim.- sorrio e ela vai até atrás do baloiço e empurra-me.

-uhuuul!! Vou chegar ás nuvens!- grito feliz. 

-Também me queres fazer a mim?- a menina pergunta.

-Mas tens de me parar, não chego ao chão.- assim que lhe respondo sinto ela a puxar as cordas e a parar a cadeira. Pulo para o chão e vou para onde ela estava.

-Como te chamas?- pergunto.

-Sophia e tu?

-Kate.- ambas sorrimos e ela vai até aonde eu estava.

-Queres ajuda para subir?- pergunto.

-Sim.- coloco as minhas mãos juntas e digo-lhe para pôr um pé nelas e fazer força para cima.

-Pronto.- começo a empurrar a parte preta da cadeira e vejoos seus cabelos castanhos levantarem com o vento.

-Yaaayyy.

-Queres ir brincar no escorrega? Dói-me os braços.- digo depois de estar a empurrar á muito tempo.

-Quero.- faço a mesma coisa que ela fez e paro o baloiço.

Flashback Off

-Foi aqui que nos conhecemos.- digo ao mesmo tempo que fecho a porta do carro.

-Achei que irias gostar de voltar aqui e termos um momento só nós.

Ambas vamos até ao local onde a nossa amizade começou.

-Vais tu primeiro certo?- Ela pergunta e eu rio-me com as memórias.

-Sim.- sento-me e ela começa a balançar-me.

-"uhuull vou chegar ás nuvens".- digo o mesmo que disse á 14 anos atrás.

-"também me queres fazer a mim"- oiço a sua voz e emociono-me.

Arrasto com os meus pés no chão parando os movimentos e vou abraça-la.

Passámos a tarde a reviver momentos da nossa infância e a aproveitar a beleza do local onde estávamos. Depois de muita insistência por parte da minha amiga consegui que ela me deixasse em minha casa e não levar-me com ela.

-Ficas bem?

-Pela trigésima vez, fico.- damos um último abraço e saiu do carro.

Abro a porta do prédio e começo a subir as escadas que quanto mais tempo se passa mais difíceis parem ser de se subir. Eu deveria de marcar uma consulta para ver se está tudo bem com o bebé...

Quanto chego ao meu andar um corpo estendido á frente da minha porta assusta-me.

-Harry!?- consigo ver cabelos encaracolados de onde estou e corro até ao local. 

-Mas que porra é que te aconteceu?- pergunto em aflição quando vejo a sua cara coberta de arranhões a sangrarem e de marcas roxas em redor dos seus olhos.

-Ee-eu

-Shhh... vamos para dentro tratar disso.- ajudo-o levantar com alguma dificuldade e coloco a chave na porta destrancando-a.

Quando estamos no interior, empurro-a com o meu pé e faço o caminho até á casa de banho. 

-Senta-te aqui.- digo ao mesmo tempo que o coloco em cima da tampa da sanita e ele imediatamente encosta-se para trás com expressão de dor na cara.

-E-eu vou buscar a caixa de primeiros socorros.- viro-me e retiro a embalagem branca com uma cruz vermelha tirando lá de dentro algodão e água oxigenada.

-Isto pode arder.- coloco um pouco do líquido no material leve e levo-o até á face do Harry.

-Aii.- ele reclama de dor mas eu não posso fazer nada quanto a isso.

-O que é que se passou?

-B-bateram-me.

-Como assim? Sem mais nem menos? Não te metes-te com alguém nem nada?

-Não... simplesmente o fizeram.

-Quem foi?

-N-não sei... estavam encapuçados.

-Tu achas que possa ter sido o-

-Não sei...

-Ele está preso.- digo.

-P-pois não deve de- Porra isso dói.

-Eu sei mas está a curar.- ele revira os olhos e eu controlo-me para não rir.

-Porque é que vieste para aqui?

-Porque os meus pais iam encher-me de perguntas e preocupações.

-Oh...

-Importas-te que passe cá a noite?

-Claro que não... estás à vontade.

-Eu fico no sofá não te preocupes.

-Eu não estava preocupada.- sorrio e continuo a limpar-lhe todas as feridas.

-Não dói tanto não é?- sussurro.

-Como o quê?

-Como a dor das feridas interiores.

My Anchor ➸ n.hOnde histórias criam vida. Descubra agora