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Jeremias

Rio de Janeiro, Brasil, 1992

A bela cidade à beira-mar, já tão habituada a receber turistas do mundo todo, encontrava-se ainda mais cheia naqueles dias de junho. O motivo era ali ser realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como "ECO-92". Tendo palco no moderno centro de convenções do Riocentro, no bairro da Barra da Tijuca, o evento buscava reunir o máximo possível de líderes mundiais para discutir questões relativas ao meio ambiente – assunto muito em pauta no despontar daquela década – como poluição, preservação dos recursos naturais, mudanças climáticas e outros tópicos que necessitavam ser analisados com extrema importância, dado o desenvolvimento inconseqüente adotado por várias nações industriais sem qualquer preocupação relativa ao bem-estar das vindouras gerações.

O contexto político do período também representava mudanças. No final do ano anterior, esfacelara-se a União Soviética, marcando o fim do "socialismo real" na Rússia e suas repúblicas, além dos estados do Leste Europeu. O Muro de Berlim caíra, levando ao retorno de uma só Alemanha, as ditaduras comunistas se abriam... A infame Guerra Fria chegara ao fim.

Inúmeros dirigentes de países ricos e pobres circulavam pelos pavilhões do local, sob os flashes de câmeras e reivindicações de grupos ambientalistas. A segurança dos estadistas e outros participantes da conferência vinha sendo garantida pelo Exército, deslocado em peso para o Rio. Outras medidas foram adotadas na cidade para melhorar sua imagem, como garantir que os estrangeiros só fizessem uso de vias de acesso longe da vista de favelas e expulsando mendigos das ruas – o que gerava um questionamento sobre se convenções como aquela realmente se propunham a solucionar problemas ou apenas dar a entender à população que se fazia algo...

Em meio às incontáveis palestras e reuniões tratando dos temas envolvidos no encontro, também tinham destaque as apresentações de novas tecnologias, propondo o uso de recursos naturais sem efeitos nocivos à natureza. Num dos amplos auditórios do lugar, suas cadeiras praticamente lotadas, homens de terno e jaleco assistiam à exposição de um cientista de origem japonesa, que, de pé atrás de um balcão de madeira, falava com base numa apresentação de slides projetada sobre uma tela ao seu lado, bem diante dos ouvintes.

- Senhoras e senhores, o momento é de reflexão, e as palavras de ordem, "desenvolvimento sustentável". Chegou a hora de as nações buscarem caminhos para continuar enriquecendo sem colocar em risco o meio ambiente, como vem ocorrendo indiscriminadamente desde o início da Revolução Industrial. Dentro dessa linha de pensamento, devemos nos preocupar também com nossas fontes de energia. A queima de combustíveis fósseis, entre os quais carvão e petróleo, lança gases nocivos à atmosfera, aumentando a temperatura terrestre. As hidrelétricas, ainda que limpas em seu funcionamento, alagam vastas regiões para a formação das represas, prejudicando a fauna e a flora. Apesar de bastante eficiente e dita igualmente limpa, a energia nuclear gera lixo radioativo, com o qual ainda não sabemos ao certo como lidar; e existe em paralelo o risco de vazamento ou explosão de reatores: Chernobyl, há seis anos, mostrando-se o melhor exemplo. Nenhuma dessas fontes energéticas possui cem por cento de aproveitamento ou é plenamente renovável. Alternativas como as energias eólica e solar infelizmente ainda são ínfimas e incapazes de atender à demanda mundial. Urgimos por novas opções.

Um outro slide foi inserido na máquina, exibindo uma série de complexas equações e outros intricados cálculos matemáticos. Os especialistas da área na platéia puseram-se a analisá-los, comentando entre si o que achavam – muitos em tom de incredulidade ou indignação. Ignorando tais reações, o pesquisador oriental continuou:

- Baseando-me em meus longos estudos, posso afirmar existir uma hipótese para a solução desse dilema. Examinando a estrutura da solenóide, tanto como condutor energético quanto gerador de campo magnético... – e o desenho de uma estrutura espiralada foi projetado na tela. – pode-se afirmar que é passível de originar campos magnéticos uniformes e infinitos se dispostas em loop.

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