03 - Levítico

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Levítico

 

Nevada, EUA, 1947

O coronel Willians odiava descer por aquela série de elevadores. Sabia que eram importantes – quanto mais fundo no subsolo, menores as chances de aquele complexo secreto ser descoberto – porém nada lhe tirava da cabeça que os engenheiros do Exército deviam ter um sério “complexo de toupeira”.

         A descida foi concluída num baque, a estrutura do elevador se encaixando à da plataforma no fim do fosso. Aquele fora o quarto ou o quinto que tomara até ali? Nem lembrava mais. Só sabia que estava prestes a acessar um dos últimos níveis das instalações, aquele que continha as coisas que mais deveriam permanecer longe dos olhares da população. As portas se abriram, e ele adentrou o corredor.

         Junto com dois guardas militares, aguardava-o um rapaz de jaleco e cabelos castanhos arrepiados, não devendo ter mais de vinte anos. Presumivelmente um cientista – e dos bons, pelo que o coronel ouvira. Verdadeiro prodígio, já vinha há algum tempo cedendo seu conhecimento aos mais escusos projetos do governo norte-americano. E aquele não seria diferente. Seria talvez o mais escuso de todos.

         - Boa tarde, coronel – saudou-o o pesquisador, soando estranho ao recém-chegado; já que, desacostumado a ficar no subterrâneo, não poderia afirmar que período do dia era sem fitar o céu. – Veio mais rápido do que pensei.

         - A situação exige rapidez, doutor Langley.

         - Recebi seus relatórios preliminares. Devo dizer que o que descreveu me pareceu no mínimo... intrigante. Ainda mais pela simbologia religiosa envolvida.

         - Chegou a alguma conclusão?

         - Conversaremos melhor em minha sala.

         O corredor era repleto de portas metálicas, sem qualquer indicação exterior do que abrigavam atrás de si. Alguém como Willians, novo ali, rapidamente ficaria perdido. Mas o cientista guiou-o, detendo-se diante de uma entrada em particular. Retirou uma pequena chave de um bolso do jaleco e usou-a para destrancá-la, abrindo caminho para que o militar entrasse primeiro. Logo depois, o pesquisador acendeu as luzes.

         - Fique à vontade.

         O recinto era singelo. Uma mesa de madeira no centro, repleta de pilhas de livros, onde por certo Langley vinha desenvolvendo seus estudos. Ao fundo existia uma estante de mogno com ainda mais volumes, uma escrivaninha de trabalho, máquina de escrever, cama, cadeiras... e um banheiro anexo. Aparentemente, o morador só deixava mesmo aquela improvisada casa para deslocar-se até o laboratório principal do complexo, no qual tinha mais recursos. Quanto a alimentação, provavelmente o serviam ali mesmo.

         - Entenda que a pesquisa que me requisitou está fora da minha área habitual de interesse – explicou o cientista, sentando-se. – Domino bem mais as ciências exatas e biológicas, e algumas vezes me arrisco em uma ou outra incursão nas humanas. Mas mitologia, religião, assuntos metafísicos... O senhor me deu uma bela lição de casa, coronel.

         - O que descobriu a respeito? – Willians não parecia muito propenso a jogar conversa fora.

         Langley apanhou uma pasta com a inscrição “Confidencial” em vermelho na parte da frente, atirando-a ao militar. Enquanto ele analisava o conteúdo, expôs o que sabia:

         - México, 1531. França, 1858. Portugal, 1917. Todas essas datas e lugares têm algo em comum com o que seus homens viram em Roswell, coronel. Uma figura feminina de manto banhada numa luz capaz de cegar. Aparecendo sob a forma de uma jovem em seus quatorze ou quinze anos, no presente caso, ou a adolescentes mais ou menos nessa idade, em outros. Todos esses eventos estão associados ao céu ou a artefatos a ele relacionados: uma jovem com a lua sob os pés, o sol caindo sobre a Terra... Algo vindo do céu. Assim como no Novo México. Aqueles destroços que encontraram.

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