III

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Por que no final de tudo a culpa sempre é minha, não é?

Sempre assim, sempre isso.

Minha mãe está falando alguma coisa sobre eu ser totalmente irresponsável e não dar valor a tudo que eu tenho.

Isso acaba comigo.

Acho que uma das piores coisas do mundo é você se forçar a não chorar na frente de alguém, se fingir de forte quando você está mais frágil do que nunca. Está caindo aos pedaços.

Olho para o lado de fora, fingindo prestar atenção na chuva que começa a cair fortemente lá fora.

Acho que eu me identifico com a chuva. Sempre caindo, sempre estragando o dia dos outros, sempre sendo a causa de algum acidente.

Creio que já é a décima vez que aceno com a cabeça sem nem ouvir o que ela diz.

Eu odeio estar sóbrio, odeio lembrar no outro dia, tudo o que me disseram, tudo o que aconteceu.

_ Você poderia ter uma overdose, por acaso você sabe o que é isso? - Minha mãe segura fortemente em meu braço, fazendo eu voltar minha atenção para ela.

_ que você ingeriu drogas demais. - respondo virando o rosto.

Não, não foi a porcaria da direção da escola quem ligou lá para casa, contando tudo. Foi a mãe daquele Nada, jogando a culpa em cima de mim porque o filhinho querido não iria mais poder assistir a merda da aula que faria ele passar.

Grande merda, como se ele fosse conseguir isso.

_ não, significa que você destruiu sua vida por nada. É isso que você quer? - ela pergunta séria.

_ já parou para pensar que minha vida já estivesse destruída antes mesmo de eu começar a usar? - minha mãe me encara impassível, como se não quisesse mais perder tempo com uma criatura tão estúpida quanto eu.

Me levanto e subo as escadas, indo em direção ao meu quarto.

Assim que entro, bato a porta, me jogando na cama e pondo um travesseiro em cima de meu rosto.

Pare de pensar, pare de pensar.

Respiro fundo algumas vezes, tentando me controlar.

Eu já havia tentado parar algumas vezes, mas simplesmente não dá, eu sempre esqueço ou não resisto. Outras vezes os problemas são tão grandes que eu tento deixar minhas ilusões me levar para um mundo distante, onde ninguém do mundo real entra.

Sem líderes de torcidas, jogadores de lacrosse idiotas, sem pais enchendo o saco, irmão que nunca percebe de verdade o que está rolando.

Eu estou tão cansado disso tudo.

Por hoje eu vou resistir, vou aguentar quieto como eu costumava fazer antes. Vou apenas dormir, como se eu fosse acordar amanhã e não ter mais problemas.

Talvez seja isso que eu precise de verdade: dormir.

*

Muitas pessoas se perguntam: onde este idiota arranja tanta grana para essas coisas se nem mesmo tem um emprego?

Simples, eu pego do que eu usaria para faculdade.

Usaria, pois esse sonho tão esperado por muitos adolescentes que não veem a hora de se formar, acabou antes mesmo de começar a se formar direito em minha cabeça.

Eu meio que aceitei que não queria um futuro como os outros adolescentes. Eu nem quero um futuro.

E de onde eu tiro as drogas?

On Drugs (L.S.) #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora