XI

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Chove lá fora, chove dentro de mim.

Todos os meus sentimentos parecem ficar entalados em minha garganta, querendo que eu os fale para alguém. Isso é tão estranho.

Agora é estranho para mim ver o mundo totalmente normal, como as outras pessoas usualmente vêem. Sem coisas estranhas acontecendo, sem passarinhos cantando em meu ouvido ou pessoas com rostos distorcidos.

A normalidade se tornou estranha para mim e eu não sei porque estou tentando.

Mil pessoas à minha volta e nenhuma delas sabem como me sinto sobre a vida.

Ouço alguém bater duas vezes e abrir um pouco a porta de meu quarto.

Viro para o outro lado na cama e vejo um par de olhos azuis e cabelos enrolados e dourados caírem atrapalhados pelo rosto do garoto.

Nicholas.

_ posso entrar? - ele pergunta parecendo sem jeito.

_ não. - digo sério e volto a encarar a chuva lá fora.

_ Pare com isso, Lou. - ele diz entrando e se deitando na beira da cama, ao meu lado.

Nicholas levanta sua cabeça para me encarar e dá um sorriso largo, fazendo eu passar um braço por cima dele e uma mão por seu cabelo, o bagunçando.

É incrível como uma criança de 7 anos consegue mexer tanto assim comigo, eu nunca consigo dizer não à ele sem mudar de ideia depois, isso me irrita as vezes.

_ você sorri mais quando fala com ele. - Nick diz me fitando.

_ ele? - o encaro sério.

_ seu amigo. - ele me dá um sorriso esperto.

_ que amigo? - pergunto rindo e Nick semicerra os olhos.

_ não é porque sou criança que sou burro.

_ não faço a mínima ideia do que você está falando. - respondo, fazendo cara de dúvida.

_ eu sei que o nome dele é Harry. - ele diz devagar e começa rir quando vê minha expressão.

_ não falo com esse garoto. - digo voltando a ficar sério. - e o que você sabe da vida? Você só tem sete anos.

_ então vocês não tem nada? - ele pergunta e eu nego, vendo-o se levar e ir até a porta. Eu o encaro com raiva e Nicholas ri outra vez. - MÃE, ELE DISSE QUE NÃO. - meu irmão grita para o corredor e depois se vira para mim, com uma expressão pensativa - eu não conheço ele de verdade, mas se esse garoto te faz sorrir, você deveria estar com ele. Isso também me faria feliz, porque eu amo quando você sorri, mesmo que quase nunca faça isso. - ele me olha triste e depois fecha a porta, saindo.

Eu não acredito que minha mãe usou meu irmão para tentar saber da minha vida, e ele ainda veio com chantagem emocional.

Nick volta a abrir a porta e me encara no fundo de meus olhos, impassível, mas parecendo decidido demais para a idade dele.

_ Esqueci de falar uma coisa, eu não te vejo muito assim, mas eu gosto muito mais quando você está desse jeito, quando parece estar no mundo real, vendo o mundo como todo mundo vê e ligado nas coisas que acontecem ao nosso redor. E eu gosto disso e acho que seria bom se você sempre continuasse assim, aqui. - ele termina e fecha a porta, me deixando sozinho no quarto.

Uau, isso realmente me deu um aperto no peito.

E o pior de tudo é que eu sei que ele sabia o que estava falando e fez aquilo de propósito, sabendo que conseguiria me fazer pensar sobre o que ele disse o dia inteiro.

On Drugs (L.S.) #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora