Desde a proposta de sua irmã, ela pensou bastante sobre a mudança. Se mudar não era uma opção, mas agora parecia uma boa escolha. Reconstruir sua vida longe da cidade que reside atualmente, longe da casa que está repleta de lembranças do Derrick por cada canto parecia menos doloroso.
Any avisou Dulce da sua decisão e a ruiva se propôs a comprar as passagens. Queria estar longe o mais rápido possível, mas, não antes de conversar com Joana. Combinou com ela de almoçar num restaurante e explicar da sua partida. Sentia que a devia satisfação, não só por ser sua ex sogra, mas também por ser quase uma mãe. Vestiu uma calça jeans escura e uma camisa de manga curta, também escura. Ainda não se sentia a vontade para usar roupas coloridas. Usou suas botas pretas de sempre e o cabelo prendeu em rabo de cavalo. Sua aparência relaxada demonstrava sua dor. Nada de maquiagem, apenas um protetor labial e quando finalizou saiu ao encontro da mulher.
Caminhar na rua também lhe era uma tarefa difícil, já não aguentava mais as pessoas a encarando ou lhe dizendo que sentiam muito. Respondia sempre com um sorriso gentil. Estacionou o carro e caminhou para dentro do restaurante, Joana já a esperava sentada à uma mesa ao fundo.
- Hey... - A cumprimentou com um beijo no rosto e um abraço apertado - Como você está? - Sentou-se.
- Não tão bem como gostaria, mas bem. - Sorriu tristemente. Any abaixou o olhar e logo voltou a encará-la. - Você também não parece nada bem.
- É, não estou. Derrick está presente em cada parte de mim. - Joana lhe tocou a mão que estava estendida sobre a mesa. - Preciso lhe contar algo e não quero que pense nada de errado de mim... Dulce pediu que eu fosse com ela para San Diego.
- E você vai, certo? - Ela concordou movimentando a cabeça positivamente enquanto mantia os olhos atentos a mulher. - Eu acredito que isso vai ser ótimo para você, ainda é jovem Anahi. Merece buscar a felicidade novamente, e encontrá-la. - Sorriu.
- É só por um tempo, preciso acertar meus pensamentos e me afastar. Não pense que vou esquecê-la ou o Derrick.
- Eu sei que não vai, mas não se prenda a essa história que vocês tiveram como um fim. Vocês deram certo, foram felizes e se fechar para o mundo não é o certo. Peço em nome do Derrick para que seja feliz e dê uma nova chance para a vida, Any.
- Não consigo me imaginar com outro alguém. - Admitiu e uma grossa lágrima escorreu pelo seu rosto.
- Eu entendo, mas você sabe que o amor é inevitável. - Acariciou o rosto da menina que já estava encharcado, e secou suas lágrimas.
- Vou ligar todos os dias, não a deixarei sozinha. Derrick será para sempre nosso elo. Obrigada por tudo. - Se levantou e a abraçou, como uma criança com medo e que precisa de colo. Joana afagou seus cabelos e a acolheu em seus braços.
Após o almoço, Anahi dirigiu sem rumo pela a cidade. Não sabia onde queria chegar, mas queria. Dulce a ligou várias vezes, mas ignorou. Queria estar sozinha. Respirar. Estacionou o carro na beira de uma estrada e caminhou até uma ponte, a vista era linda. Era um lago de azul tão claro e vivo. Fechou os olhos com firmeza e abriu os braços, inspirando toda aquela energia para si. Refletiu por algumas horas e só retornou a casa quando já era noite. Dulce estava uma fera.
- Onde você estava, Anahi? - Pôs as mãos na cintura.
- Por aí... Não se preocupa, estou bem. - Andou até a cozinha e pegou um copo d'água. Dul a seguiu, estava incrédula.
- "Por aí" - imitou a voz da irmã - Eu estava aqui preocupada e você só diz isso? Não seja inconsequente. Você não é mais uma adolescente, então aja como uma adulta.
- Eu perdi meu marido, não venha querer me ensinar como devo me comportar. Quis estar sozinha, preciso respirar sem a pena das pessoas me atordoando. A vida já me mostrou que a vida adulta é diferente da adolescência. Então, me deixa ser inconsequente, porque eu preciso me afastar e colocar para fora minha dor. Estou um caco, quebrada de todas as formas, não tenho mais amor aqui dentro... - Levou as mãos em direção ao coração. Grossas lágrimas caíam como uma cascata por seu rosto. Dulce também chorava com o desabafo. - Você não pode entender minha dor. - Deixou a cozinha e se trancou no quarto.
Dulce não quis ser invasiva, ela se preocupava com a irmã. Ouvir seu desabafo partiu seu coração. Tinha medo de Anahi nunca ser alegre de novo, ela foi sempre tão feliz. Era sua inspiração e seu orgulho. E agora mais ainda, por ser tão forte. Talvez não tivesse toda a força dela nessa situação, e admirava isso.
Esperou até o dia seguinte para falar novamente com a loira. Any ainda dormia quando Dulce bateu na porta do quarto a acordando.
- Oi. - Abriu a porta a encarando, ainda usava o pijama e tinha os cabelos bagunçados.
- Bom dia! Quero me desculpar, não dormi quase nada. Não queria ser invasiva. - Abaixou o olhar.
- Também devo desculpas, Dulce. Não devia ter falado com você daquela forma. Descontei meus problemas e minha dor em você. - Sorriu de lado.
- Um abraço? - Ambas se abraçaram. Um abraço apertado e cheio de amor. - Só mais uma coisa, não estou aqui porque tenho pena de você e sim, porque te amo, sou sua irmã e vou estar com você sempre. Mesmo que às vezes parecendo invasiva, é cuidado. É preocupação. - Any a abraçou ainda mais.
- Eu sei minha ruiva favorita! Não estão sendo dias fáceis, como você me suporta? - Sorriu.
- Grau elevado de amor... E paciência! - Gargalhou.
- Comprou as passagens?
- Sim, vamos em dois dias. Vou ao shopping, vai comigo?
- Não, prefiro ficar e ir arrumando as malas. Se importa?
- Não. Nos vemos mais tarde então, qualquer coisa me liga. Te amo. - Beijou o rosto de Any e saiu.
Depois que se trocou e fez sua higiene matinal, Anahi decidiu de fato começar a arrumar suas malas. Andou até o centro do quarto com os braços cruzados, estava pensativa, não fazia idéia do que levaria. Não queria levar muita coisa, doaria grande parte. Reconstruir era definitivamente reconstruir, para ela.
Procurou bastante por seu quite de mala, até finalmente lembrar que estavam na parte superior do imenso guarda-roupa que ocupava uma parede inteira do seu quarto. Lembrou-se o quanto Derrick insistiu por ele, sorriu despertando da hipnose em que se encontrava. Colocou-as sobre a cama e começou a separar o que considerava necessário e em seguida o que era mais apegada. Sentou-se na cama uma hora depois, e encarou um retrato com sua foto de casamento. Uma lágrima insistente e cheia de saudade desceu de seus olhos.
Recuperada, resolveu olhar outras fotos guardadas. Pegou uma maleta média, e dentro estavam inúmeras lembranças do dia mais feliz da sua vida... Sorrisos, brilho nos olhos, alegria... Será que seria assim novamente? Será que um dia poderia sentir vontade de viver novamente? Não sabia. Não fazia idéia. Não queria planejar, a vida não é para ser planejada. Pois, em um minuto, tudo muda. Definitivamente.
Guardou a maleta dentro de outra mala, não queria se desfazer por completo das memórias. Apesar dele estar vivo dentro dela, precisava daquelas lembranças físicas para ter certeza que foi real. Aconteceu.
Guardou consigo também, sua camisa preferida dele, o deu de presente no primeiro natal como namorados. Foi tão divertida aquela noite! Junto, um frasco de perfume fez companhia, esse foi presente do dia dos namorados. Ele gostava tanto! Não queria esquecer o cheiro dele, nunca. Era seu oxigênio.
O resto das coisas não mexeria, depois que estivesse instalada de verdade em San Diego, voltaria para decidir o que faria com tudo que sobrou e com a casa.
Estava indo dormir quando Dulce chegou empolgada da rua, lhe mostrando tudo que havia comprado. Roupas, acessórios, sapatos, livros, presentes... Conversaram bastante aquela noite. Dulce falou como estava indo no emprego e contou das brigas bobas com Christopher, que era viciado em videogame e a provocava ciúmes de uma máquina. Any riu com as histórias da irmã. Dormiram tarde e consequentemente, acordaram tarde no dia seguinte.
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Inevitable
FanfictionAnahi fica viúva após a morte de seu marido, Derrick. Na tentativa de reconstruir sua vida ela se muda para outra cidade. Seus maiores apoios são sua irmã Dulce e seu cunhado Christopher, além de Joana, mãe do falecido Derrick. Jovem, mas não mais...