Na semana seguinte, Dulce voltava de um dia cansativo do trabalho. Apresentações, slides, projetos novos, uma correria no escritório. Estava no sinal de trânsito esperando que fechasse quando seus olhos avistaram do outro lado da calçada, Alfonso. Ele não estava sozinho. Segurava uma criança em seus braços. Não se aproximou, passou por despercebida na multidão e foi para a casa pensando se contava ou não para Any. "Claro que conto" murmurou sozinha abrindo a porta de casa e adentrando.
- Dul, só fiz salada! Tudo bem para você? - Sem que a ruiva a respondesse caminhou até a sala. - DULCE! - Gritou a tirando do transe.
- Ah! Hey, Any! - Sorriu de canto. A loira arqueou a sobrancelha já sabendo que algo estava errado. Engoliu em seco e respirou fundo. - Vi o Alfonso agora mesmo na rua...
- E falou com ele? - Sorriu.
-... Não, ele estava acompanhado... - Anahi se sentou no sofá a encarando boquiaberta. - Por uma criança, calma! - Forçou um sorriso. - Ele deve ter sobrinhos né?
- Uma criança? - Suspirou pensativa - Ele nunca comentou sobre isso... - Sua voz diminuiu a cada palavra da frase.
- Anahi, calma... - Dizia tão nervosa quanto ela. - Amanhã você conversa, pensa bem antes de fazer qualquer coisa.
Ela concordou e se encaminhou para dentro do quarto. Se trancou nele. Quem seria essa criança? Agora não era questão de querer, necessitava saber a história toda sobre o seu passado. Se estavam namorando, precisavam compartilhar tudo.
Alfonso acabara de colocar a criança deitada com todo o cuidado do mundo na cama, quando o som da campainha ecoou pelo o apartamento. Com sorte, não o acordou.
- Como ele está?
- Ótimo, acha que não sou capaz de cuidar do meu próprio filho? - Sorriu sem mostrar os dentes.
- Eu não disse isso, Alfonso. Não precisa estar sempre na defensiva comigo, fiz uma simples pergunta. - Suspirou se sentando na poltrona. - Acho que precisamos conversar, não podemos ficar assim para sempre.
- Concordo. - Coçou a barba a olhando.
- Você não sente mesmo mais nada? E o nosso amor? Ainda te amo, Alfonso. - Ela se levantou e caminhou até ele, tocando seu rosto com os olhos marejados.
- Não sou mais apaixonado por você. - Se afastou dela e um silêncio se instaurou no ambiente. - Nós temos um filho e sempre serei grato a você por isso, mas amor... - Olhou no mais profundo dos seus olhos - Acabou.
- Não! Não é possível! - Seus olhos marejados já avermelhados deixaram que as lágrimas caíssem. - Você tem outra pessoa não é? É óbvio. - Sorriu tristemente - É só uma desilusão, eu sou o amor da sua vida, eu! - Ela avançou para cima de si novamente e lhe segurou o rosto entre as mãos com força. Arrastou sua boca contra seus lábios, mas ele se esquivou. A segurou pelos punhos e a tirou de si.
- Não precisamos passar por isso. Você é linda e interessante, vai reconstruir sua vida... Só que sem mim. - Soltou seu braço.
- Me dá meu filho, quero ir embora daqui. - Secou as lágrimas, porém novas caíam sobre seu rosto.
Ele tentou impedi-la, mas estava tão enfurecida que passou feito um furacão. Antes de entrar no quarto avistou uma foto jogada sobre uma mesa, pegou e olhou desacreditada. O seu mundo parou por este instante. A raiva se controlou e sua dor aumentou tanto que mal sabia como estava de pé. Virou-se para trás e encarou Alfonso. Sua voz quase não saiu, estava engasgada. A garganta parecia fechar.
- Ela é sua namorada? - Perguntou calmamente com uma foto de Anahi nas mãos. Ele a olhou confuso, não entendia.
- Sim. - Sussurrou tão baixo que só entendeu pela leitura que fez de seus lábios.
- Minha amiga, seu canalha! - Ela soltou a foto no ar, deixando que caísse no chão e com força encheu a mão e o acertou um tapa no rosto. Depois mais tapas. Mais lágrimas.
Com muito esforço conseguiu a controlar. Lhe prendeu em seus braços até que se acalmasse. Continuava confuso. O som do seu choro era abafado por estar com o rosto em seu peito.
- Ela é minha amiga! - Soluçava ao dizer as palavras. Afastou o rosto do seu peito e o olhou nos olhos. - Podia me fazer odiar qualquer pessoa, menos ela...
- Amiga? Não sabia que vocês eram amigas...
Também estava com os olhos marejados, não queria causar todo o sofrimento. Em silêncio ela se soltou do seu abraço e caminhou até o quarto, pegou o filho no colo e saiu desolada, sem nada falar.
- Maite! Maite! - Gritou.
Socou a parede com raiva e espontaneamente lágrimas desceram dos seus olhos. Seu passado e seu presente se cruzaram. Mesmo tentando afastá-los, eles estavam destinados.
Aquela noite em especial não estava sendo fácil para nenhum dos três. A alegria deu lugar a incertezas. A alegria deu lugar a dor. A alegria deu lugar ao medo.
Dulce e Anahi estavam prontas para sair quando Maite chegou.
- Já sei quem é o seu namorado. - Sorriu entre os dentes. As irmãs se olharam confusas e sorrindo.
- Como? Ainda nem os apresentei. - Anahi riu. Dulce apenas acompanhava com o olhar.
- Não precisa, eu o conheço muito bem, é com meu marido que você está se deitando. - Disse ríspida.
Anahi ficou em choque, se segurou em Dulce para não cair. Um buraco se fez no estômago e vomitou todo o café da manhã. A ruiva a segurava sem tirar os olhos de Maite que se mantia parada em sua frente como uma pedra, fria e dura.
- Any! - Tocou o rosto da irmã pálida.
- O que você está dizendo? Impossível. - Ela respirava de pressa buscando fôlego.
- E eu dando força para vocês, que estúpida! - Sorriu irônica.
- Hey, ela não sabia que vocês eram casados. Vai com calma, Maite! - Dulce aumentou o tom.
- Maite...E-eu... - Grossas lágrimas escorreram, cobrindo seu rosto. - Se eu soubesse, nunca teria me envolvido. Pelo amor de Deus!
- Ele também não sabia que nos conhecíamos, a culpada deve ser eu mesmo por perder meu marido e ter minha família destruída! - Secou uma lágrima antes mesmo que caísse. Havia ódio em seu olhar.
- Não aja dessa maneira, você mesmo disse que ela estava certa por amar de novo. - Suspirou.
- NÃO O MEU MARIDO! - Respirou fundo. - Se é mesmo minha amiga, larga ele.
Dulce olhou incrédula para Maite, sentia raiva de Alfonso por fazer sua irmã passar por isso. "Pobre Any!", pensava. Anahi não conseguia raciocinar, sentia-se enjoada, com um buraco no coração. Não queria abrir mão de Alfonso, estava envolvida até o pescoço. Porém, entendia a dor de Maite, e por mais que a mesma não entendesse seu lado concordou em deixar Poncho.
Sua irmã a encarou de forma negativa, não concordava com isso. Não aceitava vê-la o entregando tão facilmente. O amor não é assim, sabia que estava destruída por dentro e que o amava. Não era o certo.
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Inevitable
FanfictionAnahi fica viúva após a morte de seu marido, Derrick. Na tentativa de reconstruir sua vida ela se muda para outra cidade. Seus maiores apoios são sua irmã Dulce e seu cunhado Christopher, além de Joana, mãe do falecido Derrick. Jovem, mas não mais...