Capítulo 20

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Quase não dormiu, acordou ainda na madrugada com dores de cabeça. Estava um pouco morna também, talvez a ferida tivesse infeccionado. Levantou e lavou o rosto no banheiro. Dulce acordou com o barulho e foi até a irmã.

- Annie! - Tocou seu pescoço febril - Você precisa ir ao médico.

- Não precisa. - Resmungou.

- Precisa sim, vamos quando amanhecer. - Afirmou decidida.

Não era nada grave, uma pequena infecção que com a ajuda dos remédios passados ficaria tudo bem. Dulce avisou Christian o que havia acontecido, e ele pouco se importou com o carro, queria mesmo era saber de Any, e a ruiva o tranquilizou.

Estava quase dormindo quando seu celular vibrou informando nova mensagem. Sorriu animada.

"Annie, nossos horários não estão batendo, mas em dois dias estou de volta para você. Fique bem, sunshine."

Mais tarde ligou para o número no cartão entregue pela a arrogante que bateu em seu carro. Como suspeitava o homem que ela citou como seu pai não estava, porém uma gentil empregada lhe deu um endereço em que poderia achá-lo.

Convenceu Dulce que já estava melhor e foi no tal lugar. Quando parou em frente suas mãos suaram e suas pernas congelaram, era uma enorme empresa de moda. Respirou fundo três vezes antes de entrar.

- O que você faz aqui? Não te dei o endereço para nos procurar em casa? - Angelique dava um xilique e todos os que passavam paravam para olhar.
- Preferi vir aqui, onde está seu pai? Talvez ele seja menos fútil do que você. - Sorriu sem mostrar os dentes.

- É o que dizem. - Deu os ombros - Está tão desesperada assim por dinheiro? Típico de pobre. - Gargalhou.

- Você bateu no meu carro, estou aqui pelos meus direitos, sua estúpida! - Segurou seu braço com força. Angelique gritou fazendo cena e os seguranças interviram.

Separadas, cada uma foi levada para um lado. Anahi estava sentada impaciente aguardando, queria ter socado a cara da menina, mas isso seria anti-ético da sua parte. Um homem mais alto que ela adentrou a sala com um sorriso sem graça no rosto.

- Me desculpa pela minha filha... - Estendeu a mão e eles se cumprimentaram. - Você é?

- Anahi. Sua filha bateu no meu carro ontem, na verdade da empresa que trabalho, e mandou que o procurasse. Se pudéssemos resolver isso logo... - Suspirou estressada.

- Oh, claro! - Pegou um cheque numa das gavetas da mesa e começou a assiná-lo - Sinto muito pelo constrangimento, mesmo. - A olhou sincero, ela apenas concordou com a cabeça. - Sou Manuel Velasco. - Sorriu lhe entregando o cheque.

- Obrigada. - Olhou o valor - Não é necessário isso tudo...

- Por favor, aceite. - O homem estava mesmo constrangido. Anahi não contestou, guardou na bolsa o cheque.
- Ok, estou indo então. - Se levantou e o homem fez questão de acompanhá-la até a porta.

- Desculpa perguntar, mas, você é muito bem vestida, com o que trabalha?

- Eventos. - Sorriu de lado.

- Não parece seu sonho.

- Não é. Sempre foi a moda, mas estou feliz por estar aonde estou. - Virou-se para ir.

- Pode realizar seu sonho aqui, Anahi. - Acenou.

Aquilo fez seu coração pulsar mais rápido que o normal, seria incrível trabalhar no que sempre almejou, só que tinha Christian, não queria deixá-lo na mão. E também, Angelique, teria que aturá-la todos os dias. Não aguentaria.

Passados os dois dias, Alfonso estava chegando e quis lhe fazer uma surpresa. Comprou alguns ingredientes e fez uma torta de coco pequena, queria mostrar que também ia bem na cozinha, pelo menos tentava.

- Sur-pre-sa! - Sorriu lhe entregando a torta embalada numa caixa bem fofa. Ele sorriu.

- O que é isso? - Segurou a caixa curioso tentando descobrir sem abri-la. - Pelo cheiro, é comida!

- Torta de coco. - Selou seus lábios com os dele e se sentou na sua cadeira de trabalho que rodava, ficou girando feito criança.

Ele riu a olhando. Colocou a torta sobre o balcão e buscou um envelope pequeno na mala de viagem. Apoiou suas mãos nas laterais da cadeira em que estava, a parando. Any sorriu o olhando feito boba, não resistiu e a beijou. Acariciou seus cabelos e quando afastou sua franja percebeu um curativo pequeno da Hello Kitty. Sorriu preocupado.

- Um carro bateu no meu enquanto você estava fora, não foi nada demais. - Ela tocou seu nariz com a ponta do dedo.

- Você precisa parar de viver perigosamente. - Sorriu lhe roubando mais um selinho. - Está tudo bem mesmo? Gostei do curativo. - Ela afirmou sorrindo. - Tenho algo para você... - Lhe entregou o envelope.

Anahi se ajeitou na cadeira e abriu o pequeno envelope pardo. Dentro estava uma pulseira de couro com duas voltas, em cada uma um "A" gravado em tom de dourado. Ela franziu o cenho e encarou Alfonso.

- Estava pensando se você não quer ser a minha namorada... - Sorriu de lado - Sei que praticamente é o que somos, mas gostaria de oficializar. - Any tocou seu rosto com os olhos emocionados.

- Pensei que nunca fosse pedir! - Riu. Segurou seu rosto entre as mãos e o beijou com paixão.

Dizem que a adolescência só acontece uma única vez em toda nossa vida. É a fase que nos descobrimos, somos impulsivos, rebeldes, sentimos que podemos lutar contra o mundo e amamos de forma tão intensa que sentimos parecer que o amor não cabe em nós. Exatamente assim que Anahi se sentia. Os adolescentes que um dia fomos ou seremos não morrem, só amadurecem. Crescem.

Anahi foi para casa mais célebre naquele dia, seus pensamentos vagavam nas lembranças recentes dele lhe pedindo em namoro. Não é porque existe uma princesa que haverá apenas um príncipe para ela em toda sua vida. O amor é expansivo e capaz de alcançar todos os corações. Alguns com sorte, mais de uma vez...

Alfonso esteve viajando com a desculpa de que era trabalho, na verdade estava resolvendo o seu passado, não era como o de Anahi, morto, estava muito vivo aliás. Precisava pensar ou ganhar tempo para que tudo se acertasse e pudesse enfim contá-la toda a história. Queria fazer de maneira certa para não magoá-la, não se perdoaria por fazer sofrer a mulher que ama.

- Alfonso? - Uma voz familiar invadiu seu estúdio...

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