Capítulo 27

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Se o dia amanheceu cinzento fazia sentido para Alfonso, bebeu mais do que deveria na noite anterior, quando voltou da casa de Maite. Seu estômago doía como se tivesse ganho um soco, vomitou quase tudo o que ontem entornou. Sua cabeça estava prestes a explodir e não era só de ressaca.

Tudo o que quis foi poupar seu filho, Anahi e até a própria Maite até agora, mas ela não estava disposta a jogar limpo. Se tivesse que lutar por sua guarda faria isso, mesmo que soubesse o quão desgastante e sofrido pode ser uma briga por guarda de filhos.

Com dificuldade se levantou do chão, colocou sobre a pia a última garrafa de tequila que segurava. Passou a mão pela cabeça respirando fundo e olhou parcialmente ao redor, contou outras quatro garrafas de diferentes bebidas espalhadas pelo chão e o sofá. Apertou os olhos com força, como aquilo doía. Foi para o banheiro e tomou uma ducha bem gelada, secou-se e prendeu a toalha entorno da cintura. Parou em frente à pia e seu reflexo não parecia bom, decidiu fazer a barba. Se olhou satisfeito por fim, ao terminar.

- O que aconteceu aqui? - Eddy entrou com uma sacola na mão e pós sobre a mesa.

- Não foi nada, só me excedi um pouco. - Andou até a sala - E por favor, não grita. - Elevou as mãos ao rosto.

- Eu não entendo o que anda acontecendo com você... Sumiu e não deixou explicações. Cara, por onde andou? Nós temos tantas coisas para entregar atrasadas, assim perdemos nossa credibilidade no mercado.

- Viajei, precisava encontrar com a Anahi e me resolver com ela... - Eddy o interrompeu com uma risada irônica. Franziu o cenho.

- Não me entenda mal, mas não acha que essa mulher é problema demais não? - Arqueou a sobrancelha e o encarou com os braços cruzados. - Veja bem, desde que ela apareceu você não se importa mais com o estúdio e...

- Que eu me lembre, você trabalha para mim. A culpa não é dela, Maite está dificultando as coisas. Diga-me, conhece algum advogado? - Coçou a testa.

- Esqueceu que a minha namorada é uma? E das melhores. - Sorriu de lado - Posso saber para quê quer um?

- Ela decidiu brigar pela guarda dele, não quero entrar nessa briga, mas se é necessário... - Suspirou.

- Acha mesmo que vale a pena tudo isso por alguém que pouco conhece? Não estou julgando, mas e se for passageiro?

- Sinto que não é. Vai me dar o contato dela ou não?

- Farei melhor, peço para que venha aqui. Mas vá se vestir, não quero minha garota vendo essas coisas. - Sorriu olhando para a toalha de Alfonso.

- Obrigado. Não se preocupe, estou indo me vestir. - Piscou jogando a toalha em cima dele. Eddy desviou com uma careta.

Em menos de uma hora Zoraida havia chegado e eles já conversavam na sala. Eddy acompanhava em silêncio e também orgulhoso da sua garota.

- Você sabe que brigar por uma guarda é cansativo e doloroso, não só para vocês como também para a criança, correto? Afinal, tudo que prezamos é o bem estar do menor.

- Sim. Não quis que fosse assim, mas ela está disposta a isso.

- Quantos anos tem seu filho Smauel?

- Dois anos de idade. Eu o amo, ele é especial sabe? É o carinha mais importante da minha vida e farei tudo que for melhor para ele. - Zoraida sorriu sem mostrar os lábios enquanto anotava o que dizia.

- Primeiramente vou analisar o caso com cuidado e decidir pela melhor maneira de conseguirmos. Já sabe se ela tem um advogado? Podemos tentar um acordo menos cruel, uma vez que isso for para o tribunal teremos que ir até o fim. Está pronto para lutar? - Franziu a sobrancelha.

- Sim, estou.

Anahi notara nas últimas conversas com ele por telefone que estava estranho, falava pouco e parecia sempre muito preocupado. Perguntou duas ou três vezes se passava por problemas, mas nunca dissera nada a respeito. Em Annapolis, continuava resolvendo seus negócios. Já havia esvaziado a casa e entregue as chaves a imobiliária que escolheu para vendê-la. Na última semana promoveu um pequeno bazar com as coisas que não queria mais, outras doou para instituições de caridade e afins. Conversou com Dulce por telefone a noite.

- Logo irá voltar então?

- Sim. Estou resolvendo algumas coisas que ainda estão pendentes, mas logo estarei de volta. - Sorriu.

- Oh, Any! Já estava achando que não voltaria. Você está certa em dar a volta por cima.

- Hãan, Dulce? Tem algo que precisamos conversar, mas vou deixar para quando estivermos juntas.

- Espere, é algo sério? - Dulce pareceu preocupada, a tonalidade da sua voz demonstrava isso.

- Não se preocupe, não é nada demais. Fique tranquila. Bom, preciso desligar estou morta de sono. - Bocejou.

- Ok, mas continuo curiosa... Tenha uma boa noite de sono, se cuida!

- Você também. Até logo.

Pôs o telefone na mesa ainda intrigada sobre o que seria essa conversa, esperava que fosse algo bom, ela parecia feliz, mais tranquila do que quando embarcou.

Balançou a cabeça negativamente com um sorriso despertando dos pensamentos. Olhou Christopher sentado no sofá, jogava videogame, mordeu os lábios percebendo como seu cabelo bagunçado o deixava sexy. Sentou-se ao seu lado e deslizou as mãos por seu cabelo, afagando-o.

- Amor... - Sussurrou próximo a sua orelha.

- Hum? - Continuava com os olhos atentos ao jogo. Ela revirou os olhos.

- Não quer fazer algo interessante? Comprei uma nova lingerie, vermelha... Acho que você vai gostar. - Massageou seus ombros e deslizou o queixo pela lateral do seu rosto.

- Vermelha é? - Ela afirmou com a cabeça com um sorriso sapeca - Assim que eu passar essa fase...

- Não acredito, Christopher! - Bufou se levantado e dirigindo-se ao quarto. Ele olhou sem entender, pausou o jogo e foi atrás dela.

- Minha ruivinha, não fique brava. - Deitou-se ao seu lado na cama e beijou seus ombros e pescoço, ela se esquivou.

- Você é um idiota, parece dar mais atenção a esse jogo do que a mim. Veio aqui para me ver ou ao videogame? - Virou-se para ele.

- Claro que você, videogame eu tenho em casa sua boba. - Gargalhou, a deixando ainda mais irritada. - Own, não fique assim, Dul. Você sabe muito bem que eu te amo.

- Mais que os jogos? - Fez beiço.

- Muito mais. - Depositou um beijo em seu rosto.

- Então fique aqui comigo e me ame, preciso sentir seu corpo, seu calor e seu amor. - Ele ficou sobre ela, se apoiando pelas mãos para não machucá-la, a beijou. Ela deslizou os dedos pelo seu lábio o provocando, selando mais uma vez seus lábios para um novo beijo. Dessa vez mais denso e caloroso.

Maite saía do escritório que trabalhava quando seu advogado ligou a avisando que o processo de guarda fora aberto. De primeiro momento entrou em choque, pensar que podia perder seu filho a fazia querer morrer. Samuel era sua vida e justiça nenhuma o tiraria de seus braços.

- Então você foi em frente. Acha mesmo que vai conseguir a guarda do MEU filho? - Disse assim que Alfonso abriu a porta. Estava com os olhos avermelhados e esbugalhados.

- Não era o que você queria?

- Não. Tudo que eu quis foi reconstruir nossa família, mas você está disposto a se aventurar nessa paixão vagabunda a qualquer custo.

- E tudo o que eu quis foi agir da maneira certa, só que você não quer entender que acabou. Deus sabe o quanto tentei facilitar, só que cansei de ser o bonzinho com você.

- Qualquer um que tenta tirar um filho dos braços de uma mãe é um canalha, isso que você é Alfonso. Eu nunca vou te perdoar pelo que está fazendo comigo. Espero que consiga dormir com a consciência tranquila, porque o que está fazendo é como se estivesse me matando. - Secou uma lágrima com frieza e entrou no elevador. Ele engoliu em seco e socou a porta, também estava morrendo por dentro.

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