Capítulo 3

2.9K 214 159
                                    


Quando você está apaixonada, é muito fácil saber. Os sintomas são evidentes, e qualquer pessoa pode lhe fazer um diagnóstico. Basta quem você está apaixonado estar ao seu lado que as pernas começam a tremer, o coração dança sem parar, surgem borboletas do acaso em seu estômago que parecem estar brincando num verdadeiro parque de diversões. Você troca o sal pelo açúcar e vice-versa. Nem se importa com a mudança de sabores. Só existe uma imagem ao dormir e ao acordar, e sua mente trabalha nela, mesmo quando a sua alma está descansando. O despertador não te irrita. O clima parece conspirar a seu favor, mesmo este estando nublado. Seus sentidos ficam comprometidos. Sua vida parece ter trilha sonora. Um sorriso bobo no rosto, pupilas dilatadas, mãos suadas. Típicos sintomas do vírus da paixão. Já os sintomas de amor, eu desconheço.

A semana passou rápido, praticamente voando. E em cada dia eu pensava no que aconteceu naquela festa. Todo o comportamento de Alex e o beijo que ele havia me dado ao mesmo tempo em que me arrancava um leve sorriso, fazia-me sentir um idiota por ter cedido aos seus encantos.

Comecei o meu trabalho numa empresa de ambientes planejados e no meu primeiro dia, minha chefe, Sarah, uma das sócias, me mostrou toda a empresa. Era gigantesca, sem dúvida, e a decoração finíssima. Ela me explicou que eu passaria um mês trabalhando no período da manhã para meu treinamento, me liberando na quarta e na quinta, pois tinha aula. Depois trabalharia no cargo "efetivo" no período da tarde, apenas. Eu ia ser secretária de dois executivos, ou como ela havia me dito, projeto de executivo. O fato era que um deles era filho dela e não havia se formado ainda.

Kate e Mat ficaram a semana inteira trocando mensagens, e até combinaram de sair. Na quarta e na quinta, Alex e eu nos ignoramos o tempo todo. Isso não me impediu de sonhar com ele todas as noites. Ainda não recebi nenhum retorno nos meus e-mails, nem tive uma ligação de muito sucesso em relação ao advogado que me minha prima havia me indicado.

Domingo nuca foi um dia pelo qual eu tivesse muito apreço. Era um dia preguiçoso e entediante, então eu passava boa parte dormindo ou estudando. Ir visitar meus pais era impossível, pois sempre era uma discussão entre mim e minha mãe, ou entre ela e meu pai. Almoços de família eram raros e os que tinham, eu nunca ia.

A claridade insiste em bater na janela e atingir meu rosto. Tive outro sonho. Mais um. Um pouco mais intenso do que os outros. Não lembro com clareza como era, eu só sei que todos eles me remetem a uma única cena: o beijo.

Eu já estava de olhos abertos, mas meu corpo implorava por cama. Levantei com muito custo e fui fazer o café e enquanto a água fervia, era tempo suficiente de eu tomar um banho e tirar toda a moleza do corpo. Depois, com uma calça pijama, e uma regata, eu preparava a mesa com torradas, frutas e um delicioso café preto. Nem parecia que eu morava sozinha. Sentei a mesa, passei uma margarina em duas torradas, enchi meu copo com café e comecei a pensar. Café da manhã era a minha refeição preferida. O sabor daquele líquido preto e quentinho me acalmava, apesar da cafeína. Eu não levava comigo celular ou note book. Era só eu. O meu momento. O momento em que eu me inspirava.

Quando eu era criança, tinha mania de escrever alguns poemas em um caderninho. Eu expressava tudo o que eu estava sentindo em uma folha de papel. Uma espécie de diário, mas com versos e estrofes. Por um bom tempo eles foram o meu refúgio a fim de colocar todo o peso de mais um dia humilhante na escola. O meu último poema foi aos dezenove anos quando eu decidi que nunca mais me apaixonaria.

Naquele momento, alguma coisa me dizia que eu deveria pegá-lo. Levantei-me e fui em direção ao armário que ficava ao lado da mesa de jantar. Peguei o caderno e em seguida voltei a me sentar. Dei um gole no café, e comecei a folheá-lo. Uma caligrafia meio torta, vários sentimentos numa única palavra e um pedaço do meu coração em cada página.

No tempo certo - A distância LIVRO1Onde histórias criam vida. Descubra agora