Bônus

1.5K 121 74
                                    



" Cinco anos atrás"....


- Liza, anda logo! Vai se atrasar para o primeiro dia de aula. - minha mãe gritava da cozinha.

- Já estou indo, mamãe. - respondi.

Pra dizer bem a verdade, eu não estava nem um pouco afim de ir a escola. Era tudo novo. Professores novos, pessoas novas, eu odiava o novo. Quando se acostuma com as pessoas, até o jeito como elas te rejeitam passam a não te incomodar tanto, porém, quando as pessoas são completamente desconhecidas, o medo é algo incrivelmente absurdo. Olho no espelho inúmeras vezes e por mais que eu estivesse dez quilos mais magra, a minha visão era de um completa obesa. "Qual era o problema em ser assim"? Perguntei-me por longos anos até descobrir que a sociedade não é tão boazinha quanto você acredita ser.

Eu já tinha dezessete anos e estava no último ano do colégio. Época em que os hormônios estão à flor da pele e eu sabia mais do que ninguém que se eu não tomasse uma atitude, eu passaria pela mesma situação quantas vezes fossem necessárias. A questão é que eu estava cansada. Cansada de toda aquela humilhação, de toda aquela decepção. Descobrir que as garotas as quais você acreditava serem suas melhores amigas, na verdade andava com você apenas para sobressair a beleza delas. Saber que nenhum menino se interessava por você e todos lhe faziam brincadeiras de mau gosto, era de perder as esperanças.

Minha primeira decepção foi aos nove. Apaixonei-me perdidamente pelo novo aluno do colégio. Diferente de mim, ele era mais espontâneo e fazia amizades facilmente. Lembro - me de na festa junina eu não ter nenhum par sequer para dançar quadrilha, pois era professora quem escolhia, e numa turma de alunos em que havia mais meninas do que meninos, alguém iria sobrar, no caso eu e mais uma menina. No dia do evento eu estava frustrada por não ter um par e consequentemente não iria dançar e nem tirar foto. Mas ainda tinha uma esperança. Aquele menino que eu fiquei boa parte do tempo contemplando sua beleza, chegara, era a professora decidir me colocar com ele e tudo seria resolvido. Ela me chamou juntamente com a outra garota e Felipe, meu primeiro amor.

- Felipe, pra você dançar quadrilha você precisa escolher um par. - informou a professora.

Sem pensar duas vezes e nem sequer observar com mais atenção, ele escolheu a outra menina, segurou sua mão e foram em direção a quadra se prepararem para dançar. Fiz uma cara emburrada quando na verdade a minha vontade era de chorar.

- Liza, minha querida. Eu sinto muito, prometo tentar achar outro par pra você, está bem? - a professora tentava me consolar.

Apenas consenti com a cabeça, mesmo sabendo que procurar seria em vão e não seria tão especial se tivesse sido com Felipe. Corri para o corredor lateral da escola, sentei-me no chão erguendo os joelhos, e afogando minha cabeça neles, pus-me a chorar.

Com dez anos eu era gorda demais para namorar o meu vizinho.

Aos doze, na minha festa de aniversário o menino que eu gostava empurrou minha cabeça contra o bolo rindo debochadamente de mim, assim como todos os meus amigos que estavam presentes.

- Calma aí Liza, deixa um pouco de bolo pra mim. Não vai comer tudo, é capaz de explodir. - zombou.

Com quatorze, o meu melhor amigo disse ser apaixonado pela minha melhor amiga.

Aos quinze, o meu primeiro beijo aconteceu porque Nick estava bêbado e não podia ser visto com uma garota assim como eu, e tive que ouvir ainda de sua irmã dizer que se eu emagrecesse talvez teria alguma chance.

No tempo certo - A distância LIVRO1Onde histórias criam vida. Descubra agora