Com muito custo eu decidi aceitar sair com Peter. Fiquei o Sábado inteiro pensando se seria ou não uma boa ideia, mas depois da noite de ontem, eu teria que começar a pagar a primeira parcela da minha dívida, o quanto antes. Afinal, seria mais fácil dar um fora em Peter do que em Alex. Era preciso desligar o fato de eu ter sido carinhosa quando era para ter sido indiferente.
Liguei depois do almoço para Daniel, perguntando como estavam as coisas, disse que estava tudo bem, e então não quis saber mais a respeito. Alex pareceu não se importar muito porque não mostrou interesse em falar comigo. Sei lá, talvez um "muito obrigado, por ter cuidado de mim". O fato é que eu deveria esquecer. Focar apenas em Peter, e no meu encontro com ele. Não que eu estivesse empolgada, estava longe de ser isso. Liberdade muitas vezes significa estar preso. Sair com Peter seria uma fuga, ao mesmo tempo em que seria uma prisão.
Por mais que eu odiasse encontros eu decidi fazer conforme manda o protocolo. Pedi para ele me buscar em casa. Poderia ser mais um iludido por mim? Poderia, com toda a certeza. Mas por outro lado eu provavelmente me libertaria de um sentimento confuso, inexplicável e completamente sem sentido que eu tinha por Alex. Eu não suportaria o fato de em algum momento ter que lhe dar um fora, dizer pessoalmente "eu não quero nada com você". Nunca é fácil dizer a verdade cara a cara pra alguém, jogar indiretas seria muito mais fácil se as pessoas fossem mais espertas. Mas Alex parecia ser mais difícil tomar uma atitude. Era como se magoar Alex fosse magoar a mim mesma.
Pra dizer a verdade eu nem mesma sabia se Alex sentia alguma coisa por mim. Talvez seria mera atração, ou um sentimento de amizade, e o porre dele não seria nada a não ser uma curtição e era nisso que eu tinha que acreditar.
Eu pedi, supliquei para que Alex se lembrasse de cada detalhe daquela noite. Pelo menos o fato de eu ter conversado com Justin. E que ele pensasse que o motivo pelo qual eu fugi dele, foi porque eu queria alguma coisa com o primo de Daniel, e de fato eu queria. Mas a bebedeira de Alex tinha que estragar tudo.
Peter não demorou muito para chegar, pelo contrário foi pontual. Ele me levou a um restaurante italiano. O lugar era refinado, o que me fez ter ainda mais remorso pelo que estava para acontecer. Ele podia muito bem pensar que eu era uma interesseira. Talvez eu fosse. Aceitei o convite por puro interesse de me fazer esquecer qualquer sentimento que tivesse por Alex.
Quando os nossos pedidos chegaram, eu comecei a me lembrar de Alex aparecendo em casa com uma sacola, dizendo que havia feito questão de preparar o macarrão para mim. Quando ele sujou sua camisa e eu ajudei a limpar, e até quando ele derrubou a mesma no chão, de forma a colar nossos corpos. Fiquei imaginando o que poderia ter acontecido. Acabei dando um sorriso pela lembrança, mas afastei esses pensamentos, antes que Peter notasse algo errado.
Se eu quisesse me livrar de Alex eu tinha que me entregar ao encontro, mas de modo que eu passasse a ideia de que não queria nada sério. Ele poderia me julgar, me rotular, mas eu não podia julgá-lo por uma coisa que eu mesma havia procurado.
- Me conta mais sobre você. - pediu Peter.
- Faço direito, tenho vinte e um anos, trabalho numa empresa de ambientes planejados, e vou morar na Alemanha. - respiro fundo tentando recuperar o fôlego.
Peter da um gole no vinho e pega a minha mão:
- Relaxa, não precisa ficar nervosa. Vai mesmo morar na Alemanha?
- Ano que vem. – respondo.
- E quanto tempo pretende ficar?
- Um ano e meio.
Ele me olha assustado.
- Um ano e meio? Tudo isso? - ele limpa a boca com o guardanapo.
- Pois é, mas já estou acostumada com a ideia. "Pelo menos eu acho".
- Tem alguma coisa que a faça mudar de ideia? - pergunta Peter.
- Não. Absolutamente nada. Estou certa disso.
Ele segura minha mão novamente e faz uma espécie de carinho.
- Nem um amor?
"Ótimo, o assunto proibido".
Afasto a minha mão e dou um gole no vinho.
- Digamos que eu e o amor não somos muito amigos.
Ele da um sorriso.
- Até parece Liza, você é incrível, é linda, qualquer um pode facilmente se apaixonar por você.
Dou um sorriso tímido e agradeço. "Por que eu não vim com meu carro? Era a hora certa para fugir. Ok, mais um arrependimento para a coleção".Por sorte Peter não entrou e detalhes. Mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde o assunto iria voltar. Depois de um tempo, eu consegui me interagir mais com Peter, conversamos por horas e só saímos quando o restaurante estava fechando. Senti-me bem por ter conseguido ficar a vontade, e por um instante, afastar Alex da minha mente.
Peter era perfeito, o ambiente era perfeito, a comida, tudo, mas eu não me encaixava lá. Ele merecia alguém que gostasse dele de verdade. Era uma boa pessoa. E boas pessoas precisam encontrar alguém que tenha um coração, e não um projeto dele. Arrependi-me de não ter escolhido um cafajeste como cobaia. "Mais um arrependimento na conta".Antes de irmos pra casa, Peter me convidou pra tomar um sorvete na praça. Ele pareceu meio tímido por ter feito aquele convite, mas eu apenas sorri e consenti. Por um momento eu olhei as estrelas e então eu me lembrei da noite passada.
- Ei! Seu sorvete vai derreter. - interrompeu Peter os meus pensamentos
Dei um riso fraco e lambi meu dedo melado. Peter dá uma risada e eu o olho com uma sobrancelha arqueada.
- O que tem de tão engraçado? - pergunto rindo.
- O jeito como você toma sorvete, é engraçado.
- Isso é porque eu estava distraída. - tento consertar.
- Sei. - desconfia.Ele então me olha profundamente. Sua expressão é séria, mas ao mesmo tempo doce. Ele se aproxima e me dá um beijo, lento e puro. Afasto-me dele e lhe dou um sorriso voltando a me concentrar no sorvete.
O caminho de volta pra casa foi tranquilo. Ria sem parar com as piadas de Peter e as histórias bizarras que ele me contava. Poderia ser mais um para a minha lista de amigos.
Ele parou em frente ao meu prédio e me beijou novamente. Foi um beijo mais intenso, o qual continha uma mão em minha coxa, e subia as minhas costas, indo até meu pescoço. Eu tinha que interromper aquilo. Quanto mais você dá corda, mais difícil de enrolar depois, fica.- Posso subir? - pergunta ele com um sorriso malicioso.
- Acho melhor não. - nego dando um falso sorriso.
Ele respira fundo, mas não parece irritado.
- Liza, minhas intenções são as melhores com você. Desde aquela festa eu gostei de você. Quero que saiba disso. E se o destino nos deus essa oportunidade, é porque talvez ele nos queira juntos. - diz enquanto acarinha meus cabelos.
-É esse o problema.
Ele me olha surpreso:
- É por que vai pra Alemanha? – deduz.
- Não é só isso. - olho para o lado em busca de palavras - É que eu sou meio complicada. - respondo finalmente. "Vamos Liza, você já fez isso antes".
- Seja mais clara. - pede Peter.
Eu respiro fundo.
- Peter, eu não quero um relacionamento sério, não quero namorar, nem casar, ter filhos ou coisas do tipo. Você pode me achar uma estranha ou algo pior que isso. Mas infelizmente eu sou assim. - confesso.
Ele se afasta de mim e encosta o corpo no banco. Fica um tempo em silêncio e então reage.
- Não vou pensar nada de você. Você foi sincera. Isso tem a ver com o que você falou sobre não ser amiga do amor?
Faço que sim com a cabeça.
- Só não me peça pra entrar em detalhes, por favor. - imploro.
Peter balança o polegar no volante e olha para o nada por alguns instantes. – Eu adorei de verdade, sair com você. Fiquei o dia inteiro pensando se era ou não uma boa, me desculpe se eu te decepcionei - digo abaixando a cabeça.
Tiro os cintos e ameaço sair do carro, mas Peter me interrompe.
- Foi uma boa ideia. Sua companhia sempre será agradável. Vou respeitar o seu tempo, mas não vou desistir de você. - informa me dando um selinho demorado.
Saio do carro e Peter vai embora.Uma hora ou outra eu tenho certeza, ele vai acabar desistindo. Sentimento assim não dura eternidade.Aliás o "para sempre" é invenção dos contos de fadas. Peter irá superar. Eu superei tantas vezes. Engraçado como você julga as pessoas que destroem corações e acaba você mesmo tomando a posição do agressor. Mas por um lado pensar dessa maneira compensa o remorso de ter dispensado Peter e o fato de que mais cedo ou mais tarde, eu não sentiria mais nada por Alex. Eu simplesmente iria esquecê-lo.
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No tempo certo - A distância LIVRO1
Romance(Revisado) Se você tivesse sua vida inteira planejada, o que te faria abrir mão de seus sonhos? Após um longo histórico de decepções amorosas, Liza decide fechar seu coração por completo. Sendo assim, ela dedica a sua vida a uma carreira profissiona...