"Nunca diga adeus, porque dizer adeus significa ir embora e ir embora significa esquecer". (Peter Pan)
Alex me odiaria para sempre e isso era o que mais me machucava. Eu não tiraria a sua razão, até porque eu seria hipócrita a ponto de agir assim como Bill agiu: sumir logo depois do momento mais maravilhoso que tivemos, mas ao contrario dele não é com intenção de ferir, mas com a intenção de libertar, de proteger. A cima de tudo estava a felicidade de Alex e se eu não tivesse um coração puro, inteiro, nada do que eu tivesse a oferecer seria suficiente.
Seria eu covarde demais para enfrentá-lo e dizer a ele da minha decisão, então sumir sem dar notícias me pareceu o mais adequado. Os poucos dias de praia que nos restou eu tentei aproveitar ao máximo as últimas horas com ele, mesmo sabendo que seria errado criar expectativas. Mas eu queria decorar as linhas do seu rosto e cada pelo de sua barba e sobrancelha. Eu queria afogar minhas mãos em cada onda do seu cabelo e gravar seu toque em minha pele. Queria descobrir marcas de nascença e as pintas que ele tinha espalhadas pelo corpo, assim como cada curva que ele possuía. Queria eu poder guardar todas as suas manias e toda a sua personalidade. Levar comigo todos os momentos que passamos juntos, a nossa história. Porém eu deixaria seu coração para que ele pudesse entregá-lo a alguém que merecesse mais que eu.
Assim que voltamos eu tratei de cuidar de tudo. A primeira coisa que eu fiz foi passar na casa do meu pai. Ele percebeu meu estado, mas eu não quis tocar no assunto, muito menos entrar em detalhes, apenas passei uma tarde com ele querendo saber das coisas que tinha feito todo esse tempo que passei sem visitá-lo.
- Pai?
- Sim, querida.
- O meu quarto... Como ele está? - papai estranha minha pergunta franzindo o cenho.
- Está do mesmo jeito como da última vez que você o deixou.
Fiquei encarando a escada pensando se deveria ou não fazer o que estava disposta. Respirei fundo e levantei-me.
- Já volto.
Terceira porta a direita. Era girar a maçaneta e entrar, mas minhas mãos estavam trêmulas. Com certa dificuldade abri a porta e pude ver a fresta de luz que surgia da janela.
As cortinas brancas balançavam timidamente e a cama a minha frente tinha o mesmo lençol rosa, o qual mamãe deveria ter lavado algumas vezes. A minha boneca de pano deitada sobre os travesseiros de florzinhas, o tapete de plumas na lateral da cama e até o meu velho baú, onde guardava minhas bonecas e ursinhos. Minha escrivaninha com alguns livros de contos de fadas, pelo menos os que restaram. Aproximei-me para olhá-los: eu tinha a coleção toda, mas havia jogado boa parte. Em cima, havia uma instante que eu me lembro perfeitamente, era onde ficava minhas princesas preferidas até o dia em que joguei-as fora. Deslizei as mãos sobre a mesa voltando as lembranças de mim e Bill estudando e do nosso primeiro beijo. Minha penteadeira tão branquinha, era possível ver meu reflexo pelo seu espelho. Ah! Aquele espelho. Quisera eu quebrá-lo tantas vezes.
Sentei-me na cama passando as mãos pelos lençóis e não resisti em chorar. Por mais que odiasse Bill com toda a certeza ele ainda era um peso em minhas costas. Em cima da minha cabeceira havia algumas fotografias minhas e deles e de algumas amigas do colégio. Sequei algumas lágrimas e levantei-me rapidamente arrancando todas elas do mural e as rasgando uma por uma. De certo modo eu me senti mais leve. Peguei meu baú e o coloquei em cima da cama. O abri e... Droga! O Stitch estava lá me olhando com aquela carinha, e ele era tão fofo que o odiei por isso. Coloquei as fotos rasgadas por cima dele, e fechei o baú. Com ele em mãos, desci as escadas rapidamente, papai ainda estava no mesmo lugar.
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No tempo certo - A distância LIVRO1
Romance(Revisado) Se você tivesse sua vida inteira planejada, o que te faria abrir mão de seus sonhos? Após um longo histórico de decepções amorosas, Liza decide fechar seu coração por completo. Sendo assim, ela dedica a sua vida a uma carreira profissiona...