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Anahi

Já não aguentava mais aquilo e na primeira oportunidade escapei, mas pelo visto alguém me seguiu e informou pra ele.
Tudo o que mais quero é poder viver, ser feliz, poder me tornar a estilista na qual eu me formei pra ser.
Manoel gritava mais algumas coisas que sinceramente nem mesmo ouvi.
Manoel: sua vadia, você é minha propriedade! Eu paguei por você e não foi barato! - se virou pra mim - Mas você vai aprender a respeitar e obedecer seu marido hoje, ah mas vai!
A única coisa que vi com meus olhos embaçados pelas lágrimas foram faróis altos enquanto ouvia a buzina.
Any: vamos bater! - foi a única coisa que consegui dizer antes da colisão.
O caminhão bateu direto do lado do motorista, eu bati minha cabeça e o cinto apertou meu peito, prendendo meu ar. Minha visão ficou turva, minha cabeça latejou, algo quente escorreu por minha testa e depois tudo ficou escuro.

No meio daquela escuridão pude ouvir algumas vozes, algo me chamando de volta, mas eu não conseguia abrir meus olhos, eles não obedeciam minhas coordenadas.
Senti alguém tocar minha mão, um calor tão gostoso, uma sensação tão boa.
As vozes continuavam, cada vez mais próximas e mais nítidas, os bips feitos por máquinas próximas a mim seguiam um ritmo constante.
XXX: como ela está enfermeiro?
XX: batimentos normais, respirando sem auxílio dos aparelhos doutor.
XXX: quadro estável. - fez uma pausa - Isso me preocupa, já faz duas semanas que ela está em coma e não reage.
"Eu estou em coma? Como assim?"
XX: doutor Galvez disse que pacientes nesse estado precisam do apoio da família e amigos. Na maioria dos casos é o que precisam pra querer lutar. Não conseguiram contatar a família dela?
XXX: através dos documentos dela, encontramos o pai, mas ele se recusa a visitá-la, sem contatos de amigos em sua agenda, nada.
"Até agora ele não disse nada que eu não saiba"
XX: como um pai pode abandonar a filha assim? - perguntou indignado - E o marido doutor Xavier?
Xavier: quando ela acordar teremos que dizer.
"Oh não! Pelos céus, não! Manoel de novo não"
Senti meu coração acelerar, os bips das máquinas perderam a sincronia.
Xavier: o que aconteceu? - perguntou ao enfermeiro.
XX: não sei, ela estava bem até falarmos no marido dela. - e os bips aumentaram ecoando pelo quarto.
Xavier: aplique uma dose de calmante.
XX: sim senhor.
Xavier: e fique com ela até o quadro normalizar novamente.
XX: certo.
Ouvi passos e uma porta se abrir e fechar em seguida. Aos poucos fui me sentindo mais calma, meu corpo mais leve.
XX: isso bela adormecida, se tranquilize sim?! - senti suas mãos sobre as minhas, sensação boa - Não sei o que aconteceu, mas tudo vai ficar bem. Passo tanto tempo com você que já sinto como se fosse minha amiga.
Havia um tom de carinho em sua voz que confortou meu coração.
XX: acho que pra sermos amigos só falta as apresentações. Eu sei que seu nome é Anahi Portilla Velasco, mas aqui no hospital todos a chamam de bela adormecida. Eu sou seu enfermeiro na maior parte do tempo, meu nome é Alfonso Herrera, mas pode me chamar de Poncho caso se lembre quando acordar. - ouço o riso dele, tão bom - Doutor Galvez disse que é possível você ouvir e sentir mesmo em coma. Bom, agora que você tá bem, vou ver mais dois pacientes e almoçar. Mais tarde volto pra te ver.
Mais uma vez ouvi passos e a porta abrindo e fechando em seguida.

Tu Voz Me DespiertaOnde histórias criam vida. Descubra agora