Procura-se um novo esconderijo (revisado)

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Inacreditável. Vejo os alunos comerem suas comidas como se fossem a coisa mais banal do mundo. Mas comem elegantemente, e parece muito exagerado. Abro meu tupperware rosa e penso que isso também é inacreditável. Caramba, olha o tamanho desses bifes. São menores que meu dedo, mas não reclamo. Pelo menos o resto é em porções um pouco maiores.

-Você deve ser Smith, a nova aluna transferida da turma C. Você já começou a comer? Vamos almoçar juntos.-diz um garoto bonito, barrando Julie. Ela parece um pouco incomodada, mas até então eu não havia percebido.

-Eu...

-É logo ali, vamos.- o garoto insiste.

-Ah, Julie, venha se sentar aqui.-eu a chamo. Ela parece agradecida, e vem se sentar comigo.

-Obrigada. -ela parecia muito aliviada.

-Sem problemas.

-Eu não me dou muito bem com garotos. E também parece que não me acostumo com essa escola. 

-Ei... Talvez você seja... Uma pessoa comum?-Essa ideia brilha na minha cabeça. Talvez ela seja... Como eu.

-Que horror! Mofo!-ela diz horrorizada, do nada, apontando para meu arroz.

-São apenas pequenos pedaços de ovos.-ela olha pra mim com uma expressão "tem certeza?" e eu aceno afirmativamente com a cabeça. 

-Realmente, você é uma princesinha.-comento, e ela parece não ligar. -Você quer experimentar?-pergunto, oferecendo-a uma pequena porção. Ela aceita receosa, mas tá na cara que ela está curiosa. Ela dá uma mordida e dá um sorriso logo em seguida.

-Delicioso! Obrigada! Posso ficar com este?

-Claro, pode ficar.-digo dando uma risadinha. Julie parece uma pessoa muito legal. Conversamos sobre várias coisas durante o horário de almoço. Ela começa a dar risada de uma piada besta, e quando se levanta com a bandeja nas mãos, derruba tudo em cima de alguém. De Zack. Merda.

-M-Me desculpe. -ela aparentava bastante medo.

-Que raro tipo de cumprimento. - ele ironiza.

-Eu... Eu pago a lavanderia.

-"Eu pago a lavanderia". Que brincadeira é essa, afinal?-diz ele, parecendo muito irritado, tirando sua blusa e sua gravata desajeitada. Ele joga sua blusa pesada em cima da garota, que dá um gritinho. O zíper enorme pega em seu braço, e parece machucá-la, mas ela não esboça qualquer que seja a dor. O líder parece não se importar com absolutamente nada.

-Vamos Zack... Não maltrate garotas bonitas.-interveio Christopher, segurando os cabelos dela com um sorriso.

-Que pena, gostaria de te encontrar daqui a dez anos. Ei, você tem uma irmã mais velha?-Aquele outro membro, Stephan intervém.

-Ah-a. Que gelado. E se eu pegar pneumonia e morrer? Eu, Zachary Murray, sou herdeiro do nome que sustenta a economia dos Estados Unidos. Você alguma vez pensou no futuro dos Estados Unidos?-diz, aproximando-se da garota, que não recua, porém aparenta visivelmente estar com medo e constrangida. Ela continua quieta. -O que você pensa? Estou te fazendo uma pergunta!-esbraveja, cuspindo em seu rosto angelical. Basta.

-PARE! Pare... Por favor.-o colégio inteiro olha para mim, estáticos. Até os F4. -Por favor, perdoe-a. Ela... Não fez de propósito.-ele me encara fixamente, girando a cabeça. Ele me contorna e depois dá meia volta e vai embora, sem dizer nada, levando junto seus queridos e amáveis amigos. Olho para Julie, mas ela está sem expressão alguma. A partir de então... A partir de então, rezei por uma vida pacífica. Mas no final, acabei caindo no jogo deles. E lá estava, a tarja vermelha dentro de meu armário algumas horas depois.

. . .

-AMELIA CONNORS DA TURMA 2C RECEBEU A TARJA VERMELHA! AMELIA CONNORS RECEBEU A TARJA VERMELHA! -a notícia se espalha rapidamente. Quando entro na sala, todos me olham e começam a dar risada, e logo me expulsam. É melhor eu correr, pra bem longe. Desço as escadas rapidamente e acho uma saída. A lata de lixo. É melhor do que ser humilhada pela escola toda. Mas não dá lá muito certo, pois quando tiro a tampa do lixo, um balde enorme de comida estragada cai em minha cabeça, e me desvio para para não ganhar um balde na cabeça. Eles dão risada do andar de cima. Sou obrigada a voltar para as aulas normais, e começo a achar que esse pesadelo está no fim. Claro que não, quando recebo uma torrente de tinta branca vinda de todos os alunos no meio da aula de alemão. 

-Parem com isso! -berro, e todos riem. O professor me manda ficar quieta. Está incomodado e quer terminar com isso se pudesse, mas não tem poder para nada disso. 

. . .

Sento-me nas escadas, e vejo Julie passando. Chamo-a, porém ela finge não ouvir e passa reto, claramente com medo. Claro, ela certamente não queria estar na minha pele, e está me evitando por isso. Alguns segundos depois, recebo um balde de água fria na cabeça, vindo daquele trio de garotas extremamente fúteis e idiotas, que dão risada.

-Até sua amiga te jogou fora, né?

-É por que você sempre foi um incômodo para todos. 

-Uma pessoa comum como você, se atrevendo a estudar num colégio como este.

-Apresse-se e saia daqui! Pobre!-as três debocham em uníssono, dando risadas ridículas. Corro até meu lugar, o único que tenho certeza que ninguém pode vir.

-MERDA! MERDA! MAS QUE MER...

-Pare com isso, pode ser?-diz tranquilamente uma voz  masculina, vindo das escadas. Derek Saunders. -Não fique reclamando por aqui.

-C-Como?

-Será que você poderia parar de se desestressar aqui também? -ele realmente parecia incomodado.

-V-Você tem me ouvido todo esse tempo?

-É. Sinto muito, mas essa escada de emergência é o meu lugar. Eu gosto daqui. Não gosto que me atrapalhem.-ele diz com uma voz suave e graciosa, e está segurando uma revista, e a folheia. Fico encarando-o por muito tempo, até que ele percebe. Peço desculpas quase inaudíveis e subo as escadas, voltando ao meu verdadeiro lugar.

-Você é que está com problemas, não é?-ele pergunta de repente, e fico paralisada na escada feito uma boba. Ele não diz mais nada, nem eu, então ele passa por mim e vai embora, me deixando meio sem reação alguma. 



A filha da empregada- EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora