57. O Paraíso?

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  Me sentei confortavelmente naquela cama, cruzei as pernas lentamente e olhei para o nada, reparei que tudo no ambiente era de cor branca ou bege, tudo sempre muito claro, fui vagando a mente pelo recinto, até que eu o olhei, observando-o cuidadosamente daquela cama, aquilo não me parecia nem um pouco real, meus enormes olhos recheados de um verde intenso, curiosos e questionadores agora estavam diretamente direcionados a ele, e ele parecia nem se importar, mas como? Todos que eu observo com olhos vidrados se incomodam, como ele não sente nem um pouco de agonia? Ele parece mal notar, ele nem se importa, talvez esteja acostumado a isso.

  Ele ainda aparentava rir, só que em sua própria mente, ele parecia esperar a oportunidade de me ouvir perguntar mais babaquices para esbanjar mais sorrisos e até quem sabe gargalhadas profundas, repentinamente ele olhou em minha direção com aqueles lindos e maravilhosos olhos cinzentos e...

  A porta foi aberta brutalmente, eu esperava que o próprio Jonathan com olhar vingativo, pavoroso e reprovador ou quem sabe o Dave aparecesse lá com o desespero e a preocupação claramente visíveis, mas não, tudo que eu pude ver foi uma garota com uma espada em sua mão direita, ela estava com um olhar de pleno espanto.

  A garota possuía cabelos muito encaracolados e castanhos, ela tinha o tom de pele bastante escura e bronzeada, olhos cor de âmbar e sobrancelhas arqueadas, ela estava espantada, mas não em prantos, como se o céu desmoronasse, mas ainda houvesse esperanças, como se ainda houvesse como salva-lo e reconstruí-lo, literalmente edifica-lo do zero sem ter muitas perdas e danos, ela olhou na direção do garoto de cabelos azulados, ele se levantou sem mudar sua expressão, continuava sério, não se apavorou, apenas se pôs de pé, olhou para mim como se eu fosse um problema sozinha naquele cômodo, logo a menina andou depressa em minha direção, somente arregalei as sobrancelhas sem entender absolutamente nada e permaneci em total silêncio, não queria fazer papel de tola novamente, mas ela pôs sua mão sobre minha cabeça e um sono pesado foi tomando conta de mim, eu me senti pesada e tudo começou a girar de repente, me senti fraca e tive uma enorme vontade de dormir ali mesmo, a maior vontade de dormir que já sentira em toda a minha vida, meus olhos foram fechando involuntariamente, mas eu lutei contra o sono o máximo que pude, apaguei logo depois do garoto indiferentemente me pôr em seus braços e começar a seguir a garota pelo corredor como se o céu desabasse, mas ainda tivesse como salvar o paraíso.

  O que aquela menina havia feito comigo? Só por ter posto a mão sobre minha cabeça me causara sono? O que estava acontecendo para aquele espanto? Onde eu estava? Para onde me levavam?

  Eram muitas perguntas, eu estava mais curiosa do que jamais estive, quase estava a roer unhas de tanta curiosidade e nervosismo, mas eu precisava segurar as perguntas e ignorar minha curiosidade para não parecer idiota na frente deles, não quero que todos riam da minha cara de tal forma a me constrangerem, controlar minha curiosidade será o maior desafio que eu poderia enfrentar, minha curiosidade é tudo que eu sou, ela faz parte de mim, você pode pegar tudo que eu tenho, você pode quebrar tudo que eu sou, mas não pode mexer na minha curiosidade, eu adoro ela, evita-la será difícil e desafiador, parece impossível, principalmente agora que não sei onde estou, não sei quem são essas pessoas e não sei o que está acontecendo de desesperador para esta correria.

  Eu me sentia no paraíso, mas até os grandes paraísos entram em guerras, os maiores paraísos sempre estão em conflito, pois a felicidade total não pode ser alcançada, a paz tão extrema parece impossível e esse paraíso perfeito é momentâneo, por isso se deve aproveitar e ter um olhar questionador e curioso a todo instante, os bons momentos duram pouco, por que não aprender com eles?

Vermelho Cor de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora