Overture

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Dez/2016

— Você tem que se acalmar!

Baseando-se no tamanho da minha barriga e das dores que me atingiam agora de dois em dois minutos, qualquer um pensaria que aquela frase estava sendo dita para mim e não por mim, mas Liam estava em um estado que eu caracterizaria como quase pânico desde o momento em que eu disse as três palavras mágicas: minha bolsa estourou.

Não foi dramático como em filmes ou como esperava. Eu estava no quarto pintado de azul e decorado com estrelas douradas, separando as primeiras roupas que Lissie usaria. Levantei da poltrona e senti algo escorrendo pelas minhas coxas logo depois de uma pressão estranha atingir o meu ventre. Calmamente fui até o berço, apertei o botão da babá eletrônica e disse o que estava acontecendo para qualquer pessoa que estivesse ouvindo. Não sabia onde Liam estava, poderia estar no quarto, na sala, ou no estúdio que ele construiu. Tanto faz, ele fez questão de por uma babá eletrônica em cada cômodo e por isso eu sabia que ele ouviria.

Menos de um minuto depois ele entrou correndo no quarto - correndo mesmo - os olhos castanhos arregalados. Eu ri, esticando o braço para ele me ajudar a ir para o outro cômodo enquanto ele me enchia de perguntas sobre o meu bem-estar.

Mesmo tendo repassado mil vezes o que faríamos quando esse momento chegasse, Liam estava surtando. Ligou para a minha médica que ele havia contratado e trazido para Notting Hill nessa última semana de gestação, ligou para Karen Payne e depois para os meus pais que haviam vindo do Brasil para estarem aqui quando a neta chegasse. Todos eles estavam na sala da nossa casa agora enquanto Liam andava de um lado para outro no banheiro, olhando a médica-parteira loira e as duas enfermeiras me acomodar na banheira cheia de água.

— Eu estou calmo — ele me garantiu, mas a pele do seu rosto estava vermelha, o denunciando.

— Tem certeza que quer ficar aqui? - Minha voz já está saindo ofegante. A dor até o momento estava suportável, efeito da água morna segundo a mulher cheia de certificados que traria meu bebê à vida. - Eu não vou ligar se você esperar lá fora. Vai ter sang...Ouuuuuuuuch.

A dor sobe de repente para um nível estratosférico e explode em cada entranha do meu ser.

— Lua, eu vou ficar! — Liam fica exasperado e preocupado ao mesmo tempo.

Não dava mais para responder, só soltar grunhidos e suspiros porque estava acontecendo. Estava acontecendo.

A médica vai me guiando, dizendo o que eu devo fazer, quanta força eu devo por, como eu devo respirar. Muito bondosa, mas eu estava a xingando por dentro. Eu queria destroçá-la. Eu queria arrancar os olhos dela com as minhas mãos para ela sentir aquela dor insuportável. Em algum momento eu chego à conclusão que seria ali que eu morreria, mas eu não podia morrer, eu tinha que ser forte pela minha Lissie. Eu não podia morrer sem olhar para ela, então eu só respiro fundo várias vezes para juntar coragem e é aí que eu sinto os braços em volta de mim, me segurando pelos ombros carinhosamente. Eles estavam lá desde o começo mas eu não estava prestando atenção já que meus órgãos estavam sendo esmagados, mas agora eu sinto. Eu sinto o perfume dele e seus lábios entre os meus cabelos úmidos. Percebo o corpo dele todo perto de mim e fecho os olhos. Meus dedos agarram a borda de porcelana da banheira e o meu corpo grita chegando ao limite. Mas eu mesma não grito, eu internalizo, tremo e faço de novo e de novo até que a dor me nocauteia e eu desfaleço contra a parede e os braços de Liam. Acho que desmaiei, não escuto nada por um tempo até que ele vem.

Um choro.

É tão baixo e fino mas faz meu corpo inteiro acordar.

O barulho continua e eu abro os olhos ao mesmo tempo em que Liam sussurra para mim com a voz embargada:

Com amor, Liam [L. P.]Onde histórias criam vida. Descubra agora