Hell No!

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Não sei explicar a forma como Liam me olha. Tem um pouco de tudo naquele olhar. Carinho, frustração, ansiedade. Meu rosto também deve estar mostrando tudo isso junto com saudade. Com tudo aquilo acontecendo eu não deixei de sentir falta dele, de acordar e vê-lo pela casa, batucando os dedos em coisas, pensando em músicas, letras e ritmos. Chegar em casa e vê-lo com Lissie, do mesmo jeito que eles estão agora.

Felicity volta a escrever, ignorando a mão de Liam que parou de guiar a dela sobre a folha. Ele está ocupado ou chocado demais em me ver, mas não mais que eu em vê-lo.

— Como... — falo, terminando com o silêncio, mas acabo tossindo para acalmar o meu corpo que ainda estava quente devido ao leve pânico que eu passei minutos atrás por não achar Lissie. — Quando você chegou?

— Uma hora atrás — Liam responde e eu sinto meu corpo se contrair ao ouvir a voz dele. Ele estava realmente ali, na minha frente. — Eu não quis acordar vocês, mas a Lissie despertou então nós saímos do quarto para não te atrapalhar.

— A gente saiu bem devagar — Lissie complementa rindo.

É estranho pensar que eu não ouvi nada daquilo. Lissie com certeza deve ter feito um escândalo ao acordar e ver Liam ao lado dela, mas mesmo assim eu não ouvi.

Fico irritada. Queria que ele tivesse me acordado ou que ele tivesse avisado que estava vindo.

— Papai, me ajuda! — Felicity briga com ele e Liam sorri. — O que vem agora?

— Agora é o L de Lua — Liam diz, me olhando.

Ele está sentado no chão bem próximo à ela, um braço em volta do seu corpo.

Os minutos passam e Liam a ajuda a escrever o resto do que eu acho ser o nome dela. No final, Lissie se inclina na direção do ouvido dele e cochicha alguma coisa, escondendo a boca com a mão para que eu não pudesse ouvir. Ela ri baixinho e olha para mim, envergonhada, bocejando.

— Tudo bem, estrelinha, mas agora você tem que voltar a dormir — Liam diz para ela, se levantando. — É domingo e está muito cedo. Poder dormir é uma das vantagens de ser criança e você está desperdiçando.

— Mas eu não estou com sono — ela diz, mas sua boca se abre novamente em um bocejo preguiçoso e Liam ri. — E eu quero ficar com você, papai. Faz um montão de tempo que você foi cantar.

— Eu vou estar aqui quando você acordar. — Ele a pega no colo e eu, por alguma razão, me sinto uma intrusa na cena. — Agora vamos colocar o pijama de novo, o.k.?

— A mamãe pode vir junto? — Lissie pergunta, arrumando a máscara que cobre o seu rosto.

Encosto-me mais ainda à parede, querendo que ela me engula. Liam se vira para mim e sorri.

— Claro, se ela quiser.

Satisfeita com a resposta, Felicity encosta a cabeça no ombro dele e Liam dá alguns passos na direção do corredor, acariciando a cabeça dela e ainda me olhando.

Nos últimos dias eu me peguei pensando em como agiria quando Liam voltasse dali um mês. Eu me imaginei abordando o assunto da nossa tensão com a maior calma possível, mas agora, olhando para ele sorrindo e com Lissie no colo, perdi a vontade de falar alguma coisa.

Isso não significa que eu fingiria que está tudo bem.

Espero Liam passar por mim, mas ele para na minha frente e pega a minha mão. Meu primeiro instinto é me soltar, porém o calor dos dedos dele me envolve e eu solto o ar aos poucos pela boca. De perto eu vejo como o rosto dele está pálido, os olhos inchados e vermelhos provavelmente de cansaço por ter atravessado o país nas últimas horas.

Com amor, Liam [L. P.]Onde histórias criam vida. Descubra agora