Com amor, Liam [L. P.]

A Heart Full of Love

Não lembro a última vez que eu fui dormir chorando, imagino que tenha sido antes do casamento. Chorei por estar longe de Liam por mais de um mês, chorei por não aguentar mais aquela situação, e provavelmente devo ter chorado por estar sensível demais, sintoma dos dois meses de gravidez.

Noite passada eu chorei porque eu estava com medo de perder o meu marido.

Acordei alguns minutos mais tarde do que o normal, o rosto inchado e o humor ruim. No quarto, Lissie já estava sendo arrumada por Susanne, falando sobre como ela dormiria hoje na casa da 'nana'. Uma vez por mês, Felicity dormia na casa dos avós. Em Londres e não em Wolverhampton, porque eu não deixaria ela dormir tão longe de mim assim.

— A mala de Lissie já está pronta, Senhora Lua. — Eu tentei, mas depois de quatro anos percebi que não iria conseguir fazer Susanne me chamar só de Lua. — A Senhora Karen virá buscá-la.

— Certo. Muito obrigada. — Tento sorrir para a mulher simpática e sempre muito profissional. — Eu vou buscá-la amanhã na casa deles, tire o dia de folga. Vai aproveitar os seus filhos.

Lissie está toda vestida com o uniforme e Susanne a senta na cama para pentear os cabelos castanhos molhados dela.

— Pode deixar que eu faço isso, Susanne.

Ela se retira e Lissie sorri para mim, brincando com o seu ursinho que já estava ficando encardido. Pego a escova e separo o cabelo dela em dois. Sempre que faço isso eu me lembro de mim mesma, sentada na minha cama enquanto minha mãe fazia tranças em mim.

— Mamãe, hoje eu não vou pra aula de dança? — Felicity pergunta, bocejando.

Passo a escovinha em uma das mechas.

Jazz é a única atividade extra que Lissie faz e só o faz porque o pediatra disse que era importante ela fazer alguma coisa. Antes de começar na escolinha Liam e eu sentamos com ela para saber o que ela gostaria de fazer, e ela respondeu que gostaria de dançar. Sabendo disso, eu a levei em várias aulas de dança por uns dias para assistirmos juntas e para ela ver se era isso mesmo o que ela queria. Não a coloquei para fazer mais nada porque ela é uma criança. Com quatro anos ela tem que brincar e correr, não ficar aprendendo francês e esgrima.

— Você vai, meu amor. Vai almoçar com a nana e ela vai te levar para a aula de dança. Depois você vai para casa com ela.

Pego a outra mecha e ela balança as perninhas, abraçando o urso.

— Vou brincar com o vovô e ir ao parquinho.

— Se comporta e obedece eles, tudo bem?

— Eu vou ser boazinha. — Lissie fica quietinha, me deixando pentear o cabelo dela por mais tempo do que realmente necessário. Ela sabe que eu gosto de fazer isso e acho que ela gosta também. — Vou ficar com muita saudade de você, mamãe — ela murmura em português.

Meus olhos, sensíveis pela noite mal dormida, ardem e eu pego uma presilha em forma de estrela para colocar entre os seus fios.

— Eu também vou ficar com muita saudade. Você é tudo pra mim, Felicity.

Prendo a estrela no lugar que ela gosta e a coloco Lissie no meu colo. Agora ela já está completamente arrumada e pronta para a escola, mas eu não quero soltá-la. Ela me olha, os olhinhos bem abertos.

— Que foi, mamãe? Você tá triste?

— Não. — Beijo a bochecha dela. — Só estou pensando em como vai ser quando você crescer.

— Eu vou ser adulta — Lissie diz séria.

— Vai — suspiro, sentindo meus olhos molharem só com o pensamento de Felicity crescendo, indo estudar longe, namorando, casando. — E o que você vai ser quando for adulta?