Maybe This Time

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Passei a última semana vivendo a mesma rotina de sempre, ou pelo menos a mesma rotina dos últimos 18 meses que é o tempo em que Liam, Lissie e eu estávamos em Londres.

Acordar, depois acordar Lissie com um beijo de bom dia, colocá-la no banho e arrumá-la com o uniforme da escola. Susanne poderia fazer tudo aquilo, mas agora que os ensaios da peça eram a tarde eu gostava de cuidar dessa parte. Tomamos café e eu a levo para a escolinha. Fico cinco minutos a beijando e agarrando e a levo até a sala de aula. Sim, todos os dias eu atravesso os corredores até a sala dela, mas é Lissie quem me puxa até lá sempre para me mostrar seus trabalhos de colorir.

A essa altura eu já tenho mensagens do Liam para responder. Ele fazendo mil perguntas sobre como nós estávamos e falando como estava com saudades. Lê-las me fazem sorrir e chorar.

Uma semana se passou e eu já estou morrendo.

Volto para casa e vejo se está tudo em ordem, se preciso ir a algum lugar como mercado, feira ou farmácia. A Sra. Abbey vive dizendo que ela pode fazer as compras para mim e realmente faz quando as coisas ficam loucas demais, mas eu gosto de ter essa obrigação. Quatro anos se passaram e eu ainda não me vejo como uma mulher com casas ou uma família para cuidar. Ainda me enxergo como a mesma garota que chegou a Londres só com vontade de estudar e sem imaginar o que aconteceria.

Em casa, eu respondo meus e-mails e resolvo pendências da produtora. Liam a abriu para poder facilita a prestação de serviço para outros artistas. Eu sou sócia também por insistência dele. Na falta de Liam, as pessoas vêm atrás de mim para dar o aval para projetos, e Liam me mantinha suficiente informada para tanto. Ele até tentava me envolver, mas isso não é para mim.

Falar com os meus pais por Skype também é rotineiro. Íamos para o Brasil no máximo duas vezes por ano e eles vinham quando meu pai tira férias ou conseguia uma folga da polícia ou nas festas de final de ano. O último natal juntou a família do Liam e a minha e eu tive um daqueles momentos em que você olha para sua vida e pensa "Meu Deus, como eu cheguei aqui?".

Seguindo a rotina, depois de falar com os meus pais e almoçar cedo demais com Susanne e a Sra. Abbey, eu sigo para um dos prédios mais famosos de West End, região londrina conhecida pelos seus teatros e atividades artísticas. Susanne é quem busca Lissie na escola e eu tenho que aguentar para vê-la só à noite, momento em que nós brincamos, eu a ajudo com a lição - caderno de caligrafia que ela escreve as letras - jantamos e esperamos Liam ligar como ele vem fazendo nos últimos dias.

No momento eu estou na metade da rotina, subindo de escadas até o quarto andar do edifício Savoy, que tem a aparência antiga e janelas de ferro preto. Por todos os andares que eu passo escuto vozes, música e sapateado. É um local específico para as companhias de teatro ensaiarem. Cada uma alugava um andar e assim todas viviam em harmonia. Nesse exato instante grandes estrelas e nomes do teatro musical poderiam estar ensaiando ao mesmo tempo.

"Comprei outra fantasia de Batman para a Lissie já que ela destruiu a outra no último Halloween. Você acha que ela vai gostar?"

Meu celular apita assim que eu entro na última sala do corredor. Os acordes de "Carrying the Banner" enchem o ambiente e eu vejo meus colegas já no meio do tablado. Todos homens.

Claro que há mulheres na produção. A maior parte das pessoas que não estão no palco, mas que também fazem o show acontecer é mulher, começando pela diretora, Johanne Coxx. A história em si não tem muitas personagens femininas, na verdade sou eu e mais cinco mulheres, sendo que três delas aparecem só uma vez. O resto são homens, garotos, na realidade, fortes e bonitos que dançam e cantam. Uns 20 no mínimo, contando substitutos e atores principais.

Com amor, Liam [L. P.]Onde histórias criam vida. Descubra agora