Com amor, Liam [L. P.]

Back to Before

O cartão dentro do envelope trazia apenas um endereço, e assim que eu bati os olhos na letra de Liam, eu soube sobre que lugar ele estava se referindo. Não tinha como não saber, foi lá que a minha vida em Londres começou.

Passei o resto do ensaio pensando no que estava acontecendo e, acima de tudo, no que Liam estava planejando. A carta que Derrick me entregou foi escrita duas semanas antes da turnê do One Direction começar. Eu me lembro muito bem dos 38 graus de febre de Felicity no dia e de como eu cantei para ela se distrair. Isso quer dizer que, seja qual for o plano de Liam, ele começou a ser formulado a mais de um mês.

Ele não foi específico, mas assim que eu li o endereço eu soube o que tinha que fazer.

— Susanne, você pode ir pra casa na frente. Eu tenho que ir a um lugar antes — digo ao pararmos do lado de fora do estúdio onde o ensaio aconteceu.

— E eu? — Lissie pergunta, já recuperada dos pulos e danças que fez sozinha enquanto nos assistia repassar Newsies inteira.

— Você vem com a mamãe.

Seguro a mão dela e saímos pelo corredor agora cheio de dançarinos e atores cansados.

— A gente vai passear?

Ela ergue os olhos para mim e eu vejo uma ponta de animação no seu rosto.

— Quer ver a escola que a mamãe estudou aqui?

Felicity dá uma risada.

— Mas eu não quero ter aula não, eu já tenho aula em uma escolinha.

Descemos as escadas com Susanne logo atrás. Lissie pula os degraus, se agarrando na minha mão para não cair.

— Tem certeza? É uma escola diferente. Tem aula para dançar e cantar.

A boca dela se abre.

— Eu quero! Pra dançar e cantar igual a você, mamãe.

Sorrio com a agitação de Felicity. Eu sabia que seria difícil ela não ter uma veia artística, crescendo em uma casa onde o pai escreve e produz músicas e a mãe ensaia peças quase que diariamente, mas nunca achei que ela cresceria gostando tanto.

***

Só de parar o carro na frente do prédio do Centro de Artes minha mente foi invadida por lembranças. O primeiro dia que eu entrei ali, por exemplo, nervosa e excitada com a ideia de estar na Inglaterra fazendo o curso dos meus sonhos. Foi nesse mesmo dia que eu conheci Juan sem imaginar que mesmo nos afastando de vez em quando, ele seria um dos meus melhores amigos. Foi nesse prédio que eu conheci Dylan e foi graças ao CdA que eu consegui o primeiro grande papel da minha vida. Elphaba.

Ao entrar, olho para os alunos da tarde que conversam, leem partituras e ensaiam coreografia nos corredores. Tudo me deixa nostálgica. Não entro no CdA desde o último dia de aulas, anos atrás. Depois que as apresentações de Wicked acabaram, tivemos apenas mais algumas aulas que foram mais para despedidas do que para aprendizado. O que tínhamos que aprender já havia sido nos passado e colocado em prática ao encenarmos um dos maiores musicais do mundo.

Felicity fica enlouquecida com tudo, mesmo que ela não esteja vendo nada demais. Ela olha curiosa para todas as pessoas, e eu a entendo. Dentro do CdA a atmosfera é leve e diferente, todo mundo ali dentro emana a mesma emoção e desejo de colocar suas habilidades em prática e conseguir uma oportunidade nessa área tão restrita que é o teatro musical.

No segundo andar, em frente ao estúdio onde minha turma tinha a maioria das aulas, eu encontro a Sra. Higglan, a senhora de óculos e coque na cabeça que nos ensinava técnica de canto e participou da produção do nosso trabalho final. Achei que ela não me reconheceria, mas assim que ela me avistou seus olhos se espreitaram e ela sorriu.