| Felicity |
Dez/2022
— Ah mamãe, não tô vendo nada!
— Como não? Olha ali, perto daquela árvore enorme!
Mamãe abriu mais a janela do quarto azul e apontou, mas tudo o que eu estava vendo era o céu bem escuro com estrelas pequeninhas brilhantes e as árvores do parquinho do bairro.
— Não tem nada ali!
— Não acredito que você não está vendo. Leo, mostra pra ela.
Viro e vejo mamãe levantando Leo que até agora estava brincando com as peças de lego que ele ganhou dos vovôs Marlene e Paulo de aniversário. Mamãe para longe da janela e Leo enfia uma peça azul na boca, falando uma coisa que eu não entendo. Mamãe disse que é língua de bebês e que um dia eu já falei assim também.
Leo já tem um ano e alguns meses e sabe falar mama, papa e Lili que sou eu. No começo não gostei muito daquilo, mas depois achei fofo. Ele também fala totó quando Lyto o lambe.
— Ele também não está vendo nada.
— Claro que está! Mostra para a Lissie o Papai Noel, filho — mamãe pede, o sentando no braço.
Leo olha para ela e ri.
— Papa — ele diz antes de colocar o lego na boca de novo.
— Viu?
Desço chateada do banquinho. Nunca vejo o Papai Noel chegar. Todo o natal quando desço para a sala, os presentes já estão lá e tudo o que eu vejo são as pegadas das suas botas saindo da lareira. Ás vezes eu acho que ele nem existe e quem compra tudo é o papai.
— Ele acha que você está falando do papai.
Mamãe me olha com os lábios apertados. Eu me jogo em uma poltrona e ela se aproxima.
— Fiquem aqui. — Ela coloca Leo nos meus braços e ele começa a choramingar, mas vira o rosto para mim e para.
— Eu não posso ficar com ele sozinha!
Todo mundo sempre falava isso para mim.
— Você já tem quase sete anos, já é uma mocinha! — Mamãe diz sorrindo e sai do quarto, provavelmente para ver se o Papai Noel está em outra casa da rua.
O lego ainda está na mão de Leo, todo sujo de baba. Ele tem só um pouco de cabelo loiro, só que ele está com um gorro de natal na cabeça assim como eu então não dá para ver. Leo ri para mim e bate com o brinquedo no meu rosto.
— Ai, Leo! Para! — Ele abre bem os olhos e fica me olhando de um jeito muito sério. Acho que ele percebeu que me machucou. — Tudo bem, não doeu muito.
Ele responde qualquer coisa naquela língua de bebês. Queria poder entender. Se um dia eu também falei daquele jeito porque eu não entendo nada?
Pego a fraldinha e passo na boca nele. Leo faz uma careta.
— Lili — ele solta o lego e fecha as mãozinhas com força. Ele faz isso quando está com raiva ou quando está sujando a fralda.
— Felicity — respondo. Estava na hora de ele aprender.
— Lili — Leo repete se inclinando para baixo. Eu o seguro melhor antes que ele caia e mamãe brigue comigo.
— Lissie — falo, olhando bem no rosto dele.
— Lili, Lili.
— Ah, tá bom vai.
Leo tomba em cima de mim e fica mexendo no meu cabelo. A janela está aberta e eu fico tentando ver se o Papai Noel ainda vai passar, mas continuo sem ver nada. Talvez ele esteja atrasado. Começa a ventar um pouco e Leo esfrega as mãos nos olhos. Eu o cubro com a fralda para que ele não fique com frio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, Liam [L. P.]
FanfictionEm um mundo ideal, toda história tem um final feliz. No mundo real, no entanto, nem todas são assim. Isso não é algo necessariamente ruim. Algumas histórias, por exemplo, vivem de pausas e recomeços, outras terminam de um jeito triste ou apenas expl...