The Past Is Another Land

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— Que bagunça é essa aqui?

Terça-feira de manhã decido que preciso falar com alguém sobre o que está acontecendo. Cartas surgindo do nada, Liam me fazendo ir em lugares que eu não vou a anos, Liam agindo estranho. Sei que Polly vai me julgar e falar tudo o que eu já sabia – que eu deveria ser menos desconfiada, por exemplo – mas mesmo assim vou para o Soho logo depois de deixar Lissie na escola.

Assim que entrei no apartamento percebi que alguma coisa estava acontecendo. Poliana não era a rainha da organização e muito menos Juan, porém, nunca havia visto aquele lugar tão desarrumado. Caixas de papelão e pedaços de plástico-bolha estão espalhados pela sala de estar onde Juan anda de um lado para outro declamando falas de Macbeth.

— É a sua prima se desfazendo das coisas dela.

— Se desfazendo? — Olho para os lados, procurando Polly, mas tudo o que eu vejo são caixas. — Como assim?

Juan para de andar e dobra o roteiro que estava lendo.

— Brasil, lembra?

— O que? — Engasgo com o ar.

Poliana aparece na sala com o cabelo ruivo molhado e o rosto limpo. Ela já está vestindo a roupa que costumar usar para ir para o restaurante: um conjunto de blazer, camisa branca, calça jeans escura e um salto fino.

Ela não sabia que eu estava indo vê-la, não a avisei. E agora olhando para seus olhos verdes surpresos, acho que ela teria me impedindo de ir para que eu não visse o mar de coisas empacotadas.

Sou uma péssima pessoa. Esqueci completamente sobre Polly querer voltar para o Brasil e agora ela está com metade das coisas dela enfiadas em caixas. Eu a lotei de reclamações sobre a minha vida e fui até a casa dela para reclamar mais, sendo que eu deveria estar ouvindo o que ela tem a dizer.

— Você vai mesmo embora? — Não escondo o tremor da minha voz ao falar.

— Sim, só não sei quando ainda. — Ela dá de ombros e passa os dedos pelos cabelos. — Mas decidi começar a me livrar de algumas coisas que só fazem volume.

— Polly, pensa direito sobre isso.

— Já pensei, Lua. Vai ser ótimo!

Ela dá o sorriso mais falso que eu já vi e eu olho para Juan, pedindo ajuda em silêncio.

— Eu já falei tudo o que você possa imaginar, nada deu certo. Essa daí é mais cabeça dura que você. Deve ser de família.

— É, é de família mesmo — Poliana bufa. — Assim como a habilidade de arranjar pelo em ovo. — Juan franze a testa, completamente confuso, mas Poliana está olhando para mim agora. — O que foi dessa vez?

— Nada — respondo já arrependida de ter ido. — Vim fazer uma visita.

Mordo os lábios. Como que eu vou criar uma criança sendo que eu só penso em mim mesma? Liam é muito mais altruísta do que eu. Deve ser com ele que Felicity aprender a pensar nos outros e não só em si.

— E as coisas entre você e o astro pop internacional projeto de modelo da Calvin Klein? — Juan pergunta.

— Estão o.k. — digo com um sorriso bem mais sincero do que o de Poliana. — Nós nos resolvemos.

Polly me analisa sem acreditar.

— Sério? E quando foi isso?

— Ontem — minto. — Decidi que não vou ficar me preocupando. Confio em Liam.

Essa parte é verdade, apesar do contexto não ser. Eu sempre confiei em Liam e, mesmo que ainda esteja irritada e esperando explicações melhores sobre aquela mulher, eu continuo confiando. Tive minhas dúvidas nas últimas semanas, mas aquelas cartas estavam me lembrando de que eu não fiquei com Liam por ele ser um dos meus ídolos. Eu fiquei com ele por que eu o amo.

Com amor, Liam [L. P.]Onde histórias criam vida. Descubra agora