22. A.M

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4:00am.

Pior do que acordar no meio da madrugada, é acordar e não conseguir dormir mais, e é exatamente isso que está acontecendo agora. Talvez seja porque daqui há dois dias é aniversário do Louis e tudo está muito bem organizado, tão organizado que a gente pensa que alguma coisa vai sair dos trilhos.

Depois de muito me mexer e ouvir Louis resmungar inúmeras vezes, levanto devagar da cama. Louis não acorda, mas se vira para o lado e abraça o meu travesseiro.

Desço as escadas e vou até a cozinha preparar um chá. Pela hora eu não conseguirei dormir mais, então preciso de algo que faça ficar acordado pelo resto do dia e não corra o risco de perder meu emprego por ter dormido no meio de uma operação. É quase impossível dormir no meio de uma operação policial, mas eu sou o rei da preguiça então prefiro prevenir do que remediar.

As pessoas costumam ter o seu lugar favorito no mundo, seja em casa, em algum outro lugar significativo ou até mesmo em alguém. Aquele lugar que traz paz, que transmite toda a positividade necessária num momento conflituoso, que faz você pensar na sua vida e esquecer o mundo momentaneamente.

Quando eu era pequeno, esse lugar costumava ser o meu esconderijo secreto na casa da minha mãe em Holmes Chapel, o mesmo que eu usava pra me esconder dos meus primos. Esse lugar continuou sendo o meu preferido até a adolescência, quando eu comecei a ir pra lá compor. Eu compus algumas músicas, mas elas ficaram apenas nos papéis.

Depois que conheci Louis, o seu abraço é o meu melhor lugar no mundo. Pode soar estranho que alguém tão pequeno e aparentemente frágil tenha o poder de confortar, mas o Louis tem esse poder e tem em dobro. Parece que Deus quando o criou, compensou seu meio metro colocando todo o conforto do mundo no seu abraço.

O apito da chaleira me trouxe a realidade. Termino de preparar meu chá e caminho até o lado de fora da casa, com a caneca na mão, tentando não tropeçar em nada já que não acendi nenhuma luz e a casa inteira está escura. Deixo a porta aberta e sento nos degraus da entrada, encosto minhas costas na parede e a minha caneca ao meu lado.

O silêncio e a escuridão da rua dão medo. É engraçado, mas é justamente a melhor hora para buscar a tranquilidade: quando a cidade está dormindo e você não. Beberico um pouco do chá e sorrio ao lembrar que essa é a bebida preferida do Louis. Sinto o líquido quente descer pela minha garganta ajudando a aquecer o meu corpo. Junto com o calor,um vento rígido surge e estremeço com o choque que meu corpo recebe.

Lembro do homem dormindo na minha cama, um nó se forma na minha garganta e meu peito aperta.

Aquela sensação de novo.

A mesma que eu senti quando a casa de Louis foi invadida.

A mesma que eu tive no dia em que meu pai foi embora quando eu era pequeno.

A diferença é que dessa vez é bem mais forte, a sensação é bem mais agoniante.

Fecho meus olhos e respiro fundo.

Todos os momentos que tive com Louis vêm a minha mente como um filme, sendo inevitável não sorrir. Nossa história tem tão pouco tempo,mas é tudo tão intenso e verdadeiro...

Eu o amo tanto.

Dói quando penso na possibilidade de alguém encostar um dedo nele. Dói quando penso na possibilidade de perde-lo.

Agarro meus joelhos contra o peito e enterro minha cabeça entre eles. Concentro a minha mente apenas na minha respiração. Dizem que quando estamos ansiosos demais devemos respirar fundo e concentrar nossa atenção e energia na nossa respiração, e esquecer o que nos aflige.

-Harry?-uma voz doce e sonolenta corta o silêncio.

Quando olhei pro lado, tive a visão do paraíso: Louis com o cabelo bagunçado,os olhos inchados,a cara amassada e marcada pelo travesseiro, com o meu casaco alcançando metade das suas coxas.Por Deus, como consegue ser tão lindo?

Sorrio e ele se aproxima, gesticulando pra que eu desse espaço pra ele se sentar. Ele se ajeita a onde eu estava e abre os braços pra que eu me aconchegue ali.

-Vem cá...-ele diz e eu me ajeito nos seus braços-Eu acordei e não te vi ao meu lado-ele sussurra quando encosto no seu peitoral.

-Eu perdi o sono.-abraço o seu corpo e apoio minha cabeça no seu peito.

-Então vamos perder o sono juntos.-ele diz e eu sorrio.

Durante 30 minutos aproveitamos a típica calmaria da madrugada. Não se ouvia nada além das nossas respirações e dos meus suspiros, que vez ou outra se manifestava. Eu estava quase dormindo, quando senti uma claridade incomodar minhas pálpebras. Abri meus olhos devagar e vi o sol apontando do outro lado da rua, por detrás das casas.

-Lindo né?-Louis pergunta-Quando eu era pequeno gostava de subir no telhado pra ver o nascer do sol quando ia pra casa dos meus avós. Por muito tempo lá foi o melhor lugar no mundo pra mim.-ele fala como se tivesse lido meus pensamentos e desvendado-os.

-Por que não é mais?-pergunto.

-Desde que eles faleceram,eu não fui mais lá...-ele diz e suspira. Meu peito volta a ficar apertado, como se isso fosse um aviso de que alguma coisa vai acontecer e que eu preciso me preparar. Espanto os pensamentos e coloco minha atenção totalmente em Louis.

-E onde é o seu melhor lugar do mundo agora?-meus olhos encontram os dele, ele sorri e arruma alguns fios do meu cabelo atrás da minha orelha.

-Em qualquer lugar que você esteja.-ele beija minha testa e sorri contra ela- Não importa o lugar, desde que você esteja comigo.


N/A: 1.3k <3 obrigada monamours! Leiam sempre as notas finais, os avisos importantes serão feitos através daqui. Votem e comentem, sempre leio os comentários. xx



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