Stephen despertou sentindo gosto de sangue.
— Já era hora. — disse o Mestre, sentado em uma poltrona ao lado de uma janela. — Há algumas regras que precisa entender.
— Onde... — Stephen tinha a cabeça dolorida e os olhos embaçados. — Onde estamos?
— Não importa. Deve estar com fome. — jogou um pequeno saco com alguns grãos. — Coma.
Stephen comeu. Tinha gosto de cevada.
Quando olhou para o canto da sala, o pequeno lorde se sobressaltou.
— Quem é esse?
Havia um garoto jogado no canto da sala, com os braços e pernas amarrados e a boca amordaçada. O Mestre olhou para o rapaz e abriu um sorriso.
— Ele vai matar você hoje.
Stephen se afastou do Mestre em um pulo assustado.
— Me... Matar? — ele sussurrou.
— Está com medo? — perguntou o kravani. — O corajoso Loren, aquele que faria de tudo para viver eternamente, está com medo? — puxou uma adaga de trás do pescoço e tocou o peito do pequeno senhor com sua ponta. — Responda agora, seu pedaço de merda. Você está com medo?
Um kravani precisa conhecer a morte melhor que conhece a si mesmo, ele lembrou. Sabia que o Mestre o mataria sem hesitar caso fosse necessário. Ele de fato sentia medo, mas sabia que devia lutar contra isso.
— Sim — disse, por fim. — Estou com medo. Mas o medo nós esprememos, assim como um cravo.
O Mestre sorriu. Foi até o garoto no canto e retirou a mordaça. O rapaz gritou, pediu por misericórdia, chorou, chorou e chorou novamente.
— Cale a boca, covarde. — o kravani disse ao garoto amarrado. — Vou desamarrar você agora. Saiba que matarei você em menos de um segundo se você tentar alguma gracinha.
— Eu não quero morrer. — o garoto choramingou.
— Ninguém vai lhe matar. — o Mestre disse. — Você é quem vai. — e apontou para Stephen. — Consegue fazer isso, rapaz? Cortarei suas amarras, e assim que eu ordenar você deve cravar essa adaga no peito do Lorde Loren ali. Fará isso?
— Eu não... — o rapaz hesitou. — Eu não sei. Ele...
— Ele é um nobre, garoto. — o Mestre sussurrou. — A família dele pisa em pessoas como você, lavradores e carpinteiros. — a adaga agora estava nos peitos do garoto. — Ou você o mata, ou eu mato você.
O rapaz assentiu, relutante e assustado demais, e o mestre começou a cortar suas amarras.
— E se der errado? — Stephen disse. — E se eu simplesmente morrer?
— Você irá morrer, pequeno senhor. — o Mestre sorriu. — Nosso Edmund aqui lhe matará.
Quando o rapaz finalmente se soltou das amarras, Stephen sentiu um arrepio na nuca. Irei morrer, pensou. É seu sonho, seu imbecil. Por que tem tanto medo?
O Mestre se aproximou.
— Está preparado?
Não.
— Sim, Mestre.
O kravani retirou de dentro de seu manto uma tira vermelha fina e a amarrou no pulso de Stephen. Vermelho, o pequeno lorde refletiu. A cor da morte.
— Para que o primeiro ritual seja bem sucedido é preciso que o iniciado esteja vestindo o Vermelho. — disse o Mestre. — Seja uma pintura no corpo, um manto, ou um pequeno pedaço de pano preso ao pulso. — aproximou a boca do ouvido de Stephen. — Sem o Vermelho, sua vida terminaria agora.
Stephen não entendeu.
— Mas eu morrerei. Minha vida acabará agora.
O outro sorriu.
— Stephen Loren morrerá agora — o Mestre tinha os olhos brilhantes como uma lua cheia. — Mas você... Você é mais que o filho de um Lorde. Você é mais que um Loren. Você é mais que carne. — o Mestre ficou mais sério. — Hora de dar adeus a Stephen.
Adeus, ele pensou.
Edmund se aproximou, seus olhos em lágrimas e as mãos trêmulas.
Ele é medroso demais.
— Mate-me! — Stephen gritou. — Mate-me ou morra, seu pedaço de merda!
O olhar do rapaz se transformou de medo à raiva em fração de segundos. Ele apressou o passo e Stephen fechou os olhos. Até que sentiu uma pontada em seu peito, a lâmina cortando sua carne e penetrando em seu corpo. Caiu sobre os joelhos, sangrando e arquejando, esforçando para não gritar. Abriu os olhos, mas tudo que via era a morte. Sentiu gosto de morango na boca, e isso lhe fez sorrir.
— Sortus Morthi —Stephen disse antes de morrer.
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O Bardo na Taverna
FantasyUma taverna, um bardo e um assassino com sede de sangue. Esse é o cenário inicial desse conto cheio de reviravoltas e personagens carismáticos. Sente, peça uma cerveja e conheça a história de Lewrence de Pontavelha, um cantor que precisa fazer de tu...