Capítulo 9

61 19 2
                                    

Dias, talvez meses, se passaram, obrigando Harold a implorar por misericórdia. Eles sabem que não podem me matar, pensou. Vão me deixar morrer de fome e sede. O Mestre permanecia em seu canto, calado e sombrio, como sempre fora. Mas dessa vez parecia mais vulnerável e humano.

—O que houve? — Harold perguntara quando os guardas os deixaram a sós. — Isso faz parte de algum plano?

Mas Braken não dissera nada, mantendo um olhar tristonho para o alto, como se as palavras pudessem acelerar sua morte.

Toda vez que dormia, Harold despertava com um guarda batendo nas grades da cela com um pedaço de ferro. Não querem que eu durma. Querem me torturar, malditos. De vez em quando levavam dois pães mofados e água suja para os presos, tratando-os como lixo. Eles não conseguiam comer tudo, pois o gosto das comidas que traziam era sempre desconfiável.

Havia uma janela minúscula em uma das paredes, tão alta que seria necessário subir nas costas de alguém para poder ver além dela. Era para lá que o Mestre olhava incansavelmente. De vez em quando era possível ver a lua lá longe, ou os pingos de chuva, ou o sol... Já faz tempo que não sinto o sol em meu corpo. Mas esses pensamentos tinham que ser evitados. Ele não podia sentir falta da vida que tinha. Havia ido muito longe para voltar atrás.

Após muitos dias sem expressão alguma, o Mestre sorriu para a janela. Havia uma luz que brilhava sobre a escuridão, uma luz de fogo.

Alguém está chegando à cidade.

Minutos depois Harold ouviu o som de cascos e gritos de ordem. Em pouco tempo uma batalha estava ocorrendo em Gareen.

Os olhos do Mestre brilhavam, como se esperasse algo. Harold se aproximou enquanto o som de metal beijando metal ecoava lá de cima.

— O que está havendo?

— Nossa ajuda chegou. — os olhos cinzentos do Mestre por um instantes brilharam azuis. — O que mais poderia ser?

— Ajuda? — o coração de Harold quase pulou do peito.

Em questão de minutos, um grupo de soldados de Pontavelha adentrou os corredores da masmorra, derrubando todos que ficaram em seu caminho. Um comandante estava segurando Dixon Blakwand, os olhos em fúria. O homem em armadura obrigou o alquimista a abrir as celas.

— Senhor Braken — o soldado falou. — Assim como ordenou, estou aqui. Uma semana se passou desde que deixou Pontavelha. Temi por sua segurança. E parece que temi corretamente. Quem foi o responsável por isso? Foi esse alquimista?

— Não, capitão. — Braken falou, afastando-se. — O responsável foi este homem, o barão de Gareen, Harold Spenzer. E eu o quero morto!

O comandante desembainhou sua espada.

— Então ele morrerá agora.

— Não! — Braken gritou e entregou sua lâmina para Dixon Blakwand. O homem tinha o medo estampado no rosto. — Acho que devemos permitir que nosso amigo aqui faça o serviço.

— Senhor? — o alquimista tremia enquanto pegava a adaga.

O Mestre sorriu.

— Faça isso, Dixon, e assim uniremos nossas forças.

Ele está hipnotizando o homem, Harold percebeu. Além de ser um kravani, o Mestre é um hipnotizador.

Dixon Blakwand segurou a faca mais firmemente, com os olhos estáticos em direção a Harold. Sortus Morthi, como sempre foi o que ele pensou antes que a morte lhe beijasse.

Dessa vez não houve desmaio ou tontura. Em fração de segundos ele havia deixado de ser o velho Harold Spenzer e se tornado o gordo alquimista Dixon Blakwand. Olhou para a adaga em sua mão e sorriu, vendo o corpo de Harold estirado no chão úmido da masmorra.

— Então, Braken — disse o alquimista. —, acho que devemos agir o mais rápido possível.

— Concordo plenamente. — o Mestre disse.

O Bardo na TavernaOnde histórias criam vida. Descubra agora